Dúvida - Como lidar com o medo de ter uma pane em voo?

Seguindo com nossa série sobre dúvidas quanto à formação aeronáutica, vamos responder à pergunta de hoje:

Dúvida

Oscar Lima Alfa,

Meu nome é Silvanio, tenho 24 anos e desde 2012 comecei minha batalha para conseguir o que a maioria de nós por aqui quer, me tornar um piloto, passei pelo teórico do PP, banca da anac, e no ano passado comecei a voar o PP, voei 6 horas e parei por questões financeiras, estou parado até então, com planos de retornar em breve. – já que desistir nunca foi e nunca será uma opção – Durante as poucas horas que voei uma coisa sempre me perturbou, durante a tensão que antecede os voos passava um filme na minha cabeça com os casos de acidentes aéreos envolvendo monomotores e com as diversas falhas que podem ocorrer para que algo assim aconteça. Isso se traduziu em algo que eu só posso definir como medo, não de voar, mas de cair, isso parece uma possibilidade iminente desde o próprio conceito do exercício da atividade de voar, não fomos feitos pra voar, somos humanos e trabalhamos sempre com margens de erro, alguém uma vez me falou, nesses dois anos, que como pilotos não estamos autorizados a errar, isso me preocupou, apesar de eu ter achado um certo exagero, mesmo assim fica evidente o temor velado de o erro por menor que seja ser fatal.

Enfim, gostaria de saber de um piloto mais experiente, que passou por isso, como foi lidar com essas preocupações no início da formação e como é o dia a dia de um piloto profissional com relação à essa questão, ou seja, o temor de decolar e não conseguir pousar em segurança apesar de todas as precauções tomadas. Afinal, medo todos temos.

Grato.
Att,
Silvanio Paixão

Nossa resposta

Silvanio,

Hoje tenho mais de 900 horas de voo em monomotor, todas feitas em aeronaves de instrução. Nesse período como instrutor de voo, vi alguns acidentes e tive algumas panes, como elevada temperatura do óleo e pane nos freios. Uma conclusão que sempre tive dos acidentes é de que, na maioria das vezes, o piloto pode evitar essas situações com uma boa inspeção pré-voo, ou qualquer anormalidade no avião deverá ser tratada com uma medida rápida. Por exemplo: é extremamente difícil um motor aeronáutico parar em voo. Antes disso ocorrer, há indícios como elevado consumo de óleo, aumento da temperatura e pressão do óleo, vibração e outras coisas.

Hoje, no meu ponto de vista, todo acidente é uma junção de fatores, que muitas vezes são ignorados pelos pilotos, e acontecem porque não são respeitados os limites do avião ou das condições meteorológicas. Muitos pilotos não sabem sequer verificar as condições meteorológicas ou das alterações de tráfego aéreo, isso para não falar sobre a inspeção externa, onde muitos pilotos não checam a quantidade de combustível ou a condição das superfícies de comando.

Sendo assim, quando vou voar sempre faço isso tranquilamente, pois confio no equipamento que estou voando e nas condições da aeronave. Em caso de qualquer problema, não penso duas vezes em voltar ou cancelar o voo. Não me preocupando com a aeronave, aproveito para curtir o voo. Portanto, acho que você deve verificar bem o avião e confiar no equipamento que você está voando. Caso contrário, é melhor procurar outro lugar para voar.

Sobre a expressão “piloto não pode errar”, digo-lhe o seguinte: para voar, o piloto tem que estar em boas condições mentais e físicas, para estar atento e ter poder de decisão rápida quando qualquer situação de emergência acontecer. Lembrando que, em se tratando de avião, as decisões requerem tomadas de decisão rápidas.

Atenciosamente.

Rodrigo Satoshi

INVA – Instrutor de Voo de Avião

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