A Vida de um Futuro Piloto 12
Texto: Fábio Miguel – Vitrine: Eduardo Godoi
E aí Cmtes, tudo tranquilo? Maravilha!
Enfim chegou o grande dia! O dia do meu voo solo. Procurei colocar todos os detalhes do voo e do dia para que a leitura ficasse bem completa. Coloquei praticamente todas as fonias e acontecimentos do voo. E por ser uma ocasião especial, deixei o relato em uma parte única. E sim, ficou maior que os demais da série, mas é por uma boa razão ;)
Apreciem a leitura!
Após meu voo na quarta-feira, dia 21/09, fiquei de marcar meu voo solo para o fim de semana, com o intuito de conseguir um dia onde meus pais pudessem ir me assistir e presenciar este momento comigo. O Thomé tinha falado para marcar o quanto antes, pois a instrução estava recente e seria mais bem aproveitado o voo desta forma.
Entretanto, pensei comigo: Bom, se hoje é quarta e eu quero marcar o voo para o fim de semana, serão 3 ou 4 dias sem voar, o que teoricamente não é muito. E para o voo não tem segredo, pouso e decolagem. Pensando desta forma, optei por deixar o voo para o fim de semana mesmo.
Porém, como era de se esperar, São Pedro nunca colabora com os aviadores da primeira vez. Eu desconheço alguém que tenha conseguido marcar o solo ou o check em um dia e alguma condição climática não tenha atrapalhado. Pois bem, comigo não poderia ser diferente. Ainda na quarta à tarde me ligaram para marcar um voo.
O voo seria para o dia seguinte, quinta-feira. Conversei com o pessoal das operações do aeroclube e pedi para tentar marcar o voo no fim de semana. No dia seguinte me ligaram para um voo na sexta-feira. Eu pensei bem, e resolvi topar o voo.
Tentaria convencer meus pais para poder pegar uma dispensa do trabalho e ir me assistir. Olhei a previsão para sexta e o tempo iria virar para chuva. De qualquer forma, aguardei o dia seguinte para ver como ficariam as condições. Logo na parte da manhã, saí para cortar o cabelo e reduzir drasticamente a área coberta de cabelo para o banho de óleo.
Já a caminho no barbeiro, recebo a ligação do aeroclube informando que o tempo estava fechando e que as condições não favoreceriam meu voo. De qualquer forma, agendei o voo para o dia seguinte, sábado, e aí tudo ficaria certo. Meus pais não teriam problemas com o trabalho e daria tudo certo. Daria, não fosse novamente a “ajuda” de São Pedro.
No sábado de manhã, me ligaram dizendo que o avião tinha dado um problema e que não ficaria pronto até meu voo.
Desta vez quem esteve atuando juntamente com São Pedro foi meu querido amigo Murphy. Ele e São Pedro formam uma dupla implacável quando se diz respeito a cancelar voos. Nenhuma outra dupla no mundo consegue superá-los nisso. Enfim, agradeci e tentei marcar o voo para o domingo, que estaria com tempo bom e ainda sim conseguiria levar minha família e amigos para ver meu solo, mas sem sucesso.
Bom, o jeito então foi passar o domingão em família, curtindo histórias e dando boas risadas. No final da tarde de domingo, recebo a ligação marcando o voo para segunda-feira no fim da tarde, 16h30min. Não tinha outra opção a não ser aceitar, afinal, já estava se tornando uma novela esse voo solo.
Segunda não é o dia mais apropriado para que meus pais consigam ir, porém, eu não poderia ficar esperando até o fim de semana que vem. Eis que chega segunda-feira, dia 26/09. Logo na parte da manhã, saí para arrumar as coisas para gravar o vídeo e para o banho de óleo. Comprei um suporte para a câmera, daquele tipo para GPS, comprei umas roupas nesses bazares de roupas a 10 reais, um vidro de detergente e peguei alguns jornais para forrar o banco do carro.
No meio dessa correria, a ligação que ninguém gosta de receber. Voo cancelado, pois o avião ainda não estava pronto. Estava difícil conseguir solar. Estava mais fácil eu fazer o voo de check do que sair meu solo. Enfim, que outra opção eu tinha? Terminei de comprar as coisas, afinal eu já estava no centro mesmo e eu precisaria delas para o voo, fosse ele quando quer que fosse.
Já a caminho da faculdade, recebi a ligação. Desta vez, voo terça-feira, 27/09/11, às 7h. Era o primeiro horário da manhã. O primeiro horário da manhã é o melhor para voar. O tempo está fresco, temperatura boa, vento calmo, e na maioria das vezes com boa visibilidade. O problema do primeiro horário é ser o primeiro horário. Principalmente para mim, que moro fora de Londrina.
Eu teria que acordar 5h, sair de casa 5h30min e ir de carro para Londrina, uma vez que minha van só chega lá perto das 8h. Seria cansativo, eu tive faculdade na 3ª e estava muito ansioso com o voo. Eu teria que dormir cedo para descansar e estar pronto e preparado para o voo. Eu preferiria o último horário, assim eu teria mais tempo para dormir e me preparar mentalmente para o voo. Enfim, já estava marcado, era hora de ir.
Cheguei da faculdade e já estava com sono, aproveitei esse fato e já comecei a me aprontar para dormir. Meia noite marcava o relógio quando fui para meu quarto. Ajustei o despertador e deitei. Foi a noite mais longa da minha vida. Eu acordei umas 200 vezes entre meia noite e meia e 5h.
A cada cinco minutos acordava e olhava a hora, pensando eu tinha perdido o horário. Quando foi 4h30min, não consegui dormir mais. Fiquei deitado na cama até 4h50min e resolvi levantar de uma vez. Tomei um banho rápido nesses 10min de vantagem que tinha conseguido, tomei um café leve, shake de morango e um pão com requeijão e salada. Preparei as coisas, material, documentos, câmeras e suportes e roupas e parti para Londrina pontualmente às 5h30min.
Combinei com o Guilherme de ir comigo para gravar o que conseguisse do voo e também para que ele pudesse prestigiar esse momento tão importante para mim, que se não fosse por ele, talvez eu não estivesse realizando esse voo hoje e nem estaria no curso de PP. Era um horário ruim para acordar, ainda mais que passaria na casa dele por volta de 6h30min. Mesmo assim, ele topou e 6h30min estava me esperando lá. Partimos para o aeroclube, ainda fechado, e ficamos aguardando pela chegada dos instrutores.
Normalmente eles chegam 7h, então esperamos um pouco e logo apareceram o Corchielli e o Thomé. O processo para passar uma notificação de voo solo é diferente dos demais voos do aeroclube, pois eu preciso assinar a notificação. Devido a este fato, assim que o Thomé chegou, fomos à sala AIS do aeroporto de Londrina passar a notificação.
Meu voo solo seria com o PR-BLO. Eu só havia voado com ele uma vez nos treinamentos de toque e arremetida, mas nem por isso eu ia desistir. Passamos duas notificações de 30min de voo cada uma. Uma com 2 à bordo e uma só comigo.
A primeira notificação seria para um voo rápido para que o Thomé avaliasse minhas condições de fazer o voo, bem como as condições do tempo no circuito, para saber se estava muito turbulento, se tinha vento de través e para dar algumas instruções sobre o voo solo.
Além disso, treinamos possíveis panes que pudessem acontecer durante o voo, para que eu soubesse como lidar com cada uma delas. O segundo voo seria meu voo solo em si. Feitas as notificações, voltamos para o aeroclube para preparar a aeronave. Fizemos o briefing no caminho para ganhar tempo e não atrasar o voo. O briefing foi simples:
– Fabão, voo solo hoje. Chegou o grande momento. O voo é o mesmo que fizemos em todos os nossos treinamentos de TGL. Decola, sobe para o circuito, vem pra toque e arremete. Não tem segredo. O primeiro voo eu vou com você para passar algumas instruções adicionais e depois a gente volta e eu solto você solo.
– Fechado, vou correr fazer a inspeção e preparar a aeronave.
– Isso, vai lá. Enquanto isso eu tomo um café rápido aqui.
Cheguei ao BLO e fiz uma rápida, porém cuidadosa e minuciosa, inspeção externa, chequei os componentes, combustível, comandos, óleo do motor, superfícies e tudo mais. Assim que terminei, o Thomé estava chegando e já pediu para que eu entrasse, copiasse o ATIS e chamasse para acionamento.
O primeiro voo da manhã é corrido, ainda mais o voo solo, que é necessário ir até o aeroporto para fazer a notificação. Por este motivo, não preenchi a ficha de peso e balanceamento e também não consultei TAF e METAR. Porém, com a experiência de voo, é possível saber se o avião está dentro do envelope.
Como estávamos com 35L de cada lado, juntando meu peso e o do Thomé, eu sabia que estávamos com 5Kg livres ainda, então não havia problema com relação ao peso da aeronave. Quanto ao METAR e TAF, dei uma olhada, como sempre faço, antes de sair de casa. A previsão era de tempo CAVOK para todo o período do voo, e o vento estaria alinhado com 6Kts.
De qualquer forma, o ATIS nos informou as condições e a torre nos mantinha informados com as mudanças que iriam ocorrendo. Antes do voo, corri pegar as câmeras e suportes para colocar no avião e filmar o voo. Coloquei o primeiro suporte e como estávamos atrasados, deixei somente um, filmando a cabine do avião. Chamei para acionamento:
– Torre Londrina, bom dia. PR-BLO.
– PR-BLO, torre Londrina, bom dia.
Eu não sabia que teria que chamar para voo solo depois, então reportei já na primeira fonia.
– Torre, o BLO está no pátio do aeroclube, ciente da informação L, solicito acionamento e autorização para voo de instrução TGL, voo solo.
Neste momento o Thomé entrou rapidamente na fonia e disse:
– Negativo, o primeiro voo é voo normal.
– Ciente BLO. Autorizado voo de TGL, aciona 0152 no transponder, decola pista 13, curva esquerda após. QNH 1021.
– 0152, decola da 13 com curva a esquerda. 1021 no altímetro, BLO.
– BLO cotejamento correto, acionamento a critério, chame para taxi.
– Chamará para o táxi, BLO.
Efetuamos o check de acionamento e demos partida no motor. Demorou um pouco para pegar, era o primeiro voo do dia e o tempo estava mais fresco um pouco. Depois da segunda tentativa o motor pegou e neste momento a câmera caiu. Depois do check pós-acionamento, tentei fixar novamente a câmera em um local que fosse menos arredondado, porém não achei. Fixei-a novamente no painel e prosseguimos para o taxi.
– Torre Londrina, BLO pronto para o taxi.
– BLO, taxi autorizado até o PE da 13, reporte ingressando no pátio principal.
– Autorizado taxi, BLO.
Comecei o taxi e a câmera caiu novamente. O painel do C150 é feito de um material meio irregular, poroso, e além da superfície não ser totalmente lisa, ela não tem um ponto onde ela é plana. Por conta disso, o suporte até se fixava em um primeiro momento, mas por conta da trepidação do motor e do próprio taxi, ele se soltava após alguns segundos. Desisti então de tentar filmar, pelo menos com aquele suporte. Ingressamos no pátio e a torre nos autorizou o PE da 13.
– BLO, taxi até o PE da 13, atento ao ATR da companhia TRIP, reporte pronto como número 2.
– Autorizado PE da 13 como número 2, reportará pronto, BLO.
Apesar de estarmos autorizado para o PE, o TRIP ainda não havia começado o taxi. Então o Thomé falou para pararmos no Box #7 e realizar os testes de motor ali mesmo a fim de agilizar o processo. Assim o fizemos.
– Torre Londrina, BLO pronto no Box #7.
– Ciente, autorizado alinhar e manter, BLO.
– Alinha e mantem, BLO.
Alinhamos na pista, check pré-decolagem feito, agora só faltava a autorização, que veio logo em seguida:
– BLO, decolagem autorizada, atento ao tráfego que acabou de decolar. Curve à esquerda após a decolagem. Vento 180/04Kts, QNH 1021.
– Livre decolagem, BLO.
Acelerei o “bichinho” e começamos a rodar. Como era nítida a diferença de potência com o BLO. Ainda mais que ele estava dentro do envelope. Logo atingimos os mínimos e a VR. Para variar um pouco, o Thomé tomou os manetes e eu já me preparei para a pane. Atingimos 60MPH e tirei o avião do solo. Já esperando pela pane, fiquei administrando para ganhar um pouco mais de velocidade antes da pane.
Procurei manter entre 75 e 80 para dar tempo de arredondar e fazer um toque mais suave. Porém fomos subindo e nada de pane. Atingi 2200ft, efetuei o check pós-decolagem e assim que atingimos, ele tirou motor e disse pane. Me perguntou onde eu pousaria em caso de pane naquele momento.
A opção mais adequada seria em frente ou nas laterais, como no briefing de emergência. Escolhi o campo em frente, e comecei o planeio. Assim que garanti o pouso, ele pediu para arremeter e continuar no circuito. Curvei à esquerda e no ponto médio da pista já estávamos na altitude de tráfego. Informei a torre assim que chegamos no través da 13 e ela já nos autorizou girar base.
O BLO tem uma tendência forte a querer continuar subindo, mesmo com os comandos e compensadores em neutro. Ajustei o compensador para que ele se mantivesse em voo nivelado e continuasse na altitude de tráfego. Assim que passamos o través, o Thomé pegou os manetes simulou uma pane na perna do vento.
Comecei a descida e a curva para cima da pista. A torre nos autorizou o TGL e prosseguimos firmes para o toque. Assim que garanti o pouso, como em toda simulação de pane e em pane real, apliquei full flap e fui para o toque. Tocamos suaves para o primeiro toque do dia. Segurei o bicho no chão, retirei os flaps ao mesmo tempo em que apliquei potência.
Flaps recolhidos, mínimos e VR atingidos, tirei o BLO novamente do solo para mais uma circuito. Durante esse circuito o Thomé me deu algumas instruções adicionais:
– Fabão, pede pouso completo agora. Seguinte, se der algum problema aqui, a alternativa é Sertanópolis, você sabe como chegar lá. É só seguir o rio. Cabeceiras 10/28, 1200ft de pista. Procure saber a direção do vento para escolher a cabeceira. Em caso de pane, escolha um local livre de obstáculos para pousar e se der, volte pra pista. Em caso de algum outro tráfego e a torre te mandar fazer espera, tranquilo. Se for pela esquerda, é só ficar na região do Estádio do Café, se for pela direita, espera sobre o Shopping Catuaí. Sabe identificar esses pontos?
– Afirmativo. Está tudo tranquilo. Pode deixar que eu estarei pronto para o que der e vier.
– Tranquilo então. No mais, curta seu voo solo, aproveite o momento e depois é o banho de óleo.
Chegamos no través, solicitei pouso completo.
– BLO autorizado toque e arremetida pista 13, vento agora com 150/05Kts. QNH 1021.
– Negativo, o BLO vai prosseguir para pouso completo.
– Afirmativo, BLO, pouso autorizado.
Efetuei os checks, alinhei com a pista e fizemos um pouso tranquilo novamente. Livramos na C e prosseguimos para o taxi até o aeroclube. Durante o taxi o Thomé perguntou à torre sobre a segunda notificação:
– Torre, já tem a notificação para voo solo do BLO?
– Afirmativo, pronto para cópia?
– Afirmo.
– Decola pista 13, curva à esquerda, mantenha o transponder em 0152, QNH 1021. Chame quando pronto para o novo taxi.
– Mantem 0152, decola pista 13 com curva à esquerda. Chamará para o novo taxi, BLO.
– BLO, cotejamento correto.
Taxiamos até o pátio do aeroclube onde o Thomé deixaria o posto de comandante da aeronave e eu assumiria integralmente os comandos para meu voo solo. Durante o taxi ele me disse que eu faria 2 toques e um pouso completo. Caso não desse tempo por conta de alguma espera ou algo assim, eu faria apenas um toque e um pouso.
De qualquer forma, ele me disse que eu tinha que estar no solo às 9h15min. Como pousamos às 8h45min, eu tinha 30min de voo ainda. Chegamos no pátio do aeroclube e ele desembarcou, me desejou boa sorte e foi para a sala de instrução pegar o rádio e ficar na fonia. Neste momento tentei instalar o segundo suporte.
Como tinha comprado ele no dia anterior, ele estava novo e achei que conseguiria ficar firmado no painel. Coloquei ele lá e chamei a torre para o novo taxi:
– Torre, BLO pronto para o novo taxi.
– BLO, autorizado taxi, informe no pátio principal.
– Informará, BLO.
Iniciei o taxi sem problemas, fui fazendo todos os call outs e checks em voz alta. Não era porque estava sozinho que eu teria que deixar de fazê-los. Ao começar o taxi, o segundo suporte também caiu e com ele a minha câmera, que por sinal quebrou na queda. Peguei o suporte, coloquei no bagageiro do avião e desisti de vez de filmar o voo.
Informei no pátio e a torre autorizou o PE. Chegando no PE, efetuei novamente o check de motor para verificar se estava tudo em ordem e chamei pronto. Decolagem autorizada. Alinhei, conferi os instrumentos e comecei meu primeiro voo solo. Atingidos os mínimos e a VR novamente, agora muito mais rápido que antes, devido ao peso do avião, tirei o BLO do solo e comecei a subir.
– BLO, decolado aos 50, tráfego padrão, informe no través da 13.
– Informará no través da 13 via tráfego padrão, BLO.
Atingi 2400ft pouco depois de começar a curvar para o circuito. 2900ft terminando de estabilizar na perna do vento. Compensei o avião novamente para que não continuasse subindo, reduzi a potência a fim de manter 80 MPH e comecei a curtir a vista e o voo solo. Chegando no través, reportei e a torre autorizou o primeiro toque do voo solo.
Aguardei ficar 45º com a pista para girar base, efetuei os call outs, check e girei base. Alinhei na final e a torre informou:
– BLO, toque e arremetida autorizados pista 13, vento 140/04Kts, QNH 1021.
– Autorizado toque e arremetida, BLO.
Toquei em mais um pouso suave e já apliquei potência para decolagem. Iniciei o novo circuito e quando atingi o ponto para girar base, a torre informou sobre um tráfego proveniente do Bacacheri, que estava se aproximando pela direita. Autorizou meu toque e informou para que efetuasse o circuito também pela direita.
Alinhei, tudo tranquilo, pouso normal, potência e fora do solo novamente. Curvei à direita e fiquei visual com o Bandeirante ao qual a torre havia notificado. Atingindo o través, reportei:
– BLO no través da 13 pela direita.
– BLO, visual com o tráfego na final?
– Afirmativo.
– Após superá-lo lateralmente, autorizado girar base, mantendo separação. Informe na final.
– Vai girar base após superar o tráfego e informará na final, BLO.
Assim que superei o tráfego, o Thomé entrou na fonia e me comunicou:
– Fabão, está tranquilo. Pode pedir mais um toque.
– Ciente Thomé.
Era perto das 9h05min quando entrei na final para fazer o pouso completo quando recebi a fonia do Thomé. Mudança de planos, vamos para mais um toque. Alinhei, vento tranquilo, pouso suave e arremetida após o 3º toque do voo solo. Mais uma vez a torre pediu o tráfego pela direita e assim o fiz. Aproveitei para tentar fazer um pequeno vídeo para guardar de lembrança. De olho nos comandos e instrumentos, coloquei a mão para trás e achei a câmera.
Tentei tirar algumas fotos, mas toda vez que eu ia tirar alguma foto, ela desligava. Mudei para o modo filme e testei. Funcionou. O resultado foi um pequeno vídeo da vista que tinha dali de cima. Não pude filmar muito, pois estava segurando a câmera na mão e o tempo que tinha para fazer a filmagem era curto. Assim que recebi a fonia, desliguei a câmera e ouvi atentamente.
– BLO, efetue um 360 pela esquerda. Tráfego na longa final. Informe reingressando na perna do vento.
– 360 pela direita, BLO.
Na hora eu não percebi, pois como sempre fazia o circuito pela esquerda, os 360 eram pela direita e falei automaticamente. Porém, sabia que o 360 seria pela esquerda, somente na hora da fala que foi automático. No mesmo momento a torro corrigiu:
– Negativo BLO, 360 à esquerda.
– Esquerda, BLO.
Comecei a curva, um pouco mais aberta para aguardar o tráfego na final. Comecei a curvar o BLO começou a subir. A altitude de tráfego é de 2900ft ali em SBLO. Durante a curva, mesmo com o avião compensado e com manche à frente, atingi 3200ft. Tirei potência e comecei a descida novamente para a altitude de tráfego. Superado o tráfego, iniciei a base:
– BLO, toque e arremetida autorizados pista 13, vento 150/06Kts, QNH 1021.
– 1021 BLO. Torre, o BLO vai prosseguir para pouso completo.
– Ciente, pouso completo, BLO.
Alinhei, vim trazendo o C150 com tranquilidade até o toque suave e centralizado na pista 13. Novamente ouço a fonia:
– BLO, solo aos 10, autorizado taxi via C e E. Reporte ingressando no pátio principal.
– C e E para o BLO.
Livrei a pista na C, efetuei o check pós-pouso, e comecei o taxi até o pátio com a sensação de missão cumprida. Antes de chegar ao pátio e torre autorizou o cruzamento do mesmo e pediu para informar livrando. Assim o fiz:
– BLO livrando o pátio principal.
– BLO, mantenha escuta até o corte. Taxi autorizado até o aeroclube. Parabéns.
– Obrigado, bom trabalho.
É muito motivador quando até os controladores reconhecem esse momento. Foram longas horas de treinamento, erros de fonia, manobras e mais manobras, panes, pousos e decolagens até chegar ao momento mais aguardado da vida de todo futuro piloto: o voo solo. Taxiei até o aeroclube e parkeamos o avião.
Fiz o check de abandono e prossegui para o debriefing. É gratificante ver que todos reconhecem seu esforço. Todos os presentes ali me cumprimentaram pelo voo. É indescritível a sensação. No debriefing, mais elogios por parte do Thomé, que solava mais um aluno.
Finalizamos o debriefing e era hora do batismo na aviação: o banho de óleo. Porém, eu precisava ir até o centro da cidade para fazer umas coisas e também na esperança de que o tempo esquentasse um pouco. Estava na casa dos 20 graus quando terminei o voo, e eu não estava afim de um banho gelado.
Prometi que voltaria para o banho de óleo assim que terminasse as coisas que tinha para fazer. Quando foi 10h, voltei ao aeroclube para receber o batismo. O Thomé estava saindo para voo naquele horário. Aguardei até ele voltar.
Eram marcadas 11h30min quando chegou a hora. Fomos para a área do batismo, pegamos o galão de óleo de motor usado e eu me preparei. Coloquei a roupa velha que tinha levado e fui pra lá.
No sol de quase meio dia, estava muito melhor de tomar o banho. O óleo, que estava em um barril no sol, também estava aquecido, temperatura morna. Três, dois, um… Senti o líquido morno e oleoso descer pelas minhas costas e braços. Depois foi no peito e pernas e para fechar com chave de ouro, na cabeça.
Vocês precisam ver como fiquei bonito coberto de óleo e cabelo ruivo… Agora era a pior parte: me livrar do óleo. Do lado do local do batismo, tem um chuveiro, que só tem água fria. Por sorte, a água estava razoavelmente morna por conta do sol.
Logo entrei debaixo da ducha para me acostumar com a temperatura da água. Enquanto dava risada, o Guilherme ia me ajudando com o detergente. Gastei meio frasco para tirar o mais grosso. O shorts tive que jogar fora, porque não tinha condições de reaproveitar.
Mais limpo que depois do banho de óleo, prossegui para o carro, forrei o banco com umas três camadas de jornal e uma toalha para que não sujasse o carro. Se sujasse, talvez eu não continuasse fazendo o curso, meu pai me mataria antes. Parti para Apucarana com um sorriso de orelha a orelha.
Finalmente eu tinha perdido minha virgindade na aviação (By Michelle, redatora do blog Aviação1). Agora é aguardar para o voo de check, que espero que saia em novembro, no máximo.
Então é isso pessoal, este foi o relato do meu voo solo. Agradeço a todos vocês que acompanham o blog e me dão forças através dos comentários, e-mails, redes sociais e tudo mais. Este é o combustível que move o blog: Você! Obrigado mesmo!
Mais uma vez obrigado! Se você está gostando, deixe sua opinião ou comentário abaixo, mas se não tiver tempo, não tem problema, apenas avalie o post clicando nas estrelas abaixo e no botão “like”. Isso nos dá uma base se estamos no rumo certo. Se gostou do post e quer compartilhar com seus amigos, escolha uma das redes sociais e compartilhe ;)
Futuro Piloto