Chame pronto cópia

Como já é do nosso conhecimento, tudo na aviação custa muito, inclusive o tempo. O que se puder agilizar, ou mesmo eliminar, que demande muito tempo, será feito. A fonia não conseguiu escapar dessa necessidade de mais agilidade, e por muito tempo, vem-se desenvolvendo e criando formas de torná-la mais rápida, simples, clara e altamente precisa.

Um dado interessante é que, na década de 80, levava-se em torno de 2 minutos de conversa bilateral entre um órgão ATC e a aeronave, para que a mesma pudesse ser liberada para decolagem. Hoje essa mesma liberação não pode levar mais do que 30 segundos. Ilustrando, o que há tempos atrás seria “Entendido PT, plano de voo recebido e autorizado, por favor chame quando estiver pronto para iniciar o acionamento e táxi para o ponto de espera da pista 13”, hoje é “Ciente PT, recebido, chame pronto acionamento e táxi ponto de espera 13”. À primeira vista pode parecer complicado, mas se você parar pra pensar, é a coisa menos burocrática e menos trabalhosa na aviação, tanto que tem sido eficiente.

O tema desta semana vai abordar a padronização da fonia, procurando mostrar as formas utilizadas atualmente para acelerá-la ou deixá-la mais prática. Vamos mostrar que, como acontece muito por aí, não é preciso ter “medo” da fonia – nem do controlador, pois ele está ali para ajudá-lo. Veremos também que é possível cumprir a padronização sem se perder ao cotejar.

A história da fonia no rádio começou durante a Segunda Guerra Mundial, e pelo contrário do que muitos pensam, os japoneses tomaram também a frente dessa brilhante ideia. Como muitas vezes os pilotos não retornariam à base, nas famosas missões “Kamikaze” (nunca ouse brincar com essa palavra perto do seu voo solo), eles não recebiam as instruções até decolarem, para assim não terem mais a chance de desistir. Uma vez fora do solo, eram repassadas a eles as informações das missões. Mais futuramente, a fonia foi utilizada pelos ingleses para, no retorno à base, informar quantas aeronaves tinham sido perdidas ou abatidas. Como toda tecnologia criada durante a guerra, ela foi passada para a aviação civil, tornando-se hoje a ferramenta que dá mais segurança aos voos.

Muito já se ouviu por aí sobre histórias de discussões “terra-ar” entre controlador e piloto, ou mesmo entre aeronaves na fonia de rádio. Também não faltam relatos de incidentes (e até acidentes) por falha de comunicação, ou por má interpretação de um só número ou palavra. Isso acontece pelo simples mau uso da fonia, pela perda de padrão e postura por ambas as partes do sistema. Muitas vezes isso se torna motivo de briga, algo que poderia ser evitado com um simples “ciente” do piloto ou do controlador. Afinal, é justamente para resolver conflitos que servem os relatórios de ocorrência, muitas vezes deixados empoeirando lá na famosa sala AIS.

Durante a semana vou descrever os procedimentos para cada parte do voo – desde a autorização do plano, decolagem, até o pouso – sempre citando como exemplo falhas acontecidas, e mostrando que padrão é mais fácil que o improviso.

Eduardo Mateus Nobrega
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