CB’s, trovoadas e cia: Consequências

Pra quem começou agora a acompanhar a série desta semana, eu venho falando sobre os danos à navegação aérea, causados primeiro pelo não planejamento da rota e prévia ciência da previsão, e depois pelo risco de determinadas formações que podemos encontrar nos céus. Hoje, focando nas consequências, gostaria de citar um incidente bem recente, ocorrido com uma aeronave A330 da TAM, vinda de Madrid para São Paulo. A aeronave precisou fazer um pouso de emergência em Fortaleza, em função de uma severa turbulência que encontrou chegando à costa brasileira, deixando várias pessoas feridas. Inclusive, foram contados 11 ‘’buracos’’ de cabeças que atingiram o teto do avião.

O piloto, juntamente com a empresa, relatou que seria impossível detectar esse tipo de turbulência previamente, mesmo com os radares da aeronave, por ser uma turbulência de céu claro (CAT). Bom, essa foi a palavra da tripulação e companhia, mas eu gostaria de lhe fazer uma pergunta um pouco retórica: você, caro leitor, acha que num mundo com tecnologia capaz de construir uma aeronave como essa, ninguém até hoje conseguiu desenvolver algum equipamento ou método que pudesse, ao menos, prever uma turbulência desse tipo? Não entrarei no mérito da questão, apenas falarei aqui sobre meios existentes no Brasil que, se eu fosse realizar esse voo amanhã, sem dúvida usaria para garantir a segurança.

Existe um site da aeronáutica chamado REDEMET. Nele são exibidos todos os tipos de previsão meteorológica, sendo em cartas, códigos e até mesmo reportes de outras aeronaves que passaram por determinada região. Esse site, ao mesmo tempo que expõe, registra todos os dados de previsão de meses e anos atrás. Para entender o que aconteceu, eu pesquisei na data e horário certos do incidente do voo da TAM. Pude curiosamente encontrar 11 SIGMETS de 12 horas antes, relatando turbulência severa e trovoadas embutidas, além de 3 AIREPS de outras aeronaves, reportando situações anormais em diferentes níveis naquela mesma região, cerca de 3 horas antes. Por fim, analisei a carta SGWX do dia e hora do ocorrido, e então cheguei a uma simples conclusão: Não precisaria de radar algum, muito menos passar por essa região e expor minha aeronave ao risco, para estar ciente de que precisaria desviar minha rota e nível em função do risco de encontrar turbulência e demais fenômenos.

Segue abaixo a carta SIGWX do dia e hora respectivos ao incidente. Observe que a rota da aeronave cruzava a pior área a se estar naquele momento, entre 0ºS e 12ºS graus. Qualquer entendedor que visse a carta saberia que tempo ruim e formações pesadas seriam o previsto nessa região.

O que ocorre hoje na aviação de linha e em algumas empresas é que, como o nome dado já justifica (voo regular), muitas vezes não é dada justa atenção por parte da tripulação a certas informações rotineiras, que se imaginam serem as mesmas. Afinal, alguns voos passam pelas mesmas regiões num intervalo de 3 ou 4 horas. Mas como eu disse no primeiro post desta série, a meteorologia pode mudar em questão de 10 minutos, e saber prever ou lidar com essa mudança é o segredo para se ter uma aviação segura, e consequentemente econômica.

Hoje falei como o piloto, tripulação e passageiros lidam com uma situação assim, mas e a aeronave? Como ela está preparada para isso? O que ela sofre exatamente? É o que iremos descobrir juntos.

Eduardo Mateus Nobrega
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