Quanto mais a economia do Brasil cresce, os pobres ficam menos pobres e os ricos ficam mais ricos, e o que era impossível torna-se possível e real. Conquistar bens materiais fica mais fácil, fazendo o mercado crescer, incluindo o de aviões particulares. O que era glamouroso, torna-se tão comum quanto viajar de lotação.
É o caso da empresária Mayuli Lurbe Fonseca, de 35 anos, que chega ao aeroporto de Jundiaí dirigindo sua Mercedes Benz. Administrando hospitais no Brasil e em Angola, na África, se prepara para desembolsar R$ 65 mil por 60 horas de voo, tudo para poder usufruir de um avião de pequeno porte, juntamente com seu sócio da aeronave.
O avião servirá como meio de transporte para cumprir a agenda profissional, com escalas em São Paulo, Minas Gerais e Tocantins. “O que eu vou gastar com o avião é quase o que eu paguei pelo meu carro“, afirma a empresária, justificando a aquisição do avião.
Profissionais de diferentes áreas passaram, nos últimos anos, a considerar a aquisição de um avião para chamar de seu, seja para uso particular, como viagens recreativas ou para cumprir compromissos profissionais. Assim cresce um mercado de luxo, cada vez mais “acessível” para um pedaço da população brasileira.
Segundo dados da ANAC, o número de aeronaves particulares cresceu em 32% no país. Passou de 6.472, em 2007, para 8.542, em 2011, num intervalo de quatro anos. “Cada vez mais profissionais liberais estão comprando o seu próprio avião para trabalhar ou se divertir. São pessoas de diferentes áreas que precisam estar em vários lugares e não têm tempo a perder“, afirma José Eduardo de Faria, sócio da Air Trainning, especializada em formar pilotos.
O obstetra Júlio Bernardi não resistiu à ideia de pilotar seu próprio avião, e pode se dar ao luxo de conhecer restaurantes Brasil afora. Durante um encontro de motoqueiros do qual faz parte, Júlio descobriu que poderia ser sócio de um avião, tanto que comprou um Cirrus, modelo 2010, que divide com outro médico.
Bernardi conta que já fez um bate-pronto ao bairro de Santa Felicidade, em Curitiba. Também visitou restaurantes de alta gastronomia em Minas Gerais, no Rio e na Bahia, sempre de avião. Na maioria das vezes, Júlio já estava em casa no fim do dia.
A quantidade de cursos de pilotagem de aviões cresce assustadoramente. Dados da ANAC indicam que, em 2011, 1.926 pessoas tiraram licença de piloto privado no Brasil. É mais do que o dobro do que ocorria cinco anos antes.
Voltando ao caso de Mayuli, que diz que não tem medo algum de voar, ainda dá uma dica de onde surgiu a idéia de comprar seu avião e fazer o curso: “É muito mais perigoso enfrentar as estradas brasileiras. Hoje mesmo tenho que sair correndo para pegar um avião e voar para Palmas. Muitas vezes, ainda tenho que dirigir quatro horas até uma cidade no interior de Tocantins. Mas é assim que tem que ser. O mundo hoje não permite perda de tempo“.
Ao mesmo tempo que o número de aeronaves de uso particular pilotadas por “Não-PCs” cresceu, aumentou também o número de acidentes e incidentes dentre a aviação geral, será apenas uma coincidência?
Por Antonio Ribeiro