Apesar da arte de voar haver nascido de eventos ocorridos nos Estados Unidos e na França, conforme a conhecida polêmica envolvendo os irmãos Wright e Santos Dumont, muito do que conhecemos da aviação dos dias atuais deve-se a contribuições portuguesas. Exímios navegadores por natureza, os portugueses foram os pioneiros em lançar-se ao mar durante a Era dos Descobrimentos, desbravando o mundo através dos oceanos. A mítica Escola de Navegação de Sagres – não uma instituição de ensino propriamente dita, mas um local de encontro de mareantes e cientistas – formou grandes navegadores como Cristóvão Colombo e Vasco da Gama. Assim consolidaram-se os fundamentos do que viria a ser a ciência de navegação, que evoluiu dos rudimentares astrolábios e sextantes aos GPS dos quais dispomos atualmente. Até mesmo pela etimologia das palavras, é possível perceber que a aeronáutica – ou “aero-náutica”, se assim preferir – nada mais é do que a adequação dos conhecimentos náuticos à viagem pelo ar.
Nessa terra de grandes navegadores, nasceu em 1934 a Aero Portuguesa, a primeira companhia a prestar serviços aéreos em Portugal. Inicialmente criada como subsidiária da Air France, a Aero Portuguesa oferecia transporte de passageiros a Marrocos e envio de malotes postais ao Brasil, ambos países que já haviam sido colônias portuguesas. Havia também planos de estender as operações às colônias de Guiné Portuguesa, Cabo Verde, Açores e Angola, além das capitais européias Madri e Paris. A extensão de rotas, no entanto, não veio a ser realizada, em virtude dos impactos da Segunda Guerra Mundial.
A Aero Portuguesa foi a única companhia aérea de um país neutro autorizada a servir e sobrevoar os territórios envolvidos na Segunda Guerra. Muitos refugiados, inclusive, buscavam asilo político em Tânger, no Marrocos, utilizando-se dos serviços da companhia. Outros, ainda, prosseguiam à cidade marroquina de Casablanca, também buscando refúgio da morte e destruição infligidas pelo confronto. A rota operada pelo Aero Portuguesa nesse trecho imortalizou-se ao ser retratada no clássico filme hollywoodiano “Casablanca”, estrelado por Humphrey Bogart e Ingrid Bergman.
Um cartão da Aero Portuguesa, mostrando seus destinos e suas novas associações à Sabena e à SAS
Em 1944, foi criado em Portugal o Secretariado da Aeronáutica Civil, posteriormente renomeado Instituto Nacional de Aviação Civil, ou INAC. Na qualidade de órgão regulamentador da aviação civil portuguesa, o INAC nasceu já com a pretensão de criar uma grande companhia área de bandeira para seu país. Esses planos levaram à absorção da Aero Portuguesa pela TAP, que segue operando como companhia de bandeira de Portugal até os dias atuais.
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