KC-390: Quebrando preceitos do potencial nacional

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O novo bastião da aviação militar brasileira, o KC-390, está perto de ter sua fase de avaliação concluída. Esse é um resultado de sete anos de estudos da Embraer em parceria com a Argentina, Portugal e República Tcheca.

O acordo foi firmado em 2009, com o objetivo de projetar uma nova aeronave de transporte tático, que pudesse substituir toda a frota de aviões também de transporte Lockheed C-130H, KC-130 Hércules e SC-130E. A aeronave de transporte mais bem sucedida de sua categoria foi vendida para dezenas de países no mundo todo, e apesar de ser velhinho, com mais de sessenta anos, passou por grandes transformações e primoramentos.

Primeiramente, o projeto foi apresentado como C-390, mas devido aos requisitos da FAB, o projeto foi reavaliado e teve um “K” adicionado na identificação da aeronave, ou seja, o avião não seria voltado somente ao transporte tático, mas também para reabastecimento em voo (o “C” é prefixo de aviões de carga, e o “K”, de tanque).

O projeto inicial da Embraer visava construir uma aeronave tendo por base a família de aviões comerciais E-190, um sucesso na aviação comercial mundial, capazes de transportar até 124 passageiros. Mas os militares brasileiros precisavam de algo que tivesse a capacidade e um desempenho que fosse no mínimo equivalente ao C-130 Hércules, e logo, a Embraer decidiu avançar com o projeto do KC-390, a partir do zero sendo totalmente voltado à utilização militar.


Atributos do projeto

Hoje o KC-390, é uma aeronave multifunção, com capacidade para: Transporte de carga, busca e salvamento, evacuação aeromédicas, combate a incêndios florestais, ajuda humanitária, além de reabastecimento em voo, tanto de aeronaves de asas fixas de alto desempenho, quanto aeronaves de asas rotativas.

Essa aeronave também pode transportar um helicóptero do tipo UH- 60 Black Hawk, 80 soldados equipados ou ser configurado para transportar 74 macas no padrão internacional da OTAN. O KC-390 também trás um grande avanço tecnológico na área de aeronaves de carga, possuindo avançado sistema de integração de dados e softwares. É aí que está a verdadeira inteligência, vendo que ele possui o sistema de “full fly-by-wire” nacional, além de modernos sensores de capacidade de contramedidas, e pra completar, também foi projetado para operar em climas adversos, desde o calor escaldante da Amazônia e Oriente Médio, até o frio congelante da Antártida.


Potencial de vendas

“O KC-390 será a espinha dorsal da aviação de transporte da FAB”, citou o tenente-brigadeiro Juniti Saito, comandante da Aeronáutica na ocasião. O Ministério da Defesa está investindo com força no projeto, o que de acordo com o site da FAB, gira em torno R$ 12,1 bilhões de reais, sendo R$ 4,9 bilhões (US$ 2 bilhões ao dólar de hoje) para o desenvolvimento da aeronave e R$ 7,2 bilhões para a aquisição das 28 unidades, que serão entregues ao longo de 12 anos. Os países parceiros na colaboração industrial e pesquisa, também possuem intenções de compra, totalizando assim, a venda de 60 aeronaves. Isso significa que seriam injetados mais de U$ 1 Bilhão de dólares na nossa economia, só com as vendas do KC-390, valores esses citados em entrevista com Raul Jungmann, ministro da Defesa. Também trará consigo o aumento da competitividade da nossa indústria, geração de empregos, além de cooperar para o avanço da ciência e tecnologia nacional.

A Embraer prevê uma grande demanda de aeronaves desse porte, pois muitos países são usuários do C-130 Hércules que já existe desde 1954, e atingirá o limite de seu ciclo tecnológico nos próximos 25 anos, onde deverão ser substituídos por aparelhos mais modernos e atualizados.

Com isso, a Embraer se pôs como principal concorrente da Lockheed Martin, fabricante do C-130, por estarem no mesmo nicho de mercado. Sem comparação, mas a nível de contingência, prevendo o sucesso do KC-390, a Embraer terá um retorno financeiro com o programa muito antes do que o projeto do 787 para a Boeing.


Aves mutualistas

Falando em Boeing, a empresa agiu como um termômetro de sucesso na empreitada do KC-390, investindo no projeto ao invés de concorrer com ele. “Se não posso vencer o inimigo, junto-me a ele”. Boeing e Embraer assinaram um acordo de parceria para vendas e suporte, explorando novas oportunidades de negócio, tanto para comercialização, quanto para manutenção. A Embraer irá fabricar a aeronave e a Boeing será responsável pela manutenção. Espertinha!

Atualmente, o primeiro protótipo do KC-390 já ultrapassou 100 horas de voo, desde sua decolagem inaugural em outubro de 2015, e sua fase de testes deve durar aproximadamente de 8 a 24 meses. Um segundo protótipo deverá ser apresentado ainda no primeiro semestre de 2017, com suas primeiras entregas previstas para o primeiro semestre de 2018.

Talvez, com a clássica descrença no potencial brasileiro, ainda não nos tenhamos dado conta do quão elevado está o nível da tecnologia brasileira, principalmente quando se trata de aviação. Mas se tem algo do qual devemos nos orgulhar, é da Embraer. Poucas nações no mundo conseguem dominar o ciclo completo de uma aeronave desse porte, e com tanta competência como o Brasil. Nosso país tem capacidade de fabricar equipamentos excelentes, o mercado militar está aberto e a timidez está acabando.

A Força Aérea Brasileira nunca deu um passo tão importante e tão bem sucedido no quesito. Agora seu único desafio é escolher um icônico sobrenome para o KC-390.

Tayly Vieira