No fim do ano passado, perto do ano de 2012, realizei uma das minhas viagens para Alemanha, a qual fiquei hospedado na casa da minha tia, que fica na vila de Gau-Odernheim (aproximadamente 40km de Frankfurt ). Mais precisamente no dia 13/01/2012, à noite, meu tio chegou do trabalho e me contou da possibilidade de que poderíamos visitar o museu de Speyer no dia seguinte, e que quando o seu pai chegasse no dia 15/01, poderíamos ir visitar outro, na cidade de Sinsheim. Fiz uma breve pesquisa na internet, e o que eu encontrei, me deixou muito ansioso.
Saímos pela manhã as 07h, a temperatura ambiente estava na casa dos 3°C negativos. Levamos aproximadamente 40 minutos até a chegada ao local. O museu de tecnologia de Speyer fica na cidade de mesmo nome, localizada à uma hora do aeroporto de Frankfurt. O museu exibe uma grande variedade de peças tecnológicas misturadas com carros bastante raros. O ônibus espacial russo Buran esta lá ao lado de raridades como um Facel Vega Hk500 e algumas Mercedes 300 SL. Não é dos maiores, mas a variedade de peças vale a visita. Mesmo antes de entrar no museu já dava pra ver várias coisas que estão expostas do lado externo do museu, como aviões, helicópteros, locomotivas, barcos e submarinos.
Acredito que estas ‘obras’ estão do lado de fora por não entrarem no galpão, o que me faz acreditar nisso é principalmente, o fato de haver um Boeing 747 da Lufthansa. Quando na estrada eu vi aquele avião, eu pensei: “é do lado de um aeroporto, porque aquele Boeing tá muito baixo”. O museu é realmente do lado de um aeroporto, mas só para aviões monomotores. O avião estava suspenso lá.
Este “747” foi o que mais me deixou empolgado e me fez virar criança, foi só questão de entrar no museu pra ficar “mais faceiro que pinto no lixo”. Como bom aficionado por aviões que sou, ao abrir as portas desse galpão (que olhando de fora não prometia nada), me surpreendi com INÚMEROS aviões clássicos e de época, fiquei mais perdido “que peido em bombacha” (juro que eu não sabia por onde começar). Bom, só para terem uma ideia da minha empolgação, tirei mais de 1500 fotos em 1h, o meu tio já estava do lado de fora, e eu lá, ainda olhando detalhe por detalhe. Achei incrível eles terem inúmeras coisas de épocas de guerra, como roupas, carros e aviões. Muitos deles estão com a lataria fuzilada ou é apenas um destroço que foi recuperado. Vendo esses objetos dá pra ter uma noção da violência e da destruição que ocorreu naquele período.
Não preciso dizer que, como tudo na Alemanha, o lugar é muito organizado e sinalizado. Tudo que está exposto tem uma placa com informações técnicas e históricas em inglês e alemão. Há também umas máquinas bizarras que se pode colocar uma moeda, para então ela tocar uma música por certo tempo e também existem alguns aparelhos que reproduzem o som do equipamento funcionando, mas a segunda opção não tem para tudo o que está exposto, eu ao menos só vi pra locomotivas. As aeronaves geralmente estão em cima de pilares e é necessário subir escadas pra poder ter acesso, o que acho legal, pois às vezes parece que você está voando (pelo menos não está no chão hehe).
Entre os veículos que se pode entrar, estão um Boeing 747, helicópteros ucranianos da segunda guerra, um avião cargueiro AN 22, e dois A320, um barco não tão pequeno e um submarino. Destaco o submarino, que o interior é muito apertado, não entendo como os tripulantes conseguem ficar mais de um dia a bordo naquela lata de sardinha. O Boeing oferece como opção de descida um tubo de aço inox: é só pegar um tapetinho, sentar e se atirar tubo abaixo. O engraçado é que tinha muita gente de mais idade (creio que um deveriam possuir mais de 60 anos) utilizando aquele meio de saída.
Tratando-se da atração principal do museu, que é o ônibus espacial russo Buran, contarei um pouco da história dele:
No início dos anos 70, o programa espacial norte-americano decidiu que era o momento de desenvolver um veículo espacial reutilizável, que pudesse ir ao espaço, realizar sua missão e retornar em segurança à sua base de origem. Nascia o projeto do “Ônibus Espacial”. Em plena guerra fria, quando os soviéticos tiveram informações sobre o projeto, imediatamente começaram a imaginar que o desenvolvimento do ônibus espacial teria objetivos militares, apesar de não saberem exatamente quais seriam as reais intenções. Moscou decidiu então que deveria ter um projeto de veículo espacial reutilizável, para fazer frente aos “yankees”. A estratégia seria copiar tudo o que fosse possível do projeto americano, desenvolvendo tecnologias e soluções diferentes apenas nos casos onde fosse estritamente necessário. O tempo era um fator importante, e eles estavam bem atrás dos americanos. O projeto foi chamado de “Buran” (tempestade de neve), e durante anos foi o principal destino dos recursos do programa espacial soviético.
Na década de 80 o sucesso do programa norte-americano era inegável. Vários voos tripulados foram realizados com sucesso em diferentes tipos de missões e naves. Alguns problemas sérios, como a explosão da Challenger em 1986, não foram suficientes para mudar essa opinião. Enquanto isto, uma série de atrasos minava cada vez mais a confiança soviética de que seu projeto seria bem sucedido. No final da década de 80 nenhuma espaçonave reutilizável russa tinha feito voos oficiais. Mesmo pressionados, os engenheiros de Baikonur ainda achavam que um voo tripulado seria arriscado demais. Esta condição fez com que em 15 de Novembro de 1988 a Buran fizesse seu primeiro e único voo espacial, executando duas órbitas terrestres e pousando em segurança sem nenhum cosmonauta à bordo. Detalhe: O voo foi totalmente realizado por controle remoto.
Outros voos estavam marcados para 1993, mas o colapso do regime soviético do início da década de 90 impediu que eles ocorressem. As verbas e subsídios estatais ao programa acabaram, e a Buran e seus protótipos ficaram esquecidos na base de Baikonur, no Cazaquistão, em hangares sem manutenção, entregues à própria sorte. Em maio de 2002, o hangar 112 da Base de Baikonur, onde a Buran e seus enormes foguetes propulsores estavam armazenados ruiu devido à falta de manutenção, destruindo totalmente a única nave do Projeto que tinha saído da atmosfera terrestre. Até hoje seus destroços permanecem no local, uma testemunha muda do fracasso soviético.
Alguns anos depois, o governo russo, sem ter o que fazer com o espólio do projeto vendeu alguns dos protótipos de testes para empresas que pretendiam explorar as aeronaves, expondo-as em eventos como feiras e shows aéreos. Porém, a baixa venda de ingressos em eventos durante as olimpíadas de Sidney 2000 e alguns shows aéreos na Ásia e Oriente Médio terminaram com a “vida cigana” das Buran. Um total de oito protótipos foram construídos para execução de testes. O modelo OK-GLI, conhecido como “Analog Buran“, era um dos mais interessantes. Este era o único dos protótipos que podia voar, apenas com um avião. Ele foi usado para testes de comportamento aerodinâmico e testes de pouso. Após decolar, ele ejetava os foguetes laterais e podia realizar um pouso com a configuração real que a Buran teria em seu retorno à atmosfera.
Após ficar abandonada durante anos no Bahrain, foi recuperada em uma grande operação logística, e hoje está restaurada e em exposição no sensacional museu de tecnologia de Speyer. Sim, o Buran que está lá em Speyer é o mesmo que voou com o AN 225.
Pela experiência que tive na visita ao museu, afirmo que, quem for dar uma passada pela cidade de Speyer, não pode deixar de visitar este lugar, principalmente aqueles que são loucos por carros e aviões. E essa foi o primeiro dia de visita aos museus na Alemanha, fique á vontade de checar o meu álbum com mais fotos do local. Na próxima tem o de Sinsheim.
Felipe de Lara.
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