Olá!
Eu sou o Carlos Eduardo Damasceno e estamos começando nossa coluna de Formação de Planador aqui, no Canal Piloto!
Tenho 17 anos, sou nascido na cidade de Jundiaí – SP onde moro até hoje. Como todos aqui, gosto muito de aviação, principalmente de grande porte, que é aonde desejo chegar um dia. Como qualquer criança, sempre gostei de aviões, que foi o que percebi durante uma viagem em família no ano de 2007. Nessa oportunidade visitei o cockpit, vesti o cap, sentei no assento do Comandante e percebi que queria isso para o resto da vida!
Vamos à nossa coluna?
Num belo sábado do mês de Junho de 2012, já com meu Certificado Médico Aeronáutico (CMA) de 2ª classe, fui com meu Pai ao Aeroclube Politécnico de Planadores (APP) em Jundiaí, para finalmente fazer minha matrícula no curso de Piloto de Planador. Já havia visitado o lugar três vezes, mas somente para obter informações. Decidi pegar todo o material para estudar durante a semana, e voar no próximo fim de semana. Esse material é composto por um manual da aeronave, manual de manobras, manual de térmica, dados do aeroporto sede (SBJD – Jundiaí), caderneta individual de voo (CIV), caderneta de manobras e o “Livro do Batata”, que fala sobre a teoria de voo de Planador.
Depois de uma semana de estudos, no domingo (dia que podia ir naquele fim de semana) às 8 da manhã, me apresentei no aeroclube, porém como não havia sido adicionado à lista de e-mail, não sabia que a operação desse dia seria em Rio Claro. Como não tinha carona para ir e queria fazer meu primeiro voo na minha cidade, decidi pegar mais uma semana para estudar. Apesar disso o meu dia não foi em vão, pois logo ao sair do aeroclube de planadores, dei uma passada no aeroclube de Jundiaí, para ver se encontrava um amigo da família que já foi instrutor lá e hoje é copiloto em um taxi aéreo, aqui em Jundiaí. Tive sorte e ele estava lá, me levou para um passeio dentro das dependências do aeroclube, onde vi várias aeronaves hangaradas, mas que não podem ser fotografadas. Fiquei quase 3 horas lá só vendo as partidas, chegadas e aprendendo um pouco com esse amigo. Valeu muito a pena!
Paulistinha do aeroclube de Jundiaí durante a visita.
No domingo seguinte me apresentei no mesmo horário, mas ainda não havia sido adicionado na lista de e-mail por causa de problemas técnicos. Dessa vez não soube da reunião da diretoria que iria ocorre naquela manhã. Voltei pra casa e assim que a reunião acabou, às 12h, recebi uma ligação dizendo que haveria operação naquele dia, fui correndo para o aeroporto. Chegando lá fui informado de que o Controle de Aproximação de São Paulo (APP-SP) havia fechado as ‘áreas de vela’, por causa do tráfego que pousava na Pista 33 de Viracopos (SBKP), cuja rota passa pelas velas. Pelo menos dessa vez o instrutor responsável pela operação daquele dia me deixou entrar no Puchacz, que é a aeronave em que farei a instrução e me apresentou todos os comandos, o que cada alavanca fazia e os instrumentos. Foi meu Groud School (apresentação) da aeronave.
No sábado (09/07) depois de uma ótima noite de sono, às 08h15min liguei no aeroclube para saber se haveria operação, e por conta de um vento forte ainda não seria possível, mas que eu receberia uma ligação assim que a operação fosse confirmada. Às 11h30min recebi uma ligação de um número inexistente no meu celular, atendi e era do APP confirmando, não estava acreditando que eu iria fazer meu primeiro voo!
Chamei meu Pai (motorista do dia) e fui correndo ao aeroporto, da minha casa até lá, demora cerca de quinze minutos. Chegando ao aeródromo, todos já haviam ido para a cabeceira, e eu tive que aguardar o buggy vir me buscar. A bordo dele estava um instrutor muito antigo, com mais de 1000 horas de instrução (eu só fui saber disso depois), mas mesmo assim a vergonha bateu em mim por ter chegado atrasado.
Já na cabeceira, fui apresentado à todos e avisado de que o primeiro voo já havia decolado, nesse voo estava 1 instrutor e 1 aluno. Em solo: eu, dois instrutores e um aluno em fase de recheque, que seria o segundo a voar, mas como ex-comandante de linha aérea, muito gentil e humilde, ele me passou a vez. O PT-PZA pousou e logo em seguida, o rebocador PP-HRS.
Quando o PZA chegou à cabeceira, eu já entrei nele para passar os cintos, e fazer o cheque interno, junto com o aluno que havia acabado de pousar. Como o meu instrutor para o voo era muito calmo, já sabia desde o começo que estava em boas mãos. Ele embarcou e aguardamos o rebocador ser autorizado a ingressar na pista, nós estávamos na área lateral da cabeceira.
Após o ingresso do rebocador, o cabo de reboque foi conectado e fomos autorizados a decolar. Ao meu sinal de pronto, um aluno levantou nossa asa e esse fez os sinais para que o rebocador pudesse decolar, logo fomos puxados e rapidamente saimos do solo, aguardando o PP-HRS fazer o mesmo. Estávamos partindo da pista 18, e após a decolagem, fizemos curva à esquerda para pousar na grama que tem no lado ‘E’ da pista em caso de emergência. Após passar a cabeceira oposta, curvamos à direita e várias curvas se seguiram até cerca de 800 metros.
Durante o reboque, o instrutor me mostrou o efeito dos comandos, e que para um reboque perfeito devemos ter a asa do rebocador na linha do horizonte, e que nas curvas sempre devemos colocar o nariz na asa de fora da curva (“metralhar” a asa de fora), além de que a corda nunca pode ficar curva, sempre esticada.
Minha primeira Decolagem, créditos ao papai coruja!
Chegando à altitude de desligamento, verificamos frente livre, esquerda livre, corda esticada e aguardamos o sinal do rebocador (ele balança as asas para nos desligarmos). Recebido o sinal, puxamos o cabo de deligamento, e como padrão na APP, fizemos curva à esquerda e o HRS à direita.
Estavamos planando! O silêncio reinou dentro da cabine e o intrutor me falou um pouco sobre o barbantinho (um fio de lã que fica preso no canopy, e que sempre que ele estiver esticado, nos mostra que estamos em um voo coordenado), me mostrou como podemos corrigi-lo (o pedal puxa o barbantinho e o aileron o acompanha, assim podemos centralizá-lo). Fiquei sabendo dos limites horizontais para planadores nas proximidades, que são a pista de Jundiaí e a Rodovia Dom Gabriel que liga Jundiaí à Itupeva, além dos limites verticais que nos foi autorizado pelo APP-SP que naquele dia que era de 900 metros acima do solo.
Fomos atrás de uma térmica, que haviamos passado perto da fábrica de Coca-Cola, subimos um pouco nela, mas nada demais. Logo fomos na proa da torre de controle, e fizemos curva de espera, à esquerda sempre olhando a biruta e atento aos nossos limites horizontais.
– Torre Jundiaí, planador PT-PZA efetuando curva de espera a dois minutos do ingresso na perna do vento.
– Ciente PT-PZA, reporte ingressando.
– Ciente.
Vale lembrar que o microfone do meu instrutor não estava funcionando, nós estávamos com o rádio HT (rádio transmissor portátil) a bordo, mas para eu treinar na fonia ele me pediu que falasse com a Torre do meu microfone. Obviamente que dei uma gaguejada, mas ela me entendeu e conseguimos manter contato.
– Torre Jundiaí, PZA ingressando na perna do vento.
– Ciente PZA, autorizado pouso pista 18.
– Ciente, autorizado pouso PT-PZA.
O pouso já estava autorizado, então fizemos uma perna do vento um pouco longa, para que todos os príncipios de circuito de tráfego pudessem ser mostrados. Se fizéssemos muito curta, fariamos um ingresso na reta final em forma de gota, mas não era o objetivo, pois iriamos treinar o ingresso retangular. Então ingressamos na perna base e após isso, perna final.
Começamos a nossa aproximação muito alto, então foi necessário abrir os freios aerodinâmicos totalmente, a aeronave afundou muito, pois ganhamos muito arrasto nesse procedimento e nossa velocidade caiu rapidamente. Nessa situação devemos picar (abaixar o nariz) da aeronave para manter cerca de 110 km/h. Em uma atitude coordenada de nariz e freio aerodinâmico, mantivemos a velocidade e tocamos bem no começo da pista.
Após o pouso soltamos os cintos e saímos da aeronave para retirá-la da pista. A Tobata (mistura de trator e moto) nos aguardava para ajudar no transporte até a cabeceira. Lá o próximo aluno embarcaria com o mesmo instrutor.
Depois que eles pousaram, guardamos o Puchacz PT-PZA no hangar, e fomos para o de-briefing, onde foi dada uma palestra de segurança de voo, falando sobre stall em curva, e peso e balanceamento. Depois falamos sobre a operação, como foram os voo, cuidados a serem tomados, solicitações de manutenção e procedimentos.
O instrutor me chamou para preencher minha caderneta de manobras, e avaliar minha aula. Ele me disse que estava muito bem, apto à segunda série, mas como era meu primeiro voo, ele queria garantir meus conhecimentos, e pediu para eu repetir a série, só para não ter erro. Agradeci, me despedi de todos, e voltei pra casa muito feliz pelo meu primeiro voo. Mas principalmente pelos elogios que recebi. Totalizamos 30 minutos de voo.
Essa foi nossa primeira aula, aprendemos os princípios básicos de voo, voo em reboque, curvas coordenadas e de pequena inclinação, um pouco de fonia e um pouco de freios aerodinâmicos.
Espero que tenham gostado do relato e acompanhem essa coluna.
Um abraço!
Carlos Eduardo Damasceno
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