Análise – ACBP: Aeroclube de Bragança Paulista

Então senhores, após escrever uma análise sobre o primeiro aeroclube no qual voei, vamos para o próximo: Hoje irei relatar um pouco da minha experiência de quando voei no ACBP – Aeroclube de Bragança Paulista, situado no Aeroporto Arthur Siqueira (SBBP).

O texto ficou longo, mas uma vez que tenha começado é importante você ler ele por completo, pois abordei todas as características e etapas, em certos momentos este parecerá o melhor aeroclube do mundo e em outros momentos, o oposto, portanto, leia toda a análise para entender claramente o que é passado e adquirir sua opinião.

Isso não é uma propaganda ou post patrocinado, ainda mais porque citarei pontos positivos e negativos, o conteúdo a seguir é uma análise, use-a para conhecer mais esse aeroclube como UM DOS aeroclubes que devem fazer parte da sua pesquisa, use este post para se informar e incrementar sua pesquisa e busca pelo aeroclube mais indicado para você.

Período da experiência

Os detalhes descritos a seguir são baseados na minha experiência entre o final do ano de 2011 e início de 2012, período no qual fiz o Ground School do Paulistinha, nenhum voo na aeronave em questão, e três voos no Piper Cherokee; irei explicar os motivos dessa pouca frequência de voos nos itens abaixo.

Na verdade boa parte da minha estada lá não era apenas para os voos, o fato é que como eu sempre ia de carona com amigos eu acabava passando o dia no ACBP, pois nem sempre tínhamos voos nos mesmos horários e um tinha de ficar esperando pelo outro.

Devido a data da experiência, é importante você se atualizar para saber quais dos itens citados abaixo ainda são fato e quais mudaram com o tempo.

Meios para o Aeroporto/Aeródromo

Como dito acima, eu sempre fui de carona em carros de amigos que moravam em São Paulo, mas para os que não tem essa regalia, há a Viação Bragança, uma linha de ônibus que parte do Terminal Tietê em SP e vai até a cidade de Bragança Paulista, o problema é que o ponto mais próximo do aeródromo não é tão próximo assim, o indivíduo ainda terá de andar alguns minutos enfrentando ladeiras e uma pista de terra para chegar ao ACBP.

Estrutura do Aeroclube/Escola

O ACBP conta com sala de briefing, secretaria, uma ‘pracinha’ com bancos para os visitantes, e uma estrutura de dois andares onde ficam a lanchonete, alojamentos, mesa de ping-pong e varanda, além é claro, dos hangares para aeronaves e manutenção das mesmas.

Um detalhe legal do ACBP é a pracinha, através dela os visitantes, geralmente famílias e crianças, podem ver toda a movimentação das aeronaves, pois a taxiway fica a quase 4 metros da cerca que protege o local, e a pista de decolagem fica logo após, sendo assim é um excelente local para fãs da aviação geral.

Alojamento

Na época em que voei por lá o alojamento era de graça para alunos, mas com o passar do tempo eles cobrem taxas diárias, não creio que são altas, vendo que aparentemente eles não tiram lucro dos alojamentos, apenas mantém os mesmos. Os alojamentos em questão são quartos com dois beliches cada (4 pessoas/quarto), ainda sendo possível colocar mais um colchão no meio do quarto para um 5º aluno dormir (eu já fiz isso!). Todos possuem banheiros com vaso, pia e chuveiro, e geralmente ficam no alance do Wi-Fi.

Os quartos são simples mas atendem às necessidades, só tem de se ter cuidado em épocas de frio, pois eles não possuem vedação térmica, devido a isso eu quase congelei na primeira vez que dormi lá, pois eu, garoto, moleque, acabei levando apenas um casaco e nenhum cobertor.

Para as mulheres: Sim, há quartos separados para homens e mulheres. Afinal, vamos ali para conseguir horas de voo e não filhos.

Estrutura do Aeroporto/Aeródromo

O Aeroporto Arthur Siqueira (SBBP) possui pista e taxiways asfaltadas, um pátio de aviação geral, pátio do aeroclube, sala AIS e uma Rádio (Sim, Rádio, não Torre) para coordenação. O controlador responsável também é bem paciente e gente boa.

O Aeródromo não possui grandes restaurantes, mas a lanchonete do Aeroclube garante o serviço, os preços são bons e os pratos tem qualidade, além do Sr. Reinaldo garantir o bom atendimento.

Devido à todo esse aspecto de interior, o tráfego de SBBP não é muito intenso, boa parte dos aviões que por ali voam são do próprio aeroclube, tirando um ou outro de SBMT ou SBJD, sendo assim não se gasta muito tempo no taxi ou ponto de espera.

Ambiente

Esse é sem dúvida o principal diferencial de Bragança. Eu sempre gostava de dizer aos meus amigos que “Mesmo quando eu não conseguia voar, nenhum dia em Bragança era um dia perdido”

Na análise do Aeroclube de São Paulo eu apresentei o “Ambiente Empresarial”, ambiente no qual as pessoas são naturalmente individualistas e fechadas, por causa do local onde o aeroclube fica, a maior metrópole do Brasil: A cidade de São Paulo. Já nesse segundo aeroclube eu iria conhecer o “Ambiente Familiar” onde todos falam com todos, sem restrições de experiência, idade, poder financeiro ou habilitações.

Ao chegar no ACBP eu me comportava do mesmo modo que no ACSP, só falava com quem falava comigo, e não tentava puxar assunto com ninguém, pois até então, eu acreditava que todo aeroclube era assim, o famoso “cada um por si”. Entretanto, quando fui ao ACBP pela primeira vez apenas visitar por convite de amigos, sofri um “choque cultural” inacreditavelmente, todos pelos quais eu passava me cumprimentavam mesmo sem me conhecer, o balconista da lanchonete me atendeu excelentemente, e o responsável pela secretaria nos mostrou as instalações na maior boa vontade do mundo, tudo aquilo era novo pra mim.

No período em que ficamos por lá fizemos amizade com vários alunos e conversamos com várias pessoas que estavam de passagem, dentre eles, um proprietário de quatro aeronaves, ou seja, um “graúdo” da aviação, e conversando conosco, como iguais.

Em apenas um dia no ACBP conheci mais pessoas do que no meu 1 ano voando no ACSP. A diferença entre cidade grande e cidade do interior era realmente impressionante.

Curso Teórico

No período citado, o ACBP não possuía curso teórico.

Agendamento de voos

A distribuição das vagas para voo é feita de formato misto.

Pouco antes da escala ser aberta para agendamento, alguns alunos se reuniam em uma das salas do aeroclube, eram os alunos que dormiam no alojamento e alguns outros que iam apenas para essa reunião, pois era nela onde faziam o famoso “Sorteio das Pedras”. Cada aluno colocava a mão em um saquinho cheio de pedras numeradas, e em ordem crescente os alunos tinham prioridade no agendamento, ou seja, o aluno que tirou o menor número marcava primeiro, e o que tirou o maior número, nem sempre conseguia vaga, pois era o último.

Ao sinal da abertura da escala, às 8 AM, os alunos do sorteio se dirigiam à secretaria, porém eles teriam de competir também com o telefone, vendo que o responsável pela escala atendia um aluno, e um telefonema, outro aluno, e outro telefonema, mais um aluno, e mais um telefonema “e assim substantivamente” (como diria o Chaves).

Fidelidade do agendamento de voos

A organização é o único ponto defeituoso do ACBP. Minha intenção inicial era fazer parte das horas visuais do prático de PC no Paulistinha. Fiz o Ground School da aeronave e comecei a batalha para conseguir as vagas que eram concorridíssimas, mas devido a dificuldades, mudei para o Cherokee vendo que eu já voava essa aeronave e por ser mais cara, menos alunos disputavam suas vagas. No total marquei cerca de 10 voos entre Paulistinha e Cherokee, e só consegui realizar 3 voos, todos no PA-28

Mas o que aconteceu? Vamos aos detalhes:

Em grande parte dos voos cancelados com o Paulistinha, o motivo era o vento forte. Como o P56 é uma aeronave super leve, trabalhosa, e segurança é sempre um fator indispensável, eu nunca tentei argumentar contra isso, e quem já voou em SBBP sabe que o vento ali realmente é EVIL, isso quando ele existe. O problema é que em metade das vezes onde o vento era o culpado; o céu estava CAVOK, o METAR e TAF não acusavam vento relevante, as árvores estavam paradas, e a biruta do aeródromo estava mais caída que meu ânimo naquele momento. Mas o detalhe irrefutável era: Mais de uma vez, enquanto eu não podia voar por causa de “vento”, outros P56 operavam normalmente, inclusive com alunos menos experientes que eu (PP’s em fase PS). Bom, isso tudo é no mínimo suspeito, será que o vento forte só afetava minha aeronave?

Isso que citei no parágrafo acima é até perdoável, pois como diz o famoso ditado “Na dúvida, não decole”, afinal, eu não iria querer decolar só  para ver se havia de fato vento forte ou não. Mas vamos continuar:

Aeronave na manutenção: Na minha análise sobre o ACSP, eu havia citado o excelente trabalho que o aeroclube fazia sobre essa questão, sempre ligando para os alunos avisando que sua aeronave foi pra manutenção, ou ainda, avisando da possibilidade dela sair de operação até o fim do dia. Já no ACBP, por algum motivo eles não tinham essa preocupação, mesmo tendo meu celular, fixo e e-mail.

Certo dia chego para voar e o funcionário me avisa que a aeronave está na manutenção desde a tarde do dia anterior. Ora essa! E por quê não me ligaram? O problema não é eu perder o voo, não tenho pressa e nem sou “fominha” quanto a isso, o problema é eu perder tempo e dinheiro indo e voltando do aeroclube. Na época eu morava no litoral de SP, só para ir até o aeroclube, entre espera de ônibus rodoviários e tudo mais, eu levava entre 3 e 5h só de viagem, isso sem contar o gasto diário em passagens e “rachamento de gasolina” com os amigos.

Vamos agora à ultima situação, a tentativa de fazer o 4º voo de Cherokee. Fiquei um longo período sem conseguir marcar voos no Cherokee, por algum motivo as vagas “magicamente sumiam” em certos períodos, mas quando consegui uma vaga, fiz minha rotina de sempre: – Acordei às 4h AM no litoral, fui para SP encontrar meus amigos e de lá fomos de carona, o meu voo estava marcado para às 10h. Como em grande parte dos aeroclubes o aluno tem de se apresentar 1h antes de voo, porém, em ACBP o horário raramente era respeitado, os voos das 10h aconteciam às 10h30, 11h, 11h30 e assim por diante, mas de todo modo, sempre cheguei no horário.

Porém, nesse dia, devido a um trânsito na saída de SP, pela primeira vez não cheguei 1h antes do voo e sim 45 min antes. Fui à secretaria me apresentar para o voo:

-Boa dia fulano, tenho um voo às 10h, tudo certo com o avião?
-Sim, tudo certo, é só aguardar que vou chamar um INVA pra você.
(fui esperar do lado de fora)
-Sales, tenho um má notícia
-O quê?
-É que você chegou 15 min atrasado, então não vai poder voar.
-… (fiquei em silêncio com uma cara de quem não estava acreditando, afinal, ambos ali sabíamos que os voos frequentemente saiam atrasados, então não era um motivo válido) É sério? rs (digo rindo)
-Bom, é que também não tem INVA pra voar o Cherokee, todos estão nos Paulistinhas (reparem que o motivo já mudou)
-Não, tudo bem fulano, sem problemas… Eu não guardo rancor (sorriso) – E encerrei a conversa ali, afinal, não iria jogar a culpa da desorganização em apenas uma pessoa, funcionário esse que eu já considerava meu amigo.

Nesse dia não voei, e ironicamente o voo do meu amigo que era às 14h só saiu às 17h20h (que coisa não?), na volta para SP pegamos um trânsito que parecia uma procissão, e devido a esses dois atrasos, cheguei na rodoviária e não havia mais ônibus para o litoral (21h30), tive de pegar uma van clandestina para chegar à minha cidade, e só pisei em casa às 23h30 (havia acordado às 4AM), e pra completar, quando me olhei no espelho de casa vi que meu resto estava mais vermelho que pintura de Aero Boero, por ter ficado horas ao Sol esperando sem protetor solar. É, deu tudo errado, e esse foi o último dia que fui como aluno ao ACBP.

“Nossa Sales, obrigado pelo aviso, já vou riscar o ACBP da minha lista!” Não! Como dito antes, leia o resto da análise, irei contextualizar isso mais adiante.

Curso Prático

O prático de PP geralmente é feito nos Paulistinhas, aeronaves que estão em maior número no ACBP, além destes ainda há o Cherokee para PP/PC e Tupi e Cessna para PC, porém em menor número.

Sociedade

No período citado, o ACBP não possuía planos de sociedade.

Instrutores de voo

Sobre os instrutores não tenho nada a citar de especial, ainda mais porque só voei com 3 (dois homens e uma mulher), todos foram excelentes, pacientes e muito gente boa na instrução, ótimos profissionais. Como eu disse no começo, todos que conheci no ACBP são assim.

Área de treinamento

Pelo fato do ACBP ficar em um aeródromo do interior, seu movimento de aeronaves é baixo, e por esse motivo, boa parte do treinamento de TGL e aproximações podem ser feitas na própria pista. O baixo tráfego em solo também é vantajoso para se economizar tempo com o motor ligado, desde o momento em que você começa o táxi até a decolagem, se passam menos de 10 min. Sendo assim, se você quer voar 1h, vai poder voar exatamente 1h, e não 1h + 30 min, que seriam gastos no deslocamento até a área em questão.

As manobras mais avançadas são feitas em áreas de treinamento determinadas que ficam muito próximas do aeródromo, como a famosa Área 460, o deslocamento até elas também é rápido, além disso a pista de Atibaia (SDTB) também fica a alguns minutos de voo dali.

Aspectos positivos

O Aeroclube de Bragança Paulista é famoso por ser “A terra dos Paulistinhas”, pois dentre os aeroclubes da área próxima de São Paulo o ACBP é o que tem em maior número aeronaves P56, e por ela ser uma aeronave com a hora de voo barata e ter a fama de formar pilotos com ótimos “pé e mão”, o ACBP se mostra um ótima opção, sem contar o fator da tranquilidade do tráfego e do ótimo ambiente que as pessoas que frequentam o aeroclube proporcionam. Por esse motivo, por duas vezes fui ao aeroclube com os amigos mesmo sem ter voo marcado, apenas para ver os aviões e conversar com o pessoal.

O que pode melhorar?

Creio que já falei o bastante sobre o principal defeito de Bragança Paulista, então aqui irei fazer uma verossimilhança desse ponto: Porque não deu certo no meu caso e por outro lado muitas pessoas conseguem se formar lá tranquilamente?

O principal motivo é o fato de eu morar do outro lado do mundo, longe do ACBP, para entender melhor vamos comparar minha situação com a de um amigo meu, que mora na cidade de Bragança Paulista e voa lá. Supondo que nossos voos fossem cancelados:

Meu caso: Eu vou para lá, não consigo voar, e volto. Com isso eu perco literalmente um dia inteiro e o dinheiro da passagem, além de ter que ficar esperando lá até meus amigos também voarem para voltarmos de carro.

Meu amigo: Ele sai de casa de bicicleta, pedala 10 min, chega ao aeroclube, não consegue voar, e volta para casa em 10 min, a tempo de assistir Lagoa Azul da Sessão da Tarde.

Compreendem? No meu caso, cada vez que o voo é cancelado eu tomo um enorme prejuízo, um dia não-produtivo. Já no caso do amigo em questão, não faz tanta diferença pra ele, que inclusive pode pedir para ligarem caso surja alguma vaga de última hora.

Portanto, no meu caso em específico, não pude continuar voando por lá pois estava perdendo tempo e dinheiro com isso, já se você que está lendo mora mais perto de lá, provavelmente terá mais sorte que eu, além de aproveitar o excelente ambiente citado por vezes nesse texto.

Eu não risquei o ACBP da minha lista de aeroclubes, prefiro dizer que apenas “dei um tempo” ainda sem prazo de retorno. Continuo tendo vários amigos que voam lá e apesar da dificuldade citada estes conseguem progredir com sucesso no treinamento, alguns chegam a literalmente morar no alojamento até o final do seu curso. Não cheguei a abordar essa ponto detalhadamente, mas ficar no alojamento durante dias ou semanas não era uma opção para minha pessoa devido ao meu trabalho, e essa é inclusive mais uma variante, vendo que se isso fosse possível, talvez minha trajetória teria sido diferente.

Moral da história: O Aeroclube de Bragança Paulista, com a minha situação financeira e com meu local de moradia atual, não foi a melhor opção para o meu caso. Mas talvez possa ser uma opção para você. Coloque as cartas na mesa e veja suas chances e tente fazer uma visita, mesmo que você decida não voar lá, só a visita e conversa com o pessoal já fará você ganhar o dia.

Avaliação:

Meios para o Aeroporto/Aeródromo – 5

Estrutura do Aeroclube/Escola – 7

Alojamento – 8

Estrutura do Aeroporto/Aeródromo – 6

Ambiente – 10

Curso Teórico – ***

Agendamento de voos – 5

Fidelidade do agendamento de voos – 2

Curso Prático – 8

Sociedade – ***

Instrutores de voo – 8

Área de treinamento – 8

Aspectos positivos

  • Excelente ambiente
  • Aeródromo com pouco tráfego
  • Alojamento gratuito
  • Área de treinamento próxima

O que pode melhorar?

  • Fidelidade no agendamento dos voos
  • Organização da escala
  • Ventos EVIL

Meus videos no Aeroclube de Bragança Paulista:

Imagens valem mais que mil palavras

Agora após ler a análise, pense com calma, compare com outros aeroclubes, faça as contas, veja os aspectos positivos e negativos e tudo mais. Mas como dica final posso dizer: Jamais pesquise sobre um aeroclube apenas pela internet ou telefone, vá pessoalmente e veja tudo por si mesmo, pois como todos sabem, opinião é como CHT, cada um tem a sua.

Abs

Sales

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Os comentários de todas as postagens de análises são fechados para que opiniões de terceiros não destaquem positivamente ou negativamente a instituição alvo da análise, vendo que os textos são balanceados e citam todos os pontos positivos e negativos durante o período especificado no início da análise.

Qualquer contato direto sobre o assunto pode ser feito através do nosso e-mail.

Alexandre Sales
Redes
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