Abandonar aeronave, Brigadeiro?

posted in: Antonio Ribeiro, Textos | 12

Não, o título é esse mesmo. E do jeito que está a situação, talvez a pergunta que todo militar deseja fazer para o comandante é essa. Já deu pra perceber do que estou falando, não é?

Vinte e cinco mil horas de vôo a menos, os aviões de caça que estão no forno, o avião para reabastecimento que não decola, menos vagas oferecidas em concursos, modernizações para economizar e algumas aeronaves no limite da vida útil. Essa é a situação da FAB hoje, e talvez amanhã. E nessa semana, vamos avaliar o que está realmente acontecendo. E eu me pergunto: Onde foi parar a maior Força Aérea da América Latina?

Aviação de Caça/Ataque

O Super Tucano “emprestou” seus aviônicos para os AMX e F-5M, que ganharam de 15 a 20 anos a mais de uso. Mas os F-2000 não tiveram a mesma sorte.

A solução do “caça tapa-cratera” é mais velha que as teorias de fim do mundo. Deram certo algumas vezes (uns 40 anos atrás), mas é igual novela reprisada: uma hora enjoa e não dá certo.

Os Xavantes já saíram de cena, o que nos torna mais ferrados ainda. Se os Mirage forem encostados, a Bandeira Nacional vai ter a frase alterada. De “Ordem e Progresso”, vamos para “Se invadir, ganha brinde”, pois os modelos citados acima não conseguem manter a Soberania Nacional, coisa que os Mirage já fazem, aos trancos e barrancos.

Aviação de Treinamento

A situação é mais crítica com o T-25, pois cada exemplar possui, em média, quase quarenta anos nas costas. E cada dia que se passa, um exemplar sai de operação para ceder peças, ou até pior, sai de serviço devido problemas estruturais ou acidentes. Eu sei que a FAB faz um milagre em mantê-los voando, mas só existe um projeto (ainda que informal) de uma nova aeronave para substituí-lo.

No caso do T-27, o bicho vai pegar, mas daqui uns 10 anos. Por estar voando na Esquadrilha, existe um sistema de “rodízio” de aeronaves, para não desgastar tanto as aeronaves. Só que algumas aeronaves já estão na metade de sua vida útil prevista. Tanto que saíram alguns boatos que os A-29 seriam modificados para voar no EDA, e que alguns “Fumaceiros” já teriam feito um Ground School no 2°/5° GAv, sediado em Natal e responsável pela formação dos Pilotos de Caça da Aeronáutica.

Aviação de Transporte

Essa é a mais afetada, pois existem dois vetores que estão no limite de suas vidas úteis: o Boeing KC-137, vulgo “Sucatão” e o Lockheed C-130 Hercules, sendo difícil decidir quem está pior.

Literalmente, tanto o Hercules como o Boeing já passaram do limite aceitável para voar, tanto que alguns C-130 já saíram da linha de frente da FAB, e é cada vez mais difícil manter e operar o Boeing, seja por falta de peças ou por falta de grana para pagar as horas de vôo. Não me surpreendo se os tripulantes destas entrarem em greve, com medo de voar neles, mesmo sendo inconstitucional uma greve.

No transporte mais leve, a situação melhora um pouco, mas de um jeito tipicamente brasileiro. O Bandeirante é o principal vetor de transporte usado, e, também carrega mais de trinta anos na linha de frente da FAB. Mas ele não é eterno igual o Boeing B-52 para ser modernizado. Quem garante que essa será a única?

Para o transporte presidencial e de autoridades, temos o Força Aérea 51, o Embraer 190, os EMB-145/135 e os Learjet. Apenas os Learjet estão no meio de suas vidas úteis, tanto que alguns migraram para a Aviação de Reconhecimento e outros só mudaram de hangar, como o FAB 2717, que opera no 6° ETA atualmente.

Para transporte médio, temos o C-105 Amazonas e o EMB-120 Brasilia, sendo que o último também está no meio da vida, mas como voa menos que na Aviação Comercial, deverá complementar o Bandeirante e o Amazonas. E para voar no CAI (correio Aéreo Internacional), temos os C-99, que cumprem bem sua missão. E complementando o próprio Bandeirante, temos o Cessna 208 Caravan.

Aviação de Patrulha/Reconhecimento

Os Learjet já são cartas velhas na jogada, possuem mais de vinte anos de uso. Para complementá-los e atuar no SIVAM, vieram os E-99 e R-99, talvez uma das melhores aquisições que a Aeronáutica fez, no meu ponto de vista. E também saíram da jogada os R-95 que ainda voavam, só restando um para treinamento.

Na Aviação de Patrulha, outro tapa-buraco ainda opera, o EMB-111 Bandeirulha. E como era de se imaginar, os exemplares mais novos (ou seria menos velhos?) ganharão uma modernização para voar por uns 15 anos a mais que o previsto. E para substituí-los, que tal alguns aviões mais antigos e modernizados, como o P-3 Orion? Estamos trocando trigo por areia, literalmente.

Aviação de Asas Rotativas

É a que está menos pior, no sentido da expressão, pois está recebendo nada menos que três equipamentos novos: o MI-35, o Eurocopter EC-725 e o Sikorsky UH-60 Black Hawk, todos para substituir o H-1H e complementar o CH-34, talvez substituindo-o daqui uns 10 anos.

Temos ainda o UH-50/55 Esquilo, que compre bem sua função de “adestrador”, mas que logo terá que se aposentar, pois ainda que tenha um baixo uso, a idade chega para ele.

E Agora, Comandante?

Tudo vai depender do bom senso dos nossos amados políticos e dos militares, que precisam cobrar melhores equipamentos. Se o governo quer cortar custos, não pare de voar, pois é o mesmo que interditar as Marginais Tietê e a Pinheiros para não ter mais congestionamentos. Abaixe os impostos, pois mesmo sendo “pública”, a FAB está sujeita a impostos mais altos.

Outra coisa: que todas as licitações saiam, e rápido, pois é questão de tempo para não ter nenhum avião militar voando. E nada de fazer a Política do Aliado (eu compro, mas porque você é meu amigo e ganho desconto). Chega de agradar os estrangeiros, eles estão pouco se importando conosco, para não dizer outra coisa.

Nessa semana, lhe faço duas perguntas.

Se você fosse o Juniti Saito (comandante da FAB) e pudesse
comprar q
uais e quantos aviões, quais seriam e por quê?

O quê você faria para ajudar a nossa amada Aeronáutica?

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Até a semana que vem, e bons vôos.

Antonio Ribeiro
21/05/2012

Alexandre Sales
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