Roteiro desse episódio:
Eu sou o Alexandre Sales e esse é o Canal Piloto
Então senhores, no episódio de hoje nós vamos falar do processo de pendência do CMA que é uma particularidade que muitos futuros aviadores ainda não conhecem.
Bom, mas antes vamos definir o que é isso; quando você vai fazer a bateria de exames para tirar o CMA, o Certificado Médico Aeronáutico, que é um dos necessários para você pode voar, você pode ter três resultados ao final da bateria de exames.
- Você pode ser aprovado, quando tudo estiver ok.
- Você pode ser reprovado, quando você tiver algum problema físico ou de saúde que não tenha tratamento ou correção.
- Ou você pode ficar de pendência, que é quando você teve alguma “reprovação”, mas esse problema pode ser corrigido de algum modo em um espaço curto de tempo.
Por exemplo: Se você tiver uma cárie, vai ficar de pendência, pois você pode se livrar disso em apenas uma consulta no dentista.
Mais um exemplo: Se você sofreu um acidente que deixou alguma sequela que delimite em muito seus movimentos, reprovado, pois não haverá correção.
Mais um exemplo: Se você estiver muito acima do peso, colesterol altíssimo ou algo assim, ai depende, pois muito provavelmente você vai conseguir corrigir isso, mas não no prazo que a pendência vai lhe dar.
Bom mas além do objetivo de informar o pessoal, eu estou fazendo esse video porque eu já fiquei de pendência duas vezes. Eu tirei o meu CMA de Piloto Privado, que na época se chamava CCF, em uma clínica credenciada pela ANAC e foi tudo ok, mas quando eu fui tirar o meu ainda CCF de 1ª Classe no HASP, o Hospital da Aeronáutica de São Paulo, eu fiquei de pendência, e recentemente quando eu fui renovar o CCF que agora já se chama CMA, eu fiquei de pendência de novo.
Em ambos os casos não foi por causa de um problema de saúde indetectável ou coisa do gênero, mas sim por causa de descuido, vacilos, molecagens minhas.
Bom mas vamos aos detalhes para você conhecer as histórias e não fazer o mesmo.
Quem mora ou voa aqui em São Paulo sabe que o HASP, o Hospital da Aeronáutica de São Paulo, fica do lado do Aeroporto Campo de Marte, que foi onde eu fiz o meu PP e por causa disso eu já sei chegar até lá. Do metrô até o Campo de Marte, a pé, eu levava ali mais ou menos 15 minutos, e eu, garoto, moleque, raciocinei naquele dia, bom, se o HASP fica do lado, no máximo vou levar ali uns 20, 25 minutos andando.
E naquela manhã, lá fui eu, eu moro no litoral de SP e tinha de chegar lá entre 6h30 e 7h30 no máximo. Acordei de madrugada, peguei ônibus, metrô e desci da estação um pouco antes das 7h, bom, “vai até sobrar tempo”, pensei.
Andei até o Campo de Marte, cheguei ao fim da aérea do aeroporto, comecei a andar em frente e nada da entrada do HASP chegar, e o tempo avançando, e nada do HASP chegar, então eu fui acelerando o passo, e o relógio continuava andando ali também. No final das contas eu cheguei ao HASP às 7h27 totalmente ofegante porque eu fui literalmente correndo no final do percurso pra chegar a tempo lá.
E na hora que os oficiais, ajudantes e a lendária Dona Quitéria foram organizar as filas pros exames, qual foi um dos primeiros que eu tive de fazer? Eletrocardiograma. Que é um exame no qual eles prendem uma porrada de fios no seu peito para dentre outras coisas, medir a frequência de batimentos do seu coração, e o meu coração tava mais acelerado que o The Flash em escola de samba tomando Red Bull.
Então no final daquele dia, a tenente da junta médica me chamou e falou que de acordo com os dados do exame, eu estava com princípio de taquicardia, mas como segundo ela qualquer aceleração do coração pode alterar esse exame, como cansaço ou ansiedade, ela me deixou de pendência, e me deu 30 dias, que é período padrão, para voltar lá com o resultado de um exame chamado “Holter de 24h”, que é basicamente um exame no qual você fica com alguns fios ligados no seu peito registrando seus batimentos durante 24h, e ai sim, ela pode ver se esse batimento acelerado é uma constante, ou se foi só ansiedade ou alguém que resolveu correr a São Silvestre antes de fazer o exame.
Bom, dicas sobre esse primeiro caso: Se o Hospital onde você vai fazer o CMA fica longe de algum modo, veja se tem ônibus até lá, acerte de ir de carona com algum amigo se você não tiver carro, ou faça como eu nas vezes seguintes, pegue um táxi, que ficou 12 reais entre o metrô e o HASP.
Como eu disse, qualquer aceleração contínua no coração vai dar alteração nesse tipo de exame, inclusive se você estiver muito nervoso, tenso, com medo, antes de fazer o exame. Então tente controlar isso e quaisquer outras coisas que possam acelerar seu coração.
Dependendo do Hospital, os agentes dali podem ficar indicando para você a fila do exame que você tem que fazer obrigatoriamente, ou podem deixar você livre para ir de sala em sala. No meu inicial de 1ª Classe no HASP, eles indicavam as filas, mas agora quando eu fui renovar pelo ultima vez eles já deixam o pessoal livre.
Se você estiver livre, tente fazer o exame do cardiograma primeiro, pois assim você não vai estar cansado por ficar 5h andando ali pelo hospital. Mas se você chegou lá com o coração acelerado por nervosismo por exemplo, faça alguns outros exames antes, fica ali nas filas uns minutos, e vá se acalmando, e ai sim, faça o eletrocardiograma.
Bom agora vamos para a minha segunda pendência.
Meses antes eu ir renovar meu CMA, eu fui em uma consulta periódica com o meu oftalmologista, na qual eu falei:
-Querido oftalmologista, eu estou com dificuldade para ver objetos pequenos muito de longe, principalmente com pouca luz, e perguntei ao Dr. Google e ele falou que poderia ser astigmatismo.
Então ele foi lá me examinar em um equipamento que não era aquele que tem 500 lentes nem nada, era em outra, e falou: Você tem um grauzinho sim, mas não se preocupe, você vai passar em qualquer exame oftalmológico que fizer.
Então tá.
Lá fui eu ao HASP para renovar, peguei táxi dessa vez, fui direto fazer o eletrocardiograma e por ironia do destino, deixei o oftalmologista por ultimo. Até aquele momento tava tudo certo. Fui lá, entrei na sala, a tenente apagou a luz (1 – pouca iluminação), e projetou as letras que ficavam a uns 5 metros de distância (2 – distância), dentre elas umas letrinhas minúsculas (3 – objetos pequenos). Todos os fatores que me dificultavam.
Eu consegui falar todas as letras, menos as últimas, as menores, e até que a tenente foi paciente, me deu um tempo, mas não dava mesmo. Então, mesma coisa, ela me deu 30 dias, o tempo padrão, para voltar lá com os óculos, ou com a receita dos óculos, ou qualquer outro exame ou laudo que afirmasse o meu grau de deficiência oftalmológica e indicasse os óculos ou as lentes de contato que eu deveria usar.
Então eu saí do HASP já ligando para o meu convênio para marcar a consulta, enquanto eu abençoava até a 5ª geração daquele outro oftalmologista que afirmou que eu passaria em qualquer exame.
Dicas sobre esse processo de pendência: Você terá apenas 30 dias para voltar lá com o exame pendente, e sim, isso é pouco tempo, caso contrário você terá de fazer e pagar todos os exames novamente. Se você tem convênio, faça como eu, já saia do hospital marcando sua consulta, porque quem tem convênio sabe como é “fácil e rápido” marcar consulta. Nos dois casos eu tinha 30 dias para voltar lá, e graças ao meu convênio, no primeiro caso eu voltei lá no dia 28 desses 30 dias, e no segundo caso no dia 27 desses 30, ou seja, bem em cima do limite.
Então é isso senhores, espero que esse episódio tenha sido útil a vocês de algum modo, e como sempre: Pilote um livro, leia um avião, evite correr maratonas, e nunca se esqueça de ter… Mais agilidade.
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