E aí Cmtes, tudo tranquilo? Maravilha!
Dando continuidade ao relato de hoje, segue a segunda parte ;)
Se você não viu a primeira, pode acompanhar por aqui.
Enquanto eu olhava pra torre, esperando os sinais, o Gustavo começou a mexer no rádio, apertou uns botões e a comunicação se reestabeleceu:
– Torre Londrina, na escuta do BTW?
– Afirmo. Recebe a fonia da torre BTW?
– Afirmativo.
– Recebeu as instruções anteriores, BTW?
– Negativo torre. Tivemos um problema de rádio, mas aparentemente voltou ao normal, BTW.
– Ciente, autorizado girar base, reporte na final, BTW.
– Ciente, girando base. Reportará na final, BTW.
Bom, o susto passou e prosseguimos com a aula. Não seria desta vez que eu teria de usar os sinais luminosos para pousar. Chegamos na final e o Gustavo pediu para fazer pouso completo, devido ao problema no rádio. Solicitei e a torre atendeu:
– Autorizado pouso pista 13, vento 120/12Kts, QNH 1023, BTW.
– Livre pouso, BTW.
Começamos os procedimentos e logo recebemos uma nova fonia.
– BTW, vento variando para 090/14kts.
– Ciente, BTW.
Avisei o Gustavo e isso deveria encerrar de vez o voo naquele dia. Novamente outra fonia.
– BTW, nova variação do vento. No momento 140/12Kts.
O vento estava bravo naquele dia. Chegando na final, quase no toque, o Gustavo pediu para fazer toque e arremetida. Eu já tinha pedido pouso completo e para ajudar, ele estava sem comunicação. Então, com a cara e com a coragem, chamei a torre:
– Torre, mudança de planos para o BTW, autoriza toque e arremetida?
– Afirmo, autorizado toque e arremetida pista 13, vento 120/12Kts, QNH 1023.
– Autorizado toque e arremetida, BTW. Desculpe pelo transtorno.
Eu não sabia onde enfiar a cara, pela segunda vez eu tinha mudado as intenções de pouso em cima da hora. O controlador deveria estar uma fera comigo já, mas segui firme na minha posição de comunicador. Efetuei o toque e partimos para o penúltimo toque do dia. Para minha sorte, o controlador era muito tranquilo e habilidoso no trabalho, e sempre que voo com ele, ele está de bom humor. É o tipo de controlador que ajuda quem está aprendendo a voar.
A fonia dele é clara e tranquila, se você pedir para repetir uma informação, ele faz com bom humor, com uma entonação melhor, mas em momento algum é arrogante ou impaciente. Infelizmente não conheço os controladores dali por nome, somente um, que é amigo do meu irmão, mas não o conheço pessoalmente. De qualquer forma, em todos os meus voos os controladores foram solícitos e sempre estiveram dispostos a ajudar. Aproximando para o último toque do dia, recebo a autorização:
– BTW, autorizado toque e arremetida pista 13, vento 140/14Kts, QNH 1023.
– Autorizado toque e arremetida para o BTW, pista 13.
Neste momento fui atingido por uma rajada de vento que me atirou alguns metros fora do eixo da pista e no mesmo momento a torre me comunicou:
– BTW, somente para informação, tivemos um pico de 17Kts no vento no momento.
– Ciente, acabei de receber a rajada, BTW.
Prossegui para o toque e entrei novamente no circuito de tráfego. O vento ainda batia e dava trabalho para manter a aeronave no eixo. Porém, como um bom aluno, consegui manter o eixo da perna do vento, impedindo que ele me jogasse para cima da pista. Chegando no través, comuniquei a torre que me autorizou a girar a base e prosseguir para pouso completo. Chegando na final, informei:
– Torre, BTW na final da pista 13.
– BTW, autorizado pouso pista 13, vento 100/12Kts, QNH 1023. Bom pouso.
– Grato. Livre pouso, BTW.
Um vento de quase través atuava no momento. Prossegui e o pouso foi um pouco brusco novamente. Porém, desta vez o catrapo foi por conta do estou no pouso. Estávamos com full flap e no momento de quebrar o planeio estávamos a menos de 50 MPH, e a velocidade do estol com flap no C150 é de 49 MPH. Neste momento estolamos e tocamos mais brusco o solo. Este é outro motivo pelo qual não gosto de pousar com flap.
Na hora de quebrar o planeio, você perde velocidade muito rápido e acaba estolando. Se estiver um pouco mais alto, o catrapo acontece. Quando soou a buzina de estol, apliquei potência a fim de aumentar a velocidade e não estolar, mas preferiria não ter feito isso. Assim que estolou e tocou a pista, com o aumento de potência fomos para o ar novamente e fiz o famoso pouso ping pong. Acredite, eu consegui essa proeza com um C150.
Se fosse com um Boero, com o amortecedor de mola, até passaria, mas com um C150, só eu mesmo. Após o pouso, a torre nos pediu para efetuar um 180 sobre a pista e livra na taxiway B, por conta de obras entre a C e a B. Efetuamos o backtrack com agilidade para livrar a pista o mais rápido possível e taxiamos até o aeroclube. No debriefing, o Gustavo só alertou para o vento, que estava forte e que para manter o eixo durante a aproximação, baixar a asa para o lado do vento e dar pedal para o lado contrário a fim de controlar a direção do avião, inibindo a força e direção do vento.
Em outros termos, fazer uma glissada ou a “caranguejada” para pousos com vento de través. E a última dica foi com relação ao pouso, que apliquei potência quase ao tocar a pista. Nestes casos, a não ser que estejamos muito altos, quando a buzina de estol soar, basta dar uma aliviada no manche a fim de suavizar o pouso. Dito isso, finalizamos o debriefing e parti de volta pra casa.
E este foi mais um relato do meu dia a dia na formação de Piloto Privado.
Futuro Piloto
Fábio Miguel