Livre Pouso 14

posted in: Helena Gagine, Textos | 2

“Se caíres sete vezes, levanta-te oito!”

O.L.A. Srs. passageiros, eu sou o Cmte. desta Coluna e cumprimento todos a bordo em nome da Tripulação. Afivelem seus cintos, pois hoje vamos entrar em Autorrotação!

Como vimos mais detalhadamente na LP 13, a Autorrotação é o procedimento que permitirá ao piloto pousar um helicóptero em segurança, mesmo que enfrente uma pane de motor. Esse é um dos fatores que tornam o voo nessa máquina algo tão fascinante e encantador.

Minha primeira hora de treinamento foi com um INVH muito querido e que gosta bastante do que faz. Apesar de já trabalhar em uma grande empresa, vem sempre nos ensinar das suas. Quando eu crescer, quero ser como ele!

Logo depois do briefing para alinhamento das etapas do procedimento, que consiste em Entrada (reação imediata à pane apresentada e alinhamento dos parâmetros do manual), Planeio (descida em grande razão para o acúmulo de energia) e Flare (manobra para o aproveitamento da energia acumulada durante o planeio para conseguir a sustentação final que suavizará o impacto da descida, proporcionando um pouso seguro).

Decolamos do Campo de Marte e seguimos para a pista da Guarapiranga, um lugar com características similares às do Aeroporto, porém, com um visual muito bonito e um local bem mais calmo para treinamento. Para facilitar e, provavelmente, para aliviar a minha tensão e ansiedade, o INVH iniciou o treinamento com uma aproximação normal, me pedindo para manter os mesmos parâmetros de velocidade e atitude de cabine em uma autorrotação. Até então tudo tranquilo, e eu disse “Nossa, achei que fosse super tenso, uma situação de extremo stress!” e ele disse “Não é para ser!”. O sentido dessas palavras me acompanha até hoje nessas situações.

Depois de algumas aproximações treinando a manobra em modo “slow-motion”, efetuamos o procedimento completo e senti o forte impacto da gravidade atuando no meu corpo. Fui tomada por uma intensa emoção e a vontade que deu foi de soltar os comandos, jogar a mão para cima e gritar, como se eu tivesse em uma montanha russa, e curtir a sensação daquele instante. Mas, como somos futuros Comandantes… Vamos manter a postura, por favor!

Obviamente, após algum tempo, você não sente mais isso e se concentra somente no procedimento e na máquina. E, a partir deste momento, acontece algo muito diferente na cabeça do piloto. Um súbito de consciência de voo ou uma mudança repentina na atitude na cabine. Acredito que a autorrotação me trouxe à luz um comportamento muito importante que é o “olhar para fora da máquina”, de fato, observando um item que até então eu não prestava a menor atenção… Área livre para pouso em caso de emergência.

Estamos bem próximos da nossa CHT de Piloto Privado, a nossa primeira identidade neste fantástico mundo que escolhemos… Mas isso aqui é sua vida envolvendo a de outros, criatura piloto, não é brincadeira! Você até pode voar para se divertir, mas precisa estar consciente dos impactos e conhecer as situações que poderá ter que enfrentar. É um posto ou status que muitos sonham e almejam, mas poucos estão preparados para assumir tamanha responsabilidade… Intrínseca no peso desta pequena palavra que nos acompanhará por toda a carreira… Comandante.

Chegamos até aqui, aprendemos a voar e isso é realmente incrível!! Mas e agora, qual é a nossa atitude lá em cima? Aprendemos a subir aos céus, como seres alados e privilegiados que somos, contemplando o firmamento em um lugar único e especial, localizado logo na primeira fila. Subir virou rotina, ficou fácil… Mas tudo o que sobe, uma hora vai ter que descer… E aí, será que estamos prontos para isso?

Nos vemos em 15 dias !

Livre Pouso, pro corte! Boa!

Helena Gagine 

Renato Cobel
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