A Tradição das Berimbelas

NEW YORK, NY - SEPTEMBER 27: Over 700 hundred Continental and United pilots, joined by additional pilots from other Air Line Pilots Association (ALPA) carriers, demonstrate in front of Wall Street on September 27, 2011 in New York City. The pilots want to draw attention to the lack of progress on negotiations of the pilots' joint collective bargaining agreement ahead of the one-year anniversary of the corporate merger close date of United and Continental airlines. (Photo by Spencer Platt/Getty Images)

Em nosso mundo cotidiano, muitas profissões se distinguem pelo uniforme do profissional. Médicos e enfermeiros são facilmente identificados por suas vestes predominantemente brancas; Chefs de cozinha ostentam com orgulho, além de seus aventais, os tradicionais chapéus brancos conhecidos pelo seu nome francês, toque blanche. Em muitos casos, os adornos dos uniformes representam a graduação do profissional, ou ainda, o seu grau hierárquico. E na aviação, a vestimenta dos pilotos reúne todas essas características.

Amplamente desejadas por pilotos em formação, as berimbelas são ombreiras listradas que denotam tanto a formação do piloto, quanto a sua posição hierárquica em uma companhia aérea. Mesmo sendo o componente mais identificável do uniforme, as berimbelas são apenas parte de uma indumentária bastante tradicional, que inclui paletó, quepe e outros acessórios. Mas você sabe como eles surgiram, e o que significam?


A História e os Significados

A tradição das berimbelas surgiu em 1931, quando a Pan Am iniciou o transporte de passageiros utilizando aeronaves anfíbias, como o Sikorsky S-38. Até então, pilotos utilizavam uma roupa não muito diferente dos ases da Primeira Guerra Mundial: jaquetas e gorros de couro, calças folgadas, botas de cano longo e óculos de proteção. Quando suas atribuições passaram a incluir o transporte de passageiros, muitos deles receosos em voar, tornou-se necessário passar uma nova imagem. Algo que passasse uma imagem de segurança à nova clientela.

Valendo-se do fato de que aeronaves anfíbias eram em parte embarcações marítimas, a Pan Am passou a vestir seus tripulantes de uma forma que inspirasse maior confiança. Dessa forma, os rudes trajes de ases do ar deram lugar a impecáveis uniformes de oficiais marítimos, algo com o qual os olhares leigos estavam mais acostumados e, portanto, sentiam-se mais confortáveis e seguros. Assim, comandantes passaram a se vestir como capitães, apresentando quatro divisas nas ombreiras e punhos dos paletós, além de vestirem quepes marítimos com adornos na viseira. Copilotos passaram a se vestir como primeiros-oficiais, com duas divisas nas ombreiras e punhos dos paletós, e sem adornos na viseira do quepe.

A novidade logo se espalhou entre as demais companhias, com um acréscimo para distinguir a aviação da atividade naval. Tripulantes passaram a trazer um brevet preso à camisa ou ao paletó. Diferente do que muitos leigos imaginam, o brevet não é a habilitação de piloto, mas sim, um pequeno broche dourado ou prateado, em forma de asas. Os pilotos distinguiam-se da tripulação de cabine por possuir uma estrela em seus brevets. O comandante, por sua vez, distinguia-se por possuir uma guirlanda em volta da estrela no brevet.


O Uso na Aviação de Instrução

Muitos não imaginam, mas a aviação de instrução possui sua própria etiqueta sugerida para o uso de berimbelas e brevets. Muitas escolas de aviação, principalmente americanas, concedem ao aluno recém-solado o direito de usar o seu primeiro brevet. Em alguns casos, permitem também o uso da berimbela com uma listra; em outros casos, somente Pilotos Privados checados adquirem este último direito. As berimbelas com duas listras destinam-se aos alunos do curso de Piloto Comercial. A terceira listra é concedida aos pilotos comerciais em busca da certificação de instrutores. As berimbelas de quatro listras, maior honraria em todos os ramos da aviação, é concedida aos instrutores-chefe ou checadores.


Apesar de bastante difundido, o código das berimbelas não possui uma padronização mundial. Muitas empresas fazem pequenas adaptações conforme suas necessidades, a fim de distinguir comissários, comissários-chefes, copilotos e comandantes de acordo com seus próprios critérios. As cores dos uniformes e das listras também costumam variar, dos paletós pretos com listras douradas aos paletós azuis com listras prateadas, e demais variações sutis. Uma coisa, no entanto, sempre será uma constante: tal como uma graduação de artes marciais, berimbelas não devem ser vestidas levianamente. Ao invés disso, devem ser conquistadas, e honradas sempre que ostentadas.

Luiz Cláudio Ribeirinho
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