Avião não cai, avião é derrubado

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Muito bem sugerido por um colega da aviação, o título do texto de hoje ilustra perfeitamente os fatores que fazem de fato um avião cair, e pode nos ajudar mais ainda a entender por que um avião está sujeito a um acidente. Como dito na frase, na sua disposição operacional, um avião nunca será o precursor ou o próprio motivo para uma emergência, como se a aeronave tivesse personalidade própria. Por mais irônico que isso pareça, algumas pessoas julgam dessa forma, e chegam a criar suposições para as probabilidades de um acidente ocorrer.

Isso tudo é desmentido pela lógica, alcançada com apenas um pequeno esforço de conhecimento básico. Como vimos anteriormente, um só fator jamais pode causar uma situação consequente de um acidente. Na realidade, tudo ocorre por uma junção de fatores que, unidos, proporcionam a oportunidade da ocorrência. Desse modo, fica visível que nossa própria operação e desempenho a bordo – ou mesmo em solo – é que vão determinar totalmente a ocorrência ou não desses fatores.

Eu costumo dizer que, para mim, nem o tempo, nem a máquina, nem qualquer outra coisa que cause algum risco considerável ao voo são culpados por um acidente. Sempre essa culpa será de quem decidiu por determinado procedimento, ou mesmo por levantar voo naquele dia. A responsabilidade do piloto e do seu pessoal é avaliar todas as possíveis situações e perigos mínimos, para só assim decidir pelo voo. Claro que é impossível um piloto ver toda a mecânica e estrutura da aeronave antes de cada voo, mas para isso, ele conta com outros profissionais que também trabalham no mesmo sentido.

Os acidentes acontecem e vão continuar ocorrendo, preciso lhe dar essa má notícia. A aviação é uma atividade totalmente dependente das reações e julgamentos humanos, ao contrário de outras profissões. Um computador, por exemplo, é programado apenas para obedecer os comandos já estabelecidos e esperados. Dessa forma, a nossa meta hoje se localiza em minimizar as ocorrências, melhorando ao máximo possível nossos procedimentos, por mais simples e repetitivos que eles sejam.

Sim, existem períodos mais seguros e menos seguros do voo. Essa “perda de segurança” em algumas tarefas é compensada por um esforço muito maior da tripulação, e treinamento bem mais extensivo. Algumas pessoas não sabem, mas no início do treinamento de piloto, a execução de pousos e decolagens são os procedimentos mais treinados, chegando-se a realizar uma sequência de 150 pousos apenas nas primeiras 45/50 horas de voo em treinamento. Se um dia você quiser elogiar o trabalho de um piloto, certamente a melhor forma de fazer isso é apenas dizer: Bom pouso!

Eduardo Mateus Nobrega
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