Voar mono ou bimotor?

Com os avanços de performance de aeronaves hoje em dia, tem ficado cada vez mais comum vermos aeronaves com porte de multimotores, operando com somente um motor. Mas como isso é possível? Para a teoria de voo, o que faz o avião voar bem não é a motorização, e sim a aerodinâmica nele empregada. Dessa forma, inovações estruturais e tecnológicas vêm trazendo a chance de que o trabalho antes suportado somente por aeronaves com três motores seja feito com somente dois, e o de aeronaves bimotoras fosse também reduzido e suportado por um único motor tracionando a fuselagem. Em relação à eficiência e ao consumo, não há o que se discutir. Menos motores – ou mesmo motores menores e mais potentes – reduzem muito os fatores indesejáveis. Mas existe uma questão muito mistificada que gira em torno da segurança: até onde ter um motor a mais vai fazer a diferença numa pane real?

É sobre isso que que os convido a lerem durante esta semana. Vamos entender até que ponto ter um motor a mais na sua aeronave pode levá-lo a mudar a sorte frente a uma emergência, durante qualquer estágio do voo. Veremos como a aerodinâmica do avião reage a essa perda, e avaliaremos resumidamente os procedimentos que um piloto MLTE precisa fazer para tentar manter o voo estável.

Há alguns dias, uma aeronave multimotora caiu no sudoeste do Pará, após supostamente ter pedido um motor e estar em condições climáticas adversas. A aeronave em questão era um modelo conhecido por possuir grande potência em cada motor, cada um com 300 hp. Teoricamente, era capaz de manter a aeronave de razoável performance voando por um longo tempo em baixa altitude. Como pudemos ver nesse caso e em vários outros, não foi bem isso que aconteceu.

Há uma anedota que diz: No caso de um avião bimotor perder um motor, o motor remanescente servirá apenas para levar o avião até o local do acidente. Acredito que o mercado hoje apresenta modelos de performances tão variadas, que é quase impossível ter uma regra geral sobre o comportamento de determinado tipo de aeronave. A prática difere muito do que por vezes é dito no manual. Então, ao contrário de pensar uma regra geral, o melhor é entender o comportamento dos modelos mais comuns voados no Brasil, adaptados ao clima e relevo do mesmo. É do nosso conhecimento que quase todas as aeronaves são testadas e seus manuais de operação feitos para condições aquém das encontradas no nosso país. Assim, tudo tem que ser visto por uma ótica diferente, e adequada às ferramentas que de fato temos ou não aqui no Brasil. Isso também vai influenciar fortemente a operação de aviões com perda do motor crítico, sem mínimos de operação e voando mono, quando multi, em regiões adversas.

Eduardo Mateus Nobrega
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