Aviação na Amazônia

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Saudações leitores do Canal Piloto,

Permitam-me apresentar. Atendo por Fernando Sosnoski e fui um dos felizes selecionados para integrar o corpo de colunistas deste portal. Nasci há 23 anos e 12 meses atrás em Rio Branco (AC), e moro em Manaus (AM) a pouco mais de um ano. Concluí o curso teórico de PP no Aeroclube do Amazonas há cerca de 20 dias e estou reunindo as condiçõe$ necessária$ para o treinamento prático a partir de março. Pretendo voar parte das horas aqui no Amazonas e parte em algum aeroclube do eixo sul-sudeste por razões econômicas. Esta experiência será relatada com detalhes na ocasião.

 E por falar em relatos… Acho interessante que praticamente todos os jovens pilotos/estudantes dizem que sabiam que seriam pilotos na primeira infância; é incrível como a história se repete! No meu caso não foi nada diferente. Nunca tive nenhum videogame, sempre brincava ao ar-livre; correr, cair, me machucar, brincar de luta, apanhar dos mais velhos, apanhar de novo em casa por ter apanhado na rua, isso tudo era o máximo!

Nos fins de semana, passava o dia inteiro ao sol empinando ‘papagaio’ (pipa, em acreanês). Ou era isso ou pedalar super rápido na estradinha de terra, pra sentir o vento e imaginar que decolava. Esta paixão pelas ruidosas máquinas voadoras era tão evidente que todos os brinquedos que tive eram aviões ou algo a eles relacionados, e logo depois, o primeiro jogo que ganhei para o meu Pentium MMX 166MHz com 32MB de RAM foi o Flight Simulator 98.

Foto: Divulgação

E com essa ideia eu fui crescendo. Aos 16 tentei a prova da EPCAR e fui aprovado para o exame físico, mas devido ao sedentarismo acumulado desde os 14 anos (malditos simuladores de voo para computador), reprovei. Isto não me fez desistir da aviação, apenas decidi que a carreira militar era muito burocrática – eu não sabia que existiria uma ANAC no caminho mais adiante. Ano passado, enfim, dei início à realização do sonho no aeroclube do Amazonas como já citei no primeiro parágrafo (numa publicação posterior farei um relato do nosso aeroclube e do curso teórico lá oferecido).

Desde antes do início dos estudos eu acompanho as publicações do CP e sempre senti falta de um espaço alternativo, que fugisse ao paradigma geográfico tradicional; senti falta de ver aqui o retrato das outras faces da aviação brasileira. Assim, quando vi a chamada para seleção de um novo colunista não hesitei em me candidatar, vislumbrando a chance de contar a vocês como voamos aqui nas terras “onde só tem índio”.

 Na região mais jovem do Brasil temos grandes centros industrializados e desenvolvidos, como é o caso de Manaus, mas temos também um vasto território verde pontilhado por pequenas cidades, na sua maioria verdadeiras vilas ribeirinhas, distantes centenas de milhas sobre um emaranhado de rios, igarapés, várzeas e floresta densa, onde as únicas formas de se chegar são por meio de barcos em viagens que duram 3, 4, 5 dias, ou avião.

Foto: Dida Sampaio

Num céu de um azul muito intenso, de meteorologia sempre imprevisível – graças às baixíssimas latitudes e à floresta que evapora milhões de litros de água todos os dias – pilotos acumulam histórias e causos de suas idas e vindas de várias horas sobre o tapete verde húmido, na maioria das vezes com o silêncio absoluto no rádio (vocês não imaginam o tamanho dos pontos cegos que temos).

Por causa dessas particularidades a aviação aqui parece ter regras e costumes próprios, adaptados à situação muitas vezes caótica dos céus e de alguns “aeródromos”. Nestes locais é muito comum que o operador da “TWR” seja o vigia do AD, que quando chamado por um piloto novato, oferece um diálogo no mínimo cômico: – “Controle Borba, PT-XYZ (matrícula fictícia)…”; – “Fala X-Ray, tá ‘chuviscando’ aqui rapaz, eu mando as ‘motas’?”; Então, após emitir este “METAR”, a “TWR” convoca os proprietários de motocicletas da cidade e de repente você se vê pousando numa pista iluminada por 10 ou 12 faróis de ‘CG Titan’. É verdade e é comum. Noutro exemplo, em Urucurituba (que nem tem aeródromo homologado) já aconteceu de o felizardo piloto de um Caravan disputar a pista com um caminhão, caso este que ficou famoso pelas lentes de Alex Pazuello.

Foto: Alex Pazuello

Essas e outras maravilhas da aviação moderna serão esporadicamente relatadas aqui nesta nossa coluna, jamais com a intenção de satirizar nossos pilotos ou meus conterrâneos. Muito pelo contrário, se eu puder escolher um piloto para o meu avião numa situação de mau tempo/pane/apocalipse, quero um que já tenha voado o trecho Manaus-Tabatinga, porque se ele conseguiu ir e voltar, ele voa até no inferno fim do mundo.

Acredito que nossa região ainda é meio “velho-oeste” em alguns aspectos (ok, em muitos) e os pilotos que nasceram e/ou se fizeram experientes por aqui acabam por incorporar ao seu DNA todas estas sutilezas. Não sou partidário da literatura romântica, não quero criar heróis ou mitos e tampouco quero denunciar situação nenhuma, apenas quero levar ao vosso conhecimento o modo hard estas histórias e causos, relatos, entrevistas e documentários sobre a Aviação na Amazônia que precisam ser contrastada com o modelo bonito e correto da aviação geral.

Nos comentários, todas as observações e críticas serão sempre muito bem vindas. Um abraço a todos, e nos vemos na semana que vem. Câmbio e desligo.

Fernando Sosnoski

Renato Cobel
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