Nas asas da Tecnologia 01
Texto: Rodrigo Almeida – Vitrine: Eduardo Godoi
Olá Comandantes,
Me chamo Rodrigo Almeida, sou formado em Engenharia pela Universidade Federal de Viçosa em Minas Gerais e com Mestrado na mesma área pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, tenho 38 anos de idade e com muito orgulho, Piloto Comercial formado pelos Aeroclubes de Pará de Minas, São Paulo (Campo de Marte) e de Catanduva.
Através dessa coluna, venho relatar fatos, discussões, pontos positivos e negativos sobre toda e qualquer novidade relacionada ás tecnologias aplicadas em nossa amada aviação, especificamente dentro e fora de nossas aeronaves.
Inicio hoje essa com o tema sobre a utilização iPads.
Que os iPads já se tornaram parte da vida das pessoas, não importa se para as suas atividades profissionais ou de lazer, não resta dúvida. Negar isso seria mais ou menos como determinar que voltássemos a usar máquinas de escrever ao invés de computadores. Apesar disso, as autoridades aeronáuticas brasileiras insistem nas políticas do retrocesso e da negação do óbvio.
Imagem: Reprodução
Enquanto a ANAC estava sendo criada, ainda em 2007, o FAA já publicava uma norma em que com apenas 5 páginas (incluindo capa e glossário), classificava e autorizava o uso de EFBs (Electronic Flight Bags) em substituição da documentação de papel levada a bordo de aeronaves, demonstrando claramente que a responsabilidade pelo uso e pela atualização das informações era dos operadores e dos pilotos em comando. Nada mais óbvio e sensato.
Por aqui, no Brasil, esse assunto continua em discussão, com operadores e pilotos podendo ser autuados por inspetores da Agência Nacional de Aviação Civil que encontrem iPads a bordo, em utilização. Ironicamente, essas infrações podem se tornar multas, mesmo sendo muito provável que as informações obtidas e mantidas atualizadas em meio eletrônico estejam mais em ordem e atuais do que as divulgadas nas Salas AIS do Brasil inteiro.
Mas seguindo as tradições paternalistas e ineficazes da administração pública brasileira, as evidências não são suficientes para transformar as normas, deixando-as compatíveis com o mundo moderno.
Para completar o quadro de luta contra o inevitável progresso, o DECEA recentemente passou a divulgar, nas cartas e materiais que podem ser obtidos através do seu site AISWEB (por sinal, de grande valia, rapidez e qualidade), uma marca d´água, que se não fosse verdadeira seria motivo de risos, com a inscrição: “Não use em voo. Somente para Planejamento”.
Imagem: Reprodução
Anacronicamente, a estrutura de cartografia do DECEA e todas as suas publicações, em plena era digital que vivemos, segundo o Departamento, só servem quando impressas “oficialmente”, mesmo as distribuídas pelo seu próprio website!
Por lógica, pode-se deduzir então que todos os milhares (ou milhões) de reais investidos pelo Estado brasileiro no (excelente) sistema da AISWEB, pelo menos no que diz respeito às cartas, só se presta para vôos em simuladores! Inacreditável!
Não à toa, em uma edição publicada na conceituada Air Safety World, da Flight Safety Foundation, uma matéria trata especificamente do assunto das cartas eletrônicas e do inevitável uso dos iPads a bordo das aeronaves.
Na matéria, uma afirmação do Sr. Tom Enders, CEO da Airbus, resume o assunto: “O iPad está mudando a forma como os pilotos interagem com as aeronaves e o impacto desses produtos de fora do mundo da aviação, está começando a ditar o que as pessoas esperam de nós. Não podemos ignorar isso”.
É claro que não se pode advogar pelo uso indiscriminado de tecnologias que não garantem segurança ou atualização de dados. Porém, sabe-se que com menos de US$ 500,00 por ano, é possível manter uma assinatura de serviços digitais que oferece acesso a informações aeronáuticas em tempo real, com qualidade, usabilidade e versatilidade incomparáveis.
Será que podemos esperar sensibilizar os reguladores quanto a questões tão óbvias?
Rodrigo Almeida
engflorribeiro@yahoo.com.br