Formação de Piloto Comercial 02
Texto: Pedro Santos – Vitrine: Eduardo Godoi
Não sei se esse foi um sentimento exclusivamente meu, mas durante meu voo de cheque de PP, eu pensava:
– Ainda é cedo demais.
Ainda estava longe de me sentir um piloto. Conhecia o manual do Aeroboero AB-115 decorado. Podia recita-lo de trás para frente. Sabia realizar todas as manobras individualmente. Mas faltava algo essencial:
– Segurança.
Melhor dizendo:
– Autoconfiança.
Sentia que uma vala me separava de outros pilotos mais experientes.
Lembro de estar na porta de hangares ao longo de horas, observando o fluxo de aviões, trazendo cargas que considerava valiosas, passageiros exigentes, e eu me pegava pensando:
– Eu conseguiria voar esses aviões, fazendo um bom trabalho, deixando os passageiros tranquilos e satisfeitos?
A resposta era sempre não. Esse sentimento era sempre agravado ao ver a experiência um tanto quanto aterrorizante de outros pilotos levemente mais vividos, (sem querer fazer juízo de valor, já que do chão é excessivamente mais fácil avaliar e julgar o que outros tiveram pouco tempo para julgar e agir), tais como o caso Bravo Papa Papa
Aviões de pequeno porte, que em geral são o foco de PP’s recém checados, tem operação de cruzeiro relativamente simples. Verificações de parâmetros de motor, eventuais trocas de seletora de combustível, e a conferência dos estimados são relativamente simples. Em minha opinião, os momentos mais críticos com certeza são pousos e decolagens, nessa ordem.
Final da pista 16 do (agora falecido) Aeroclube de Pernambuco / Encanta Moça (SNEM)
E preocupado com isso, foi ai que concentrei meu tempo e dedicação nos treinamentos iniciais durante as horas de PC. Queria tirar a sombra constante dos catrapos da minha cola.
Fiz pousos excelentes nas primeiras horas de voo como PP checado, que chegaram a render comentários na fonia de aeronaves de linha aérea que aguardavam no ponto de espera do Guararapes (SBRF). Mas bastaram alguns ventos mais rebeldes em outros voos para provar que aqueles pousos haviam contado muito mais com a sorte do que com minha habilidade.
Alguns dos voos solo que fiz, ainda nas primeiras horas do PC, com ventos de rajada e turbulentos, perto do meio-dia no aeroporto de Caruaru (SNRU), chegaram a me dar calafrios. Seguidas tentativas de pouso se tornaram toques e arremetidas, algumas delas até arremetidas no ar, para evitar catrapos mais sérios. Nesse ponto, o treinamento que me foi dado foi bom:
– Na dúvida, arremete, sem nem pensar duas vezes.
Ouvi essa frase de todos os instrutores com os quais tive instrução, e isso consegui aprender bem. Nunca titubeei ou tive receio de arremeter. Orgulho nessas horas talvez faça bem ao ego, mas não à saúde. Houve voos em que o pensamento era:
– Quando eu acertar um pouso macio, eu fico no chão. Até lá, arremeter!
A aeronave que mais voo atualmente é um Piper PA-18, de trem de pouso convencional. É um detalhe que complica um pouco, mas não justificava minha falta de ‘pé e mão’.
Passadas algumas horas, diria que estou começando a não ser mais tão ruim assim. Precisei de “somente” umas 30 horas de voo a mais para começar a sentir a segurança que faltava como PP.
Sei que outros alunos conseguem muito mais técnica que eu em bem menos tempo, mas não sofro com isso. O recado que fica é:
– Saiba quais são suas dificuldades e seus limites.
Meus problemas eram os pousos. Para uns são os processos e checklists. Para outros são fonia, e por ai vai.
Descubra quais são os maiores defeitos e dê foco maior a eles, especialmente se você está nesta fase, oficialmente em comando, mas também, e principalmente, em instrução. A empolgação de ser um piloto não pode fazer com que esqueça que ainda é um iniciante.
Esteja sempre aberto a aprender, e assim nunca ficará obsoleto.
Até a próxima pessoal