Como era de se esperar, o relatório final do acidente do voo AF447 da Air France deu mais ênfase aos erros de pilotagem dos pilotos do que às falhas de alguns equipamentos da aeronave, como os tubos pitot e computadores de bordo. Parentes das vítimas, que viram o documento antes dele ser divulgado, ficaram indignados com o resultado da investigação.
Os investigadores afirmam que o comandante e os co-pilotos não souberam reagir adequadamente à situação que o A330 enfrentava. O relatório afirma que a queda do Airbus e a consequente morte de todas as 228 pessoas a bordo foi uma consequência de uma combinação de erros humanos e técnicos.
Durante a apresentação do relatório final em Paris, França, o diretor geral do BEA (Escritório de Investigação e Análises, na sigla original, em francês), Jean-Paul Troadec, afirmou: “A tripulação não entendeu em momento algum que o avião tinha perdido sua sustentação. Os pilotos perderam quase totalmente o controle da situação”.
Muitos familiares e especialistas afirmam que o principal fator-causa da tragédia foi o congelamento dos tubos pitot, sensores externos de velocidade. Devido à baixa temperatura externa do ambiente, os sensores congelaram, provocando a perda dos indicadores de velocidade do voo e o consequente desligamento do piloto automático.
“O entupimento das sondas pitot por cristais de gelo não é uma pane e sim um defeito de fabricação resultante de normas de certificação obsoletas”, afirmou o ex-piloto e especialista em acidentes Gérard Arnoux.
O presidente da associação de familiares AFVV447, Nelson Marinho, conclui que o relatório final do acidente minimiza as falhas nas sondas pitot e diz que boa parte das conclusões apontam que “os pilotos foram culpados de tudo porque não tinham treinamento adequado”.
“Não foi falha humana e sim do equipamento da Airbus. Culpar o piloto é muito fácil. Esperava que a França fosse falar abertamente a verdade: que a Airbus falhou e que eles vão corrigir esse avião”, afirma Marinho.
Corinne Soulas, esposa do presidente da associação francesa de vítimas, participou da reunião com o BEA durante a divulgação dos relatórios. Corinne também afirma que o papel das sondas pitot na tragédia não é destacado pelo BEA em seu relatório final. Mas, assim como Arnoux, que foi piloto de aviões Airbus durante 17 anos e comandante da Air France, ela acha que o BEA atenuou os erros dos pilotos em relação ao relatório preliminar anterior, divulgado em julho passado.
“O BEA reconhece agora que algumas falhas dos pilotos foram causadas por erros nos equipamentos, como no diretor de voo (que mostra ao piloto a rota a ser mantida), que não transmitia os dados corretos aos pilotos e por isso eles agiram daquela forma”, afirmou Arnoux.
Por Antonio Ribeiro