Formação de Piloto Privado nos EUA 12

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   Saudações leitores do Canal Piloto,

   Eu sou Claudio Motta, e essa e a coluna sobre formação de PP nos EUA. 

   Hoje, vou relatar meu 9° voo, porém antes gostaria de pedir desculpas a todos, já que, ao sair da escola na segunda feira (17), fui a uma barbecue, e esqueci completamente de escrever o texto na segunda à noite. Quando me lembrei, já na terça-feira, estava na escola e devido à diferença de fuso horário que aumenta para 4h com o horário de verão no Brasil combinado com o Standard Time daqui fiquei impossibilitado de escrever qualquer coisa antes das 9 da noite.

   Agora vamos ao que realmente interessa (rsrs). Nesse dia, o voo seria mais um treinamento de TGL, porém com uma acompanhante especial: “Mamãe”. Depois do meu pai falar muito com ela falando que era seguro, que agente não ia cair, e coisas do tipo, ela resolveu “testar a segurança” do voo, e falou que caso não achasse seguro, não ia dar mais nem um “tostão furado” para eu gastar “tentando me matar”.

   Ao chegar no Aeroporto, ela foi logo descendo do carro com um casaco, e eu simplesmente comecei a rir descontroladamente, ela explicou-se que “tinha muito frio em avião” e eu ri mais ainda. Depois de alguns segundos, consegui recuperar o folego e explicar para ela que infelizmente nossa aeronave não estava equipada com um sistema de ar-condicionado, e devido a que o único voo que essa aeronave tinha feito no dia fora às 9:30 da manha, a temperatura interna deveria estar pelo menos uns “350 graus” depois de ela ficar o dia todo no sol.

   Enquanto ela esperava no lobby, fui ate a flight training room, aonde são realizados as ground instructions, exames escritos e onde fica localizado o simulador da escola. Após conversar com o Mike sobre o que faríamos nesse dia, voltamos a recepção.

   Pegamos o kit da aeronave e fomos para o patio. Ao chegar na aeronave o Mike pediu que eu fizesse o briefing com minha mãe já que ela não sabia falar inglês e ele fala muito pouco espanhol. E assim o fiz, me sentindo um pouco estranho por falar “em caso de emergência…” com minha mãe, que já estava um pouco amedrontada antes de chegar no aeroporto. Pedi para ela ficar fora da aeronave enquanto eu fazia o check externo, pois ela iria cozinhar caso ficasse esperando do lado de dentro.

   Check feito, todos entramos, acionei, chamei o solo e alguns segundos depois estávamos taxiando. Durante o táxi, olhei para trás e comecei a rir mais uma vez ao ver a testa da minha mãe molhada de suor (rsrs).

   Ao chegar na cabeceira, abri as “coisinhas” de ventilação traseira ( não faço a menor ideia de como são chamados nem em inglês nem em português), fiz o check de motor e chamei a torre.

   Logo fomos autorizados, enchi a mão na manete e começamos a rolar. A temperatura bem mais quente que os voos anteriores e o peso extra da minha mãe (sem chamá-la de gorda, é claro, rsrs) foram a combinação perfeita para o meu primeiro erro: rodar a aeronave cedo demais.

   Quando comecei o movimento do manche, senti que a aeronave não subia então senti o Mike pressionando o manche e falando que estávamos mais pesados que o normal e o dia estava mais quente, portanto rodaríamos à 60 kt nos próximos TGL’s. Senti a pressão no manche aliviar e puxei novamente, dessa vez senti a aeronave subir, com um pouco de dificuldade devido à temperatura.

   Fiz o circuito calmamente até chegar na perna base, quando o Mike falou: “vamos fazer bonito para a sua mãe, né?”. O suficiente para me deixar nervoso e fazer tudo menos caprichar no pouso (rsrs). Após o primeiro circuito que havia sido pela esquerda, a torre nos instruiu a realizar os circuitos pela direita, devido à um helicóptero que estava decolando do Hospital que fica exatamente na curva da perna de través para a perna do vento.

   Estava decidido a fazer melhor nesse pouso, porém o ar no setor S do aeródromo estava bem mais instável que no setor N, e para aqueles que nunca sentiram uma aeronave pequena balançar, é mais ou menos como sentar num touro mecânico (rsrs). Olhei para a minha mãe rapidamente e vi que a situação não tava muito boa em termos de confiança.

   Depois de 6 pousos, digamos não muito suaves, finalmente caprichei no ultimo. Então livramos a pista e taxiamos ao patio da McCreery. Após cortar o motor e fazer o check fomos até a recepção e o Mike perguntou em espanhol como pode se minha mãe tinha gostado, ela respondeu que sim, mas a cara dela não dizia o mesmo. Ele então olhou para mim e pediu pra eu dizer a ela que aquele dia não era o ideal para voar, e que eu tinha ficado nervoso pois ela estava olhando meus pousos, mas que eu faria bem melhor de uma próxima vez.

   Fizemos o debriefing, ele assinou meu logbook e fomos em direção ao carro da minha mãe. No caminho ela falou que a cabeça dela estava explodindo e que ela não voltava a voar comigo (rsrs).

   Agora é uma missão pessoal convencer ela novamente e fazer bonito da próxima vez.

   Espero que tenham gostado,

   Claudio Motta

   Glossario:
   Standard Time – Horario de Inverno
   Flight Training Room – Sala de treinamento de voo
   Ground Instructions – Instrução teórica de voo

Renato Cobel
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