Chame pronto cópia: O padrão

A fraseologia tem como objetivo assegurar a uniformidade das comunicações radiofônicas, simplificar e padronizar a linguagem, reduzindo ao mínimo o tempo de transmissão das mensagens, que ficam mais claras e concisas, evitando assim eventuais problemas de comunicação. A utilização da fraseologia corretamente mantém a fonia limpa, clara, objetiva e sempre bem direcionada a pilotos e controladores, e claro, garante um voo seguro e menos custoso.

A fraseologia é a forma de linguagem mais utilizada na comunicação entre pilotos e controladores. É uma linguagem direta e de certa forma previsível, ainda que existam centenas de variáveis dentro da fala e da pronúncia. Em momentos de urgência ou emergência, deve ser usada da melhor e mais rápida forma de passar a informação. Como lidar então com as variáveis da fraseologia?

Um ponto importante e inovador é o uso e exigência do inglês na fraseologia. Qualquer órgão de controle no Brasil dispõe hoje de quase todos os funcionários devidamente habilitados a falar a língua inglesa, em qualquer situação. Por outro lado, os pilotos são extremamente cobrados em relação ao inglês, como já abordado em outros artigos aqui no Canal Piloto.

Uma simples falha como um mal entendido pode levar direto ao pior estágio de uma emergência aeronáutica, passando rapidamente por todos os meios de proteção do SIPAER, como o que aconteceu no aeroporto de Los Rodeos, em Tenerife, nas Ilhas Canárias, em 27 de março de 1977.

Dois Boeings 747 colidiram na pista durante um nevoeiro muito denso, quando o controlador de voo e o comandante de um dos 747 não seguiram o padrão de fraseologia, e impossibilitam a compreensão da mensagem correta. O comandante do primeiro 747 disse “we are at take-off,”  o que pode significar tanto “Estamos agora em decolagem” como “Estamos em posição para decolar.” O controlador de voo autorizou o outro 747 a decolar e os dois Boeings colidiram, matando todos a bordo.

O padrão é algo indispensável em tudo na aviação, muito embora uma fuga dele possa levar a um maior entendimento. Quando se foge do padrão, você está sujeito ao risco de um desentendimento, pois o padrão é feito e pensado para que não haja este risco.

Em um pouso, por exemplo, muitas vezes é mais fácil realizar o procedimento visual, e descer da base pra a final numa aproximação. No entanto, os procedimentos de descida por instrumentos são 100% mais seguros. Em situações piores, mesmo limitando sua gama de opções no pouso, o procedimento limita também suas chances de errá-lo.

A fraseologia padrão existe embasada nisso, e acredito que, ainda que a tecnologia mude e melhore com o tempo, nunca deixaremos de precisar de um contato rádio bilateral, com alguém que possa nos guiar. Ou seja, ainda ouviremos muito o “chame pronto cópia”.

Eduardo Mateus Nobrega
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