CB’s, trovoadas e cia: Efeitos colaterais

Digamos que dentro de uma nuvem de trovoada, ou mesmo num sistema de instabilidade, não é o melhor lugar pra se estar com seu avião. Isso vai expô-lo a intempéries e fatores que, por mais que ele seja projetado e construído para suportar, irão danificá-lo e eventualmente inutilizá-lo. Mas que fatores são esses?

Voltando um pouco à meteorologia, em nuvens como Cúmulos (CU), cúmulos nimbus (CB) e alto cúmulos (AC) podem ser observadas temperaturas muito baixas, cristais de gelo e gotículas de água super-resfriada. O trio mais catastrófico da natureza, a junção dos três é responsável por quase todos os problemas encontrados por se voar nessas nuvens, pois seu movimento desencadeia reações que, dependendo da ordem, causam diferentes consequências na atmosfera e na aeronave.

Raios e descargas elétricas, registradas mais comumente na parte de ‘’trás ‘’ de um CB, são causados justamente por cristais de gelo, água quase congelada e granizo. Esse fenômeno acontece de 9 a 40 mil pés dentro da nuvem – sim, essa nuvem chega mesmo a essa altitude, onde a temperatura beira os -50ºC. Com o ar turbilhonado dentro da nuvem, esses elementos são lançados pra lá e pra cá, chocando-se uns contra os outros, eletrizando-se entre si e descarregando essa energia em forma de raio, no solo ou no avião que esteja passando pela região. Graças à tecnologia, hoje a aviação está protegida contra esses problemas. No entanto, não deixa de existir um risco.

Como se não bastasse sua aeronave sofrer uma descarga elétrica, ela também pode simplesmente estolar a 200 kts e parar de voar. Mas como um avião entra em estol a 200 kts? A resposta é o gelo. A formação de gelo severa, em velocidades como essa e dentro de uma nuvem, altera grandemente o perfil do aerofólio, fazendo a aeronave perder sustentação e cair, somente voltando a responder aos comandos quando (e se) o gelo derreter, salvo se a aeronave dispuser de dispositivos anti-ice ou de-ice nas asas e fuselagem.

Para fechar com chave de ouro temos a desorientação magnética, causada pela eletricidade estática do acima citado choque entre o gelo e água super-resfriada. Essa desorientação na bússola pode não afetar muito as aeronaves de hoje, em função de que os sistemas operam em sua maioria por GPS, mas já foi um grande problema de navegação e motivo para inúmeros mitos durante a Segunda Guerra, pois pilotos chegavam a desviar 200km da rota facilmente.

Mas se você decidir pousar imediatamente após entrar numa nuvem de trovoada nesse nível, não espere alívio: quanto mais abaixo, maiores são as incidências de correntes ascendentes sobre a aeronave. Fatores de carga surgem repentina e constantemente, dificultando até mesmo uma tentativa de pouso no aeródromo mais próximo.

O melhor seria não entrar em uma condição como essa, mas se já estiver dentro, meios podem ser usados para minimizar as consequências. Veremos quais amanhã, no fechamento desta série.

Eduardo Mateus Nobrega
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