C.F.I.T.

Embora a história da aviação esteja marcada e manchada com a ocorrência de inúmeros e fatais acidentes, voar ainda se mantém no topo da lista de transportes mais seguros do mundo. Uma frase diz que o maior risco em voar está no trajeto que você faz de casa para o aeroporto. Obviamente, não podemos generalizar essa segurança conceitual. Existe, sim, o risco envolvido na atividade aérea.

O mais interessante é que, diferente do que acontece em quaisquer outros meios de transporte, mesmo os menores fatores adversos podem aumentar em muito as chances de um acidente ocorrer. Ou seja, qualquer falha jamais vai ser uma mera falha, e sim um verdadeiro perigo latente. Um outro ponto que não é muito agradável de se pensar é que, na maioria dos casos, um acidente aeronáutico assume grandes proporções, com grandes danos materiais e humanos. Por isso o grande esforço atual em estudar e mitigar todos os possíveis e previsíveis riscos envolvidos na atividade aérea. Como já citamos anteriormente, 1% de erro ou falha é 100% de risco.

Na série desta semana, vamos conversar melhor sobre um tipo de acidente que, curiosamente, ocorre quando a aeronave está operando normalmente, e em condições ótimas de funcionamento, sem qualquer risco visível ou alerta, e em 95% das vezes durante a aproximação ou decolagem, período equivalente a apenas 4% do tempo total do voo. O CFIT, do inglês Controlled Flight Into terrain (Voo Controlado em direção ao Terreno), é causado por uma colisão da aeronave com obstáculos físicos, devido à não observação da topografia da região do procedimento, à não obediência dos mínimos nas cartas, e por um tipo de voo vulgarmente chamado de “visumento”.

O CFIT pode ser considerado uma falha de fator operacional. O piloto leva a aeronave à colisão com o solo sem ao menos perceber, e numa situação assim, a chance de sobrevida é muito baixa em função da velocidade e intensidade do impacto. Existem muito poucos casos de aeronaves que sofreram CFIT e nelas foi possível encontrar sobreviventes. Um claro exemplo de CFIT na aviação brasileira aconteceu no voo 168 da extinta VASP. Em 8 de junho de 1982, um Boeing 727 da companhia colidiu com a serra da Pacatuba, numa aproximação para pouso em Fortaleza. Havia 137 pessoas a bordo da aeronave em questão, e infelizmente, nenhuma sobreviveu.

Durante a semana vamos perceber, através de dados, quais os procedimentos IFR e modos de aproximação que normalmente mais expõem a aeronave ao risco de um acidente por perda dos mínimos, ou mesmo não garantia de segurança no procedimento. Veremos também o que normalmente os pilotos evitam fazer em decolagens ou pousos, e como voar “visumento” pode levar você a não voar mais.

Eduardo Mateus Nobrega
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