Como as conheci

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Semana passada, escrevi um conto chamado “Valor Agregado“, aqui no Canal Piloto. Trata dos voos que fiz sobre uma mansão onde havia várias moças, vamos dizer… Extrovertidas. Os voos foram um sucesso comercial justamente por isso. Elas tomavam de banho de sol e piscina com pouca ou nenhuma roupa e eram muito simpáticas com meus passageiros.

Depois de ter publicado a história, fui bombardeado com a mesma pergunta, a qual serei obrigado a responder por escrito.

Como eu conhecia aquelas moças? Vários me perguntaram.

Bem… A outra história é verídica assim com a que vou relatar a seguir.

Desde meus 14 anos, trabalhei em uma empresa de lanchas que fazia transporte da tripulação de navios mercantes no porto de Paranaguá. A empresa era de um tio meu que além de sermos muito próximos, era também um patrão que sabia aproveitar o fato de eu falar inglês, italiano,  além de outras habilidades diplomáticas. 

Eu aproveitei muito a grande experiência de vida que foram aqueles anos. Aprendi a dirigir automóvel e pilotar lanchas muito cedo e poucos moleques da minha idade podiam usar o carro quando quisesse como eu fazia com o Opala vermelho do meu tio e patrão. Dias e noites dormindo dentro do barco e convivendo com pessoas e culturas do mundo todo me fizeram uma pessoa diferente. Mas isso é outra história.

Uma das tarefas que ele me passava, era buscar os oficiais do navio e levá-los para se divertir em seus momentos de folga. O capitão, o imediato e o chefe de máquinas, são os mais graduados da tripulação e merecem um tratamento especial. Eu pegava o Opalão e levava os três marujos para a farra no melhor lugar que havia. Sabendo que iriam tomar um porre e se ninguém os avisasse, perderiam a condução com hora marcada do dia seguinte, eles me ofereciam uma boa grana para acompanhá-los, desde que sóbrio o suficiente para levá-los de volta. Assim, além de ganhar da empresa de lanchas, ganhava uma gorjeta excelente (algo em torno de $100,00) para passar a noite no bordel.

Para mim não havia problema algum, pois nunca gostei de beber, mas sempre adorei dançar. Lá era o lugar certo para mim. Dançava até de madrugada e aprendi a chacoalhar o esqueleto com quase todos os tipos de música. Principalmente música grega, pois era a nacionalidade da maioria dos marinheiros que eu acompanhava. Inclusive, assim que era informado que os clientes seriam gregos, eu ligava para o estabelecimento, que já aprontava a seleção de música e os pratos para serem quebrados, como era a tradição.

Geralmente às 18:00 horas eu os apanhava no navio ancorado ao largo, trazia para o cais e dali partíamos para a boate. Pontualmente às 6:00 do dia seguinte eles precisariam voltar para o navio, sob pena de pesada multa e sanções da agência de navegação.

Assim eu passava a noite dançando e papeando com as moças da casa. Todas gentis e alegres, embora praticamente confinadas no local. O proprietário jamais deixava que passeassem sozinhas ou conversassem com estranhos. Como eu levava muitos bons clientes para lá, me tornei pessoa de confiança a ponto de dormir no quarto das meninas quando estava muito cansado. Aqui vale dizer que o quarto de dormir não é o mesmo quarto de trabalho, e frequentar a intimidade delas era uma honraria para pouquíssimas pessoas.

Jamais usei seus serviços e nem me aproveitei da carência afetiva que elas tinham. Embora a tentação fosse grande, resolvi tratá-las com a consideração de um amigo especial. Ouvia suas lamentações e desilusões amorosas, dava conselhos, servia de intérprete, enfim… Um amigo mais jovem e divertido.

Eu aprendi muito com elas também. Foi uma escola de vida em todos os sentidos. Conversávamos sobre todos os assuntos que interessam a um jovem de 18 anos. Fiz este trabalho inúmeras vezes e me tornei um verdadeiro amigo de todos do lugar.

Alguns anos depois, precisei de dinheiro para viajar para Oshkosh, nos Estados Unidos. Haveria a feira de aviação e eu não queria perder algumas oportunidades que aconteceriam apenas naquela ocasião. Como estava quase sem nenhum dinheiro, lembrei que elas trocavam os dólares ganhos no trabalho obrigatoriamente apenas com o dono do estabelecimento.

Soube que naqueles dias o patrão pagava um ágio de 25% sobre o dólar do câmbio oficial, sendo que o ágio de mercado da época era 100%. Ou seja, enquanto o mercado pagava dois por um, o patrão delas pagava 1,25 por um, sendo que não podiam trocar com mais ninguém.

Sabendo disso, passei a ir todo dia para lá e enquanto dançava com as meninas, trocava meus dólares pagando um ágio de 50% (sempre escondido do proprietário). Um mês depois eu já tinha o dinheiro para viajar e minhas amigas haviam lucrado o dobro de antes com a troca de dólares. 

Antes de eu viajar, elas me contaram que o patrão havia alugado uma casa enorme em um balneário de luxo onde elas ficariam trancadas e não poderiam fazer programas e nem receber ninguém. O único estranho que o bondoso patrão não se incomodaria que frequentasse a casa era eu. 

Assim que voltei de viagem, montei o negócio de voos panorâmicos e fui visitá-las. Contei que assim que pudesse, eu sobrevoaria a casa. Elas ficaram super contentes e disseram que me esperariam bem “descontraídas”. 

E foi assim que minha clientela receosa em voar, perdeu o medo e ganhou um ótimo incentivo. Meu negócio cresceu (sem trocadilhos) e elas faturaram alguma coisa mesmo estando em férias. 

Franco Rovedo
franco.rovedo@gmail.com

Renato Cobel
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