Um dos resgates aéreos mais dramáticos de São Paulo

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Em um belo dia de sol, resolvi aproveitar para visitar a cobertura de alguns edifícios históricos do centro de São Paulo. Pude avistar dois edifícios que acabaram entrando para a história da cidade, da forma mais triste possível: o Ed. Praça da Bandeira (antigo Ed. Joelma), e o Ed. Andraus.

Ambos infelizmente são lembrados de uma forma triste para os residentes mais antigos da região do Centro da Capital. No dia 24 de fevereiro de 1972, o majestoso Ed. Andraus foi palco de um enorme incêndio, deixando 16 mortos e 330 feridos.

Antigamente, a maioria dos grandes edifícios de São Paulo não contava com sistemas de combate ao incêndio ou hidrantes, muito menos com escadas de incêndio ou extintores pelos corredores. Por conta disso, o fogo começou a subir pelos andares, e como nós sabemos, a reação em cadeia é mais traiçoeira do que o próprio incêndio em si.

Devido ao calor que se instalava a cada andar, a pressão interna acabava arrebentando as janelas, tornando-as uma via de acesso ao oxigênio, fazendo com que a combustão fosse quase instantânea. Logo, quase todo o edifício estava tomado pelo fogo.

Por conta disso, as pessoas foram forçadas a subir até a extensa cobertura, fazendo com que ficassem encurraladas lá em cima. Cerca de 40 minutos após o início do incêndio, o Comandante Olendino Francisco de Souza, do Serviço de Salvamento Aéreo (SSA), foi convocado para participar do resgate com um Bell 204B, acompanhado do Cel. Gilson Rosemberg, da FAB, a bordo de um Bell UH-1 Huey.

Por causa do calor, da fumaça e da pressão gerada pelo incêndio, os helicópteros balançavam muito durante a aproximação com a cobertura do edifício. Souza teve muito receio ao apoiar o peso de seu helicóptero no pequeno heliponto, já que este foi feito para aeronaves menores.

Para evitar problemas maiores, Souza manteve seu helicóptero com uma potência suficiente para que ele pudesse se apoiar ao heliponto, mas sem liberar todo o peso. Com o auxílio do Cel. Gilson, as pessoas foram embarcadas com segurança e deixadas no Aeroporto de Congonhas.

Por conta das pessoas feridas por queimaduras ou intoxicadas, o DAC achou por bem fechar o aeroporto, para que o resgate pudesse ser executado com mais agilidade. Porém, o maior dos problemas para Souza, Gilson e outros pilotos que se voluntariaram era a alta temperatura no local. Esta fazia a temperatura do motor subir rapidamente, fazendo com que o helicóptero tivesse uma grande perda na potência.

Logo a quantidade de helicópteros que estavam sobrevoando o local do incêndio era gigantesca, o que tornava o espaço aéreo perigoso para todos os pilotos e também para os que estavam em terra. Todos tentaram ajudar como puderam. Os pequenos helicópteros resgatavam pelo menos uma ou duas pessoas, mas não deixaram de ser grandes heróis.

Souza, que estava comandando um helicóptero maior, conseguiu resgatar mais de 250 sobreviventes do topo do edifício, realizando mais de 32 viagens de ida e volta do Andraus até Congonhas.

Completamente exausto, deitou-se na pista, ao lado do helicóptero, e adormeceu profundamente. Acordou horas depois, cercado de enfermeiros e médicos, no ambulatório do aeroporto. Souza receberia diversas homenagens e condecorações das autoridades, depois do incêndio.

Comparado ao Ed. Joelma, o Andraus teve um pequeno número de vítimas fatais, graças ao emprego dos helicópteros durante os resgates. No incêndio do Joelma, pela falta de estrutura para suportar um heliponto em seu terraço, 191 pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas.

Hoje, o Ed. Andraus é um dos edifícios mais seguros de São Paulo, juntamente com o Ed. Pça da Bandeira. Ambos funcionam normalmente com a mesma função de antes, ocupados por escritórios e repartições públicas. No entanto, desde o incêndio, ninguém foi responsabilizado.

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Andrews Claudino