Ekranoplano: Uma aberração ou invenção?

posted in: Antonio Ribeiro, Textos | 0
Artigos opinativos só são bons quando há notícias surpreendentes. Mas, quem disse que notícias não servem de temas se enganou. O tema da semana é o Ekranoplano.
 
Ekranoplano, numa definição engraçada, seria o cruzamento de jato e hélice (para quem não sabe, daí que surgiu o motor turboélice, que será tratado futuramente em um novo texto) e do barco com o avião. Só que essa aberração voa, mas a uma altura de no máximo 10 metros, e voa sobre o mar. Mas, há aberrações que vem para fazer o bem.
 
Qualquer desconhecido pensa que é mais uma invenção russa que não deu certo. Em partes, é isso mesmo, pois aproveitando o efeito solo, ele voa em baixas altitudes propositalmente para evitar detecções por radares inimigos. Mas o governo russo desistiu do projeto.
 
Para quem não sabe, o Efeito Solo é um efeito onde a pessoa voa paralela ao solo, mas em uma baixa altitude, ou ele voa em um eterno rasante, de preferência em uma superfície sem obstáculos, como um campo de futebol, ou uma pista de pouso.
 
Caro leitor, aí você provavelmente pergunta assim: Antonio, então se ele voar rente ao oceano e passar uma onda de mais ou menos três metros de altura, o avião vai subir e descer esses três metros, como se tivesse uma lombada? Respondendo a essa provável dúvida, talvez sim, pois a pressão debaixo das asas iria aumentar, forçando a sua subida. Mas talvez não, pois se voasse contra a onda, ele provavelmente seria engolido por ela. Lembro que são apenas suposições, odeio física e não entendo muita coisa.

História
 
Desde 1920, os primeiros pilotos começaram a perceber que, à medida que os aviões se aproximavam das pistas no pouso, os aviões tinham uma maior sustentação. Intrigados com esse efeito, cientistas, físicos e curiosos construíram alguns protótipos com base nessa descoberta, até o fim da Segunda Guerra Mundial. Após esta, a idéia foi abandonada.
 
Alexeev Rostislav Evgenievich era um engenheiro naval russo, que ao estudar o Efeito Solo, descobriu que ele funcionava como um colchão de ar, criando um efeito de sustentação. Ao projetar uma asa que usufruísse desse efeito, criou o ekranoplano, com a grande vantagem de ser veloz e poderoso em relação à capacidade de carga e alcance. Mas, “Alex” percebeu que se ele se elevasse, perderia sustentação e fatalmente cairia.
 
Apesar disso, o governo ficou impressionado com a idéia, e até 1992 ela foi testada, inclusive com três exemplares de um modelo operando na Rússia.
 
Rostislav Alexeyev foi o responsável pelo perfil de fuselagem do veículo, e projetou a melhor configuração, onde os instrumentos e componentes ficariam mais bem ajeitados, inclusive determinando as asas e outras superfícies de sustentação.
 
Com isso, teoricamente os inventores dessa geringonça voadora foram “Alex” e “Alexy”.
 
Vantagem: Se tivesse uma pane, poderia fazer uma amerrissagem forçada sem muitos impactos para a “aeronave” e seus eventuais passageiros.
 
Desvantagem: “Voar” sobre o mar é um pouco perigoso, pois ao se voar baixo, está sujeito as ondas do mar, que poderiam colidir com o veículo. Tanto que houve um acidente assim.
 
Vários modelos foram construídos, seja com motores a jato, seja com motores turboélice. Na maioria dos casos, alguns modelos usam os dois tipos de motores, e em grande quantidade.
 
A seguir, uma breve trajetória dos principais ekranoplanos: A-90 Orlyonok: Foi desenvolvido na década de 60, projetado por “Alexy”. Fez seu primeiro vôo em 1972. Foi transferido para o Mar Cáspio, na Rússia, onde se acidentou em 1975. Seu projeto fez os russos conhecerem melhor o veículo, assim como provou que novos materiais de fabricação deveriam ser utilizados. Era um anfíbio, pois decolava da água e era equipado com duas rodas. Possuía o maior motor turboélice de todos os tempos, o soviético NK-12, junto com dois motores a jato no nariz.
 
Outro ekranoplano importante foi o “Monstro do Mar Cáspio”. Designado como KM, tinha 100 metros de comprimento e 540 toneladas de peso máximo. 10 motores lhe davam a força necessária para ele se manter a uma altura de no máximo três metros de altura.
 
Se subisse acima disso, poderia perder a sustentação e cair no mar. Voava em média a 30 cm de altura, enfrentando ondas de até cinco metros de altura. Foi perdido em um acidente, onde se estatelou contra a água em um vôo. Ao invés de descer o aparelho para ganhar sustentação, o piloto subiu, provavelmente pensando que estava em um avião comum. Tentaram resgatar o aparelho do fundo das águas, mas sua tonelagem impediu tal fato.
 
Outro modelo também ganhou destaque, pois era impulsionado por oito motores a jato no estilo do Vickers VC-10, com quatro em cada lado. Por ser um projeto militar, tinha seis lançadores de mísseis em cima de sua fuselagem. Seu nome de batismo é Lun-Class, com designação MD-160.
 
Informações sobre ele são difíceis, mas existem boatos que falam que seu serviço ativo terminou em 1999. Quem era desse ano e tinha Jet A1 no lugar de sangue igual a nós, pensava que seria o último de uma era. Ledo engano.
 
O futuro voa, e será nas suas asas
 
Provavelmente, os projetos foram congelados após a Guerra Fria e o fim da URSS. Mas, o governo russo aprovou a retomada da produção do MD-160 e do A-90, prevista para 2012. Finalmente, alguma cabecinha pensante no governo russo percebeu que esses veículos são mais econômicos e eficientes que um avião cargueiro. Para mim, não importa se vou voar num ekranoplano, num Piper Cub caindo até as asas ou num helicóptero com o rotor de cauda sem três pás ao invés de cinco pás. O que importa é voar, com segurança, nem que seja por alguns segundos.
 
Frase da semana:
 
“Qual a lógica militar?
Se o céu é azul, por que camuflar um avião de verde e marrom ou verde com cinza?”
 
Obs.: Se você tiver alguma dúvida, sugestão de temas ou alguma outra coisa, incluindo frases para serem publicadas, mande um e-mail para antonioaviao@hotmail.com. Sua mensagem será respondida . Bons voos e boa semana a todos
Alexandre Sales
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