Por que descontinuar uma aproximação?

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O que é uma arremetida ou procedimento de aproximação perdida? Nada mais é do que um segmento do procedimento de aproximação que a aeronave deverá cumprir caso não obtenha condições favoráveis para pouso.

O procedimento de aproximação perdida tem início na DA (ou DH) de um procedimento de precisão ou APV, e na MDA (ou MDH) em um procedimento de não precisão. Este procedimento deve terminar em uma altitude e em um ponto que permita o início de uma nova aproximação, de uma espera, ou o retorno ao voo em rota.

Os principais motivos que levam o piloto a descontinuar uma aproximação, são:

  • Condições meteorológicas (visibilidade, chuva, Wind shear, etc.);
  • Aproximação desestabilizada;
  • Vento (acima da limitação da aeronave);
  • Solicitação da Torre de Controle; e
  • Qualquer outro fator que o piloto julgue aplicável.

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Ainda há resquícios de uma cultura obviamente equivocada, que vem desde os aeroclubes e escolas de aviação, de que o piloto que arremete é “fraco”, despreparado ou medroso. Ao longo do tempo, esta cultura tem mudado radicalmente, começando com a instrução de base, que atualmente apresenta um grau de profissionalismo maior e já adequado às novas padronizações. As empresas aéreas fazem há algum tempo uma ampla análise de suas operações, de modo a monitorar desvios que possam comprometer a segurança do voo, como por exemplo, a compulsão pelo pouso quando a arremetida seria a melhor opção.

Estudos e estatísticas comprovam que “forçar” um pouso pode resultar em um acidente grave. Portanto, é melhor dispender 5 ou 10 minutos para realizar uma nova aproximação com segurança, do que pousar no horário e sair do avião com as pernas tremendo, ou na pior das situações, nem conseguir sair do avião.

Insistimos muito nesse assunto, pois é triste ver que a todo ano dezenas de aeronaves, principalmente da aviação geral, se acidentam pela insistência e compulsão pelo pouso. Portanto, listamos alguns dos erros mais comuns associados à insistência pelo pouso, e à recusa em não iniciar um procedimento de aproximação perdida:

  • Descer abaixo da DA ou MDA sem ter avistado a pista;
  • Aproximações múltiplas sob condições meteorológicas adversas. Na ânsia pelo pouso, o piloto realiza 1, 2, 3, 4 aproximações, na esperança de avistar a pista;
  • Prosseguir na aproximação com a aeronave desestabilizada;
  • Prosseguir na aproximação com os limites de vento (cauda ou través) superiores aos estabelecidos pelo fabricante da aeronave;
  • Prosseguir na aproximação mesmo estando inseguro, seja por qual motivo for;
  • Falha no planejamento do voo, obrigando o piloto a “ter” que pousar no aeródromo de destino por falta de combustível para alternar;
  • Prosseguir na aproximação quando todas as aeronaves que o precederam arremeteram, pois se elas o fizeram, possivelmente a aproximação final não apresenta condições favoráveis; e
  • Pousar sob chuva forte.

O segmento de aproximação perdida descrito em uma carta de aproximação (IAC) deve ser de conhecimento irrestrito do piloto. Para tanto, durante o briefing da carta, deve-se observar com muita atenção tal procedimento, principalmente em arremetidas mais complexas, geralmente presentes em áreas com grande concentração de obstáculos e relevos acentuados.

É comum estarmos com a consciência situacional elevada nos dias em que a probabilidade de arremeter é maior do que a de pousar, como por exemplo, em uma aproximação com teto próximo aos mínimos meteorológicos do procedimento. Nestes dias, o piloto instintivamente dá a devida importância ao briefing do procedimento de aproximação perdida, e durante toda a aproximação está preparado para a execução deste procedimento.

Em dias de céu claro, este trecho da carta é praticamente desprezado por muitos, pois há plena convicção da realização do pouso. Mas “e se”!? E se por algum motivo você precisar descontinuar a aproximação, o que fazer? Você já ouviu dezenas de vezes que devemos “voar à frente do avião”, ou seja, estarmos preparados para uma situação antes que ela ocorra. Durante a arremetida, além de cuidar da navegação lateral e vertical estipulada pelo procedimento, você também deverá realizar a manobra específica da aeronave. Nos primeiros minutos de uma arremetida, a carga de trabalho é elevada, mas dentro da rotina operacional estabelecida ela é perfeitamente gerenciável. O simples fato de desconhecer o procedimento a ser executado irá prejudicar toda a manobra, aumentando ainda mais a sua carga de trabalho e diminuindo a segurança da operação.

Portanto, se por qualquer motivo você não estiver confiante em prosseguir na aproximação, arremeta. Na dúvida, arremeta!

Denis Bianchini

Alexandre Sales
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