Formação de Piloto Privado nos EUA 02

posted in: Claudio Motta, Textos | 13

Saudações leitores do Canal Piloto,

Com todas as informações em mãos, a próxima etapa era completar os pré-requisitos para iniciar o treinamento. Após um belo final de tarde após sair da escola, e fui até a McCreery para pegar os formulários das fingerprints. Após uma curta troca de palavras com a simpática recepcionista, falei com o Chief Instructor, George Mejeur.

Meu Inglês não era nada bom na época, eu conseguia entender quase tudo desde que falassem devagar, e minha pronúncia digamos , era um “lixo”. Para dificultar ainda mais a situação, o sotaque do George é MUITO puxado, mais ou menos um sotaque do interior nordestino. Pessoas do sul do Brasil, que falam português desde nascidos, às vezes tem dificuldade para entender o famoso “matuto”, imagina eu, um mero estrangeiro no país alheio. Mas aos trancos e barrancos, consegui entender que deveria ir até o McAllen Police Departament com o formulário das fingerprints. Não entendi muito bem a parte do envio para o FBI, porém como ele é um senhor de idade e percebi que não gostava muito de repetir as coisas (rsrs) resolvi perguntar na saída a outro instrutor que falava espanhol, língua que também falo, talvez melhor que o português.

Descobri que teria que comprar um envelope pré-pago para envio overnight e leva-lo até a delegacia, que depois de tirados os fingerprints eles se encarregariam de tudo. Chegando na “DP” todos ficaram surpresos com um garoto de 15 anos solicitando a realização de um fingerprint, pois normalmente só é requerido para trabalhos do tipo professor, médico, ou para presidiário (o que não era o meu caso).

Então uma moça me levou até uma sala, desacompanhado da minha mãe (momento difícil, já pensou se ela abusa de mim?). Ao chegar lá, ela falou no interfone alguns segundos e depois um policial apareceu atrás de uma janela, cuja entrada da sala se dava por uma porta de metal (pronto, agora a cena estava armada), a moça digitou algo no interfone e a porta abriu (sem exagero, essa porta tinha pelo menos meio palmo de aço, e levava a um corredor com outras duas portas: uma comum de madeira, que levava a um pequeno escritório, e outra igualmente robusta como a primeira).

Nesse corredor fui revistado, e quando me encaminhavam para a segunda porta de aço, outro policial “brotou” do tal escritório, e disse que eu não poderia pisar em uma prisão federal até completar dezoito anos de humilde existência (a sala de fingerprints já pertence a uma prisão federal). Particularmente, gostei da recepção, mas não foi boa o suficiente para me convencer a voltar lá um dia. Após conversarem a respeito da minha situação, me levaram de volta à sala de espera e um deles me acompanhou até o departamento juvenil, que apesar de bem menos utilizado (não tinha ninguém lá), dispunha do mesmo equipamento para realização dos fingerprints, uma vez que mesmo menores quando presos deveriam ser registrados.

Após tirar os fingerprints o policial guardou o envelope e me acompanhou de volta até onde minha querida mãe estava. Após isso, foi só checar periodicamente no site que eles disponibilizaram, e em mais ou menos uma semana estava tudo aceito. Só faltava escanear meu passaporte/visto e “upar” no mesmo site.

Alguns dias depois com tudo aceito, voltamos a McCreery outra vez. Preenchemos os papeis da matrícula, um documento assinado pelos meus pais autorizando o início do meu treinamento e os documentos já citados neste post, em relação a minha audição, visão e saúde em geral, afirmando que não possuo nenhum problema que possa afetar a segurança do treinamento.

Após essa fase de papelada, era só entregar e finalizar a matrícula, porém o Michael Garza, que seria meu instrutor a partir de então, nos aconselhou a esperar até o próximo sábado, uma vez que caso realizado no mesmo dia que a matricula, o discovery flight (voo de incentivo) era gratuito, e não havia instrutores disponíveis naquele dia, além de que uma vez que eu já estaria matriculado no curso, esse voo já poderia ser anotado no meu logbook, então seriam 40 minutos free.

Deixamos toda a papelada já assinada com a recepcionista, faltando somente o pagamento para completar a matrícula, e marcamos um voo para o sábado, 3 de setembro de 2011. Como foi o voo você vai descobrir no próximo post.

Respondendo perguntas da semana passada:

– Você foi ate ai já sabendo o inglês? Quem não sabe, tem como e suprir essa questão para a formação?

  • Como já citado, meu inglês não era nada em comparação com o que eu falo hoje. Ao chegar nos EUA, eu tinha em mente que sabia inglês suficiente para manter uma conversação básica com alguém, porém na prática é diferente. O inglês de escolas e cursos ajuda em questões de gramática, principalmente na minha região, onde as pessoas falam MUITO errado devido à influência do México há apenas três milhas da minha cidade, porém para falar é necessário praticar. O meu conselho é, se você deseja vir para a terra do Tio Sam, procure um local “isolado” sem influência de outras línguas como português ou espanhol, que você pode ficar pendurado no portunhol e ter dificuldades grandes para aprender o inglês. Em uma cidade menor, com pouca ou nenhuma influencia de línguas estrangeiras, você será forçado a aprender o inglês para sobreviver.

– Se eu for até os EUA, apenas com o dinheiro para sobreviver e tirar o PP, você acha que é possível arranjar um emprego e dar continuidade para tirar o PC?

  • Primeiro de tudo: aqui para se conseguir um emprego, você precisa de um visto de trabalho para poder solicitar o Social Security, uma espécie de CPF, para poder ser contratado legalmente. Algo que eu não possuo no momento. A minha situação é de L2, ou seja, dependente de alguém que possui o L1, no caso o meu pai. Não sei bem quais os requisitos para o L1, porem creio que somente é possível quando se recebe um convite de alguma empresa para trabalhar nos EUA. O próximo passo para mim é o Green Card, uma espécie de residência permanente. Não vou falar sobre os tipos de visto, pois não tenho conhecimento de todos os requisitos de cada um, porem creio eu que no site dos consulados americanos vocês podem encontrar mais informação sobre o assunto.

– Quanto tempo dura a formação até o PC?

  • Igualmente à formação brasileira tudo depende da disponibilidade do aluno. O PP em si, a McCreery informou que não aconselha que seja realizado em menos de 45 dias ou mais de 2 anos. Já em relação ao PC, creio que mais ou menos quatro meses você pode checar, voando duas horas todos os dias.

– Quais planos futuros você tem ai, após PC com 500 horas?

  • Primeiro de tudo, após conseguir meu Green Card, pretendo obter a licença de Flight Dispatcher, que pode abrir as portas para mim principalmente no ramo de taxi aéreo, algo bem comum na minha região (diga-se de passagem, aqui nos EUA tem muitos aeroportos, muito táxi aéreo e Cias regionais). Conheço um sujeito que conseguiu o MLTE assim, um dos pilotos do taxi aéreo era INVA nas horas vagas e deu instrução no Cessna 310 da empresa. Essa posição de despachante também permite que você esteja em contato direto com pilotos profissionais, gerando possíveis “QI’s” e oportunidades futuras.

 

É isso amigos, até a próxima. Qualquer dúvida, a caixinha de comentários está a disposição.
Claudio Motta.

 

Glossário

Fingerprints: Digitalização do indicador e polegar.
Chief Instructor: Instrutor chefe.
McAllen Police Departament: Departamento de polícia de McAllen.
Overnight: Envio noturno, algo semelhante ao Sedex 10.
Discovery flight: Voo de incentivo
Logbook: Equivalente a CIV da ANAC.
Flight Dispatcher: Despachante de voo.

Alexandre Sales
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