Formação de Piloto Comercial 01

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Formação de Piloto Comercial 01
Texto: Pedro Santos – Vitrine: Eduardo Godoi

Olá aviadores e aspirantes a aviadores.

Meu nome é Pedro, tenho 30 anos, sou PP checkado, tenho aproximadamente 85 horas de voo, e tenho voado regularmente para cumprir as horas de PC.

Meu objetivo nesta coluna é descrever um pouco sobre esta etapa pós-PP e pré-PC, relatando os desafios, experiências, dificuldades e felicidades pelas quais eu passei, além da observação de alguns colegas que estão traçando caminhos semelhantes.

Minha primeira estória para esta coluna, começa exatamente após meu voo de cheque de PP. Um fato curioso é que ele aconteceu no dia do meu aniversário, em Fevereiro de 2012 (apesar de que minha história prática na aviação tenha mais de uma década, isso para não ir além e começar a falar dos meus 3 anos de idade).

 

Imagem 1: Arquivo pessoal

Depois de chegar minha CHT alguns meses depois, foi difícil conter a emoção. Eu agora posso dizer que sou um PILOTO!!! Ou pelo menos era isso que eu achava que podia, e devia fazer. Para todo mundo! Sempre que tivesse uma oportunidade!

Pode-se dizer que a formação de um piloto é um tanto quanto complexa. Ela requer algum conhecimento teórico em uma dúzia de áreas diferentes, requer atenção, memória, assertividade, decisões rápidas. Resumindo: AGILIDADE!

Imagem: Arquivo pessoal

Poucas são as carreiras que encantam tanto quanto a aviação. Acho que somente a medicina e meia duzia de outras carreiras se equiparam neste quesito, apesar de que em minha opinião nenhuma supera a dos aviadores. É bem fácil se deslumbrar por voar. Muito, muito mesmo.

Ao perceber outros aspirantes mais adiantados, por um lado via neles exemplos, por outros, via escorrer pelo canto da boca um pouco de vaidade. Não sei como nem o porque, mas isso me intrigava. Passei a reparar como e o quanto falavam de voar, fora dos círculos de aviadores.

Reparava também nas reações das pessoas que os ouviam. As feições delas me deixaram em alerta, algo como se dissessem:

 – Tá bom, já sabemos como você é ‘o cara’, superior à gente. Não precisa continuar falando, muda de assunto. Chega! 

Nessas horas, me lembrava de mim mesmo falando com amigos e familiares e agregados em geral. O quanto eu já não devia ter feito do mesmo, e o quando desse tipo de reação eu não gerei. Relâmpagos fluíam em minha mente dizendo:

 – Você tem que se ligar! Quer ser o próximo a ficar chato?

Desde então, apesar da quase incontrolável vontade de externar minha paixão por voar, tenho me imposto (ou pelo menos tentado) um timer, ao responder sempre que alguem me pergunta: “Você voa?!”.

 

Minha resposta tem que vir em 1 minuto e meio. Se ela gerar outra pergunta, outra resposta de 1 minuto e meio pode ser feita. Nada de fazer um monólogo de como é mítica a experiência de voar, e por ai vai. Em algumas situações, cheguei até a responder brincando:

 – É melhor não perguntar muito, porque se deixar, eu falo a noite toda sobre isso.

Mas você, leitor atento, pergunta:

 – E ai Pedro, então tá resolvida essa questão?

Eu respondo:

 – De jeito nenhum!

Essa foi minha primeira preocupação após terminar o PP, mas provavelmente vai ser uma das últimas com as quais eu precisarei lidar ao longo de minha carreira. A psicologia (mal resolvida) é a maior inimiga de um piloto. Falarei mais sobre isso no futuro, mas suas conseqüências são as piores possíveis, profissional e também pessoalmente.

Esse foi o método que criei para (de novo, tentar, não sei se tenho conseguido) lidar com o ego querendo flutuar acima de mim, mas não sei se é o melhor. Cada um pode lidar de formas variadas.

Mas tenha certeza que sim, para ter sucesso na aviação, o ego não pode estar à frente nem a cima do profissionalismo, da segurança, da metodologia que um bom piloto precisa ter.

Nos próximos post, pretendo falar de assuntos mais técnicos, dos quais gosto bem mais, mas termino com a frase que ouvi de vários pilotos já grisalhos, com sutis variações entre eles, mas a ideia básica é a mesma:

  • Nem todo piloto precisa ser um ás de pé e mão. Isso se adquire com tempo e experiência.
  • O modo de se relacionar com as pessoas ainda é o mais importante, porque direciona como e para onde ele irá prosseguir, seja como aquele cara gente boa, de bem com a vida e generoso com os colegas, seja como um interesseiro pano-preto que só procura atalhos.

 

Imagem: Arquivo pessoal

Por hoje é só pessoal. Até a próxima.

Pedro Santos

pedropk@gmail.com

Renato Cobel
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