Não é de hoje que todo milionário ou “pé-rapado” quer possuir sua própria aeronave, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Enquanto a economia cresce, cada vez mais antigos modelos são revitalizados e modernizados, enquanto novas aeronaves são produzidas, pois a demanda cresce a cada mês.
Paris Hilton, Leonardo di Caprio e até mesmo o rei da Espanha com certeza virão ao Brasil exclusivamente para assistir a Copa, e com certeza virão com seus Citations, Gulfstreams ou Dassaults. Mas do jeito que estão (e são) as coisas, ninguém vai gostar de ficar no chão.Já falta, e cada vez mais, vai faltar aeroporto e espaço não só em São Paulo, mas no país todo.
Quando estivermos realmente numa situação insustentável, quem é que vai ficar no chão? Um 737-800 com 188 passageiros ou um jato executivo com seis pessoas a bordo? Não precisa ser cientista nuclear para responder. Mas como que esse mesmo jatinho executivo irá ficar no chão se nem espaço no aeroporto existe para ele, quanto mais no céu.Vamos citar o caso do estado de São Paulo, que possui muitos aeródromos. O problema é que a maioria é administrada pela cidade, ou pela trupe do Kassab e do DAESP, que diz que investe, mas deixa a torre de controle do Aeroporto de Ribeirão Preto ser dois contêineres de lixo empilhados.
Vamos todos asfaltar a pista então com cocô de galinha quando o asfalto ficar ruim! O que é ruim não é a quantidade, mas sim a qualidade.
Mas como a grana está na capital, vamos voltar para lá. Existem quatro aeroportos principais na Capital: Guarulhos, Congonhas, Marte e Viracopos. Desses, nenhum tem espaço para crescer em um curto prazo, só o Campo de Marte, que já está saturado. E ainda querem transformá-lo em um terminal de metrô. Se mal existe espaço nos outros três aeroportos, vamos mandar a Aviação Executiva para onde?Para as mansões dos deputados é que não são. E enquanto isso, a “dona” Dilma não sabe de nada.
Imaginemos um piloto de táxi aéreo, com sua aeronave Embraer 121 Xingú, com seis pessoas a bordo, procedente de Brasília. Com destino original em São Paulo, precisamente no Aeroporto de Congonhas, recebe a notícia pelo celular dos passageiros que está chovendo muito na cidade, e que todos os vôos estão sendo alternados, pois a Gol não treinou os controladores de vôo, a TAM não comprou e instalou o ILS Categoria III em Congonhas e a Azul não fez o mesmo em Guarulhos e a Avianca não trocou os radares e os rádios do país.
Guarulhos é uma loucura: Se dá uma neblina, todo mundo alterna Viracopos. Possuía um bom espaço para crescer, mas seus vizinhos não ajudam. Os invasores do Jardim Presidente Dutra e a Serra da Cantareira evitam o crescimento do aeroporto. De hangares da nossa gloriosa FAB para terminais mixurucas em “apenas” oito míseros anos. Seria mais fácil demolir e reconstruir tudo. Santa Administração Privada, rogai por nós, passageiros e entusiastas, agora, na hora e durante nosso vôo.
Mesmo assim, a Aviação executiva possui um pequeno espaço em Cumbica: O hangar do Banco Safra e as dezenas de aeronaves executivas se aglomeram, em um pátio mixuruca, com prazo para deixar o solo. Eita país piada.
Congonhas é um porta-aviões elevado no meio da cidade. Ao lado do centro da cidade, é impossível não existir um congestionamento durante todo o dia. E aquele que recebia 48 pousos e decolagens por hora não recebe mais de 30, sendo que apenas um ou outro avião é de pequeno porte, pois os executivos foram convidados a migrar para Marte.
Campinas é uma carta fora do baralho nesse caso: recebe os aviões executivos, mas só em casos de emergência, como foi com o avião da Igreja Universal, apreendido no aeroporto. Mas existem algumas alternativas.
O Campo de Marte está muito bem localizado, e possui um espaço disponível para seu crescimento. Mas sua localização central ajuda a alagar o pátio e suas pistas. Se fosse aumentada a pista, com a terra retirada do Rio Tietê, poderia de vez desafogar Congonhas. Mas isso é apenas um sonho.
Jundiaí seria uma boa. Possui um bom espaço para crescer, é razoavelmente bem localizado e possui uma grande área útil. Mas só opera visual, e se der uma neblina, por exemplo, que façam iguais os vôos comerciais: Alternem Viracopos, ou melhor, que alternem Campinas (Amarais).
Vamos esperar mais um pouquinho, pois ainda existe São José dos Campos. Com uma pista boa e uma localização mais ou menos, existe espaço para crescer, opera noturno e por instrumentos. Mas se as duas rodovias congestionarem, quem precisar ir para a Capital se ferra bonito, pois vai perder um bom tempo preso no trânsito.
Mas ainda existe o Aeroporto de Itanhaém. Pena que ele não opera noturno e nenhum auxílio para o pouso existe. E o que é pior, conta com um pátio capaz de abrigar quatro enormes, monumentais e volumosos Embraer 110 Bandeirante. Paciência.
Vamos agora para Guaratinguetá. Tem pista relativamente grande? Tem. Opera noturno? Sim. Tem Terminal de Passageiros? Está em projeto de licitação. Tem uma boa área para expansão? Estamos providenciando. Tem um pátio grande? Ôps…
Agora vamos realmente para o X da questão: como diz a frase no início do texto, com certeza a prioridade será os vôos comerciais. Mas se nem aeroporto BBB existe, como vamos arrumar aeroportos estritamente executivos para esses mesmos aviões executivos, e aeroportos bons? Nem em Marte pousa alguns modelos, como um Gulfstream G550 da frota de Eike Batista, quanto mais um BBJ ou um ACJ.
Como estamos no Brasil, vamos sonhar mais um pouquinho, que é de graça e não custa nada: Suponhamos que nenhum desses problemas existisse, que toda cidade com menos de 100 mil habitantes tivesse um aeroporto com duas pistas de 3000×45, terminal de passageiros para um milhão de pessoas por ano e um aeroclube digno de invejar os nossos amigos americanos.
E se toda cidade com mais de 1 milhão de habitantes tivesse também dois aeroportos, cada um com quatro pistas de 4500×60 e capacidade para 10 milhões de passageiros/mês. Ah, mas aí fica caro até para sonhar… Agora vamos voltar para aquele mesmo Xingú, que desejava pousar em São Paulo, o que aconteceu com ele? Coitadinho, o piloto dele ficou sem combustível, e mesmo com 500 litros dentro do avião, que foram instalados nos tanques, para depois fazer um pouso forçado no meio da Praia das Toninhas, pois não deu tempo de chegar ao aeroporto de Ubatuba. Na hora que ele fazia a aproximação final, o controle avisou que o aeroporto estava fechado, pois só opera diurno, e eram exatamente 19h01min do horário de Verão.
Os ocupantes sobreviveram, mas o avião foi perdido. Transtornado, os donos da aeronave surtaram quando ouviram a trupe do Kassab declarar que a culpa de tudo era das companhias aéreas que não compraram o equipamento, e que não tinha absolutamente nada a ver com isso.
A sorte que essa historinha é apenas uma suposição de como irá ficar o país se ninguém tomar uma boa providência em relação a isso. Por isso, se não chover, só vamos ter uma Aviação Executiva respeitada no ano de 2052, quando o filho do Lula terminar o mandato, ou quando o José Sarney for deposto ou quando os ministérios não forem entregues nas mãos de advogados e analfabetos sem cultura. Até lá, apertem os cintos, os céus e os aeroportos. Bons vôos e boa semana a todos.
Frase da Semana
“A probabilidade de sobrevivência é inversamente proporcional ao ângulo de descida. Grande ângulo de descida, pequena probabilidade de sobrevivência. Mas grande ângulo se subida, pequena probabilidade de sobrevivência, mesmo não existindo o perigo de se colidir com o céu”.
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