Aviação e Preconceito

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Missão: Aviação e Preconceito

Alguém em sã consciência deixaria de voar em um P-51 Mustang por que ele é preto? Algum piloto indecente recusaria uma navegação em um avião com características diferentes das comuns? Aviões com canards e asas traseiras por exemplo. Ou quem sabe você deixaria de voar em um Sukhoy-35 por ele ter sido fabricado em um país comunista?

Nem pensar em algo assim não é mesmo?

O primeiro esquadrão de pilotos negros de Tuskegee foi entusiasticamente saudado pelas tripulações dos bombardeiros B-17 dos quais eles faziam escolta durante a Segunda Guerra. Daquele momento em diante a cor da pele dos pilotos não fazia mais a menor diferença. Afinal o sangue derramado era tão vermelho quanto o deles.

As perguntas que sempre fazemos ao voar pela primeira vez em uma aeronave são se ela é ou não de confiança, se já passou por todos os testes de segurança e se é homologada. Perguntamos se nossa tripulação é treinada e possui as qualidades que completarão a equipe com sucesso e segurança. As aparências são irrelevantes.

Quanto à cor e outras características do avião, há quem goste e há quem não. Eu adoro avião preto e acho aquele todo branco muito comum e sem graça. Já me disseram o contrário. Acho o Boeing 747 mais bonito que o A380. Porém em nenhum momento nos recusamos a voá-los e muito menos deixamos de reconhecer suas qualidades.

A aparência é apenas um comentário de quem gosta de trocar ideias. Já voar a aeronave e participar de uma equipe diferente, com respeito e camaradagem, é o que realmente importa.

Um piloto de minoria racial ou um avião pintado de cores diferentes não precisa de cotas para fazer sucesso no mercado. Acharão seu espaço por mérito, assim como os pilotos de Tuskeggee o fizeram.

Não precisamos tão pouco de leis que nos obriguem a voar aviões com manche do tipo “stick” ou o tradicional. Triciclo ou convencional. Asa baixa ou asa alta. Nenhuma característica destas nos é importante. Apenas a confiabilidade da máquina em voo.

Segundo as últimas notícias, o politicamente correto está dominando as conversas em Brasília. Estou apavorado com a hipótese de sermos considerados criminosos por escolher determinada aeronave considerada inadequada por uma minoria de pilotos de sofá.

Me perturba a ideia de não podermos mais conversar sobre as diferentes características de cada uma delas. Imaginem: dizer que um Glasair está decorado e colorido demais poderá dar cadeia. Os Me-262 restantes deverão ser destruídos por serem fabricados por nazistas. Helicópteros deverão ter o rotor de cauda no centro, para não mostrar sua tendência para esquerda ou direita.

É um absurdo imaginar que certas publicações possam influenciar tão negativamente alguém. Imaginei um comandante “saindo do armário” e assumindo sua homossexualidade em um “speech” emocionado sobre o Atlântico. Ora… Duvido que alguém vá preferir se lançar para fora da aeronave por saber disso.

Um bom piloto (e ser humano), é capaz de reconhecer uma boa máquina independente da cor que ela foi pintada e do formato e trejeitos na decolagem. Voamos juntos e enfrentamos os mesmos perigos. Quando olhamos uma CB negra se formando a nossa frente, não é um racismo que nos faz evitá-la. Do mesmo modo, sabemos que uma nuvem branquinha pode esconder um grande perigo. O bom senso na prioridade de escolhas é quem nos salva a vida constantemente. No fundo sabemos que todos são regidos pela mesma lei natural maior e justa: a lei da gravidade. Esta não perdoa e tão pouco se importa com cor, raça, credo, opção sexual ou partido político. Somos todos literalmente iguais, menos para alguns desocupados que pensam que alguns são mais iguais que outros.

Por fim eu afirmo: racista e preconceituoso é aquele que deseja legislar segundo aparências em detrimento das competências ou outros méritos.

Aliás, se aparecer um P-51 Mustang pintado de preto, ninguém se meta a besta por que o “negão” é meu. 

(Artigo escrito indignado com a discussão sobre o conteúdo racista em uma obra de Monteiro Lobato.)

Alexandre Sales
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