Formação de Piloto Comercial 04

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Como é fascinante ver um Boeing, um Airbus, um Citation, Learjet, Gulfstream ou outro jato executivo voando. A maioria dos PC’s e aspirantes já se imagina sentado na cabine de uma aeronave como estas. Quem não quer, né?

Mas quanto tempo levarão estes até chegar lá? Em várias (para não dizer todas) as rodas de conversa com colegas, surge a discussão sobre qual aeronave é a melhor, comparações diversas, preferências, e por aí vai. Mas se a opção possível for um Cirrus ou Cessninha, por uma década ou mais, quem vai querem?

Qual ACFT escolher?

Não é novidade para ninguém (pelo menos não deveria) que o mercado de aviação está numa maré baixa, e não parece que está para subir nem tão cedo. Tenho amigos checados PC, sem trabalho, alguns voando de graça, sem perspectivas, sobrando somente esperança em dias melhores. Em alguns meses me juntarei a eles nesse grupo.

Um outro agravante são as iminentes mudanças que entram em vigor pela RBAC 61, mudanças essas que vão complicar a obtenção de horas de voo que possam ser usadas para a comprovação de experiência necessária para voar algumas categorias e tipos de aeronaves.

Tudo leva a crer que alguns bons (no sentido de muitos) anos vão ser necessários para os que desejam atingir esse patamar dentro da aviação. Aí é que está a questão. Quantos desses PC’s vão querer ou topar ficar na aviação de pequeno porte por 3, 5, ou mesmo mesmo 10 anos? Para alguns, isto é um banho de água fria, um desmotivador grave. Isso tem um nome: expectativa.

Tempos nebulosos à frente

Mas afinal, o que tem a ver mercado com a Formação de um Piloto Comercial? Tudo! Explico:

Estes altos e baixos são questões mercadológicas, juntamente com a aplicação da lei de Oferta e Demanda. Especialmente quanto ao crescimento da oferta de novos profissionais, com a estagnação da demanda destes pilotos pelo mercado de trabalho.

Nos últimos 2 ou 3 anos tem havido uma corrida às escolas de aviação, onde uma boa parte dos alunos imagina ser possível obter altos salários, com alta empregabilidade, em curto prazo, e com rápido retorno do investimento.

Essa crença e a consequente enxurrada de novos PC’s tem afetado e muito a chances de qualquer novos formandos obter seus 1º empregos na aviação. Esta  empregabilidade vai influenciar diretamente o investimento que alguns de vocês leitores (e eu incluso aí neste grupo) que têm a vocação (por que não dizer paixão) pela aviação, irão fazer para concluírem a formação aeronáutica. 

Isto é, quanto de endividamento vocês estão dispostos a fazer, largar ou não o emprego atual, mudar para uma cidade pequena e distante por um emprego, levar ou não marido/esposa e filho(s), fazer ou concluir um curso de graduação.

São dilemas que praticamente todos os aspirantes a PC tem enfrentado nos últimos meses e vão influenciar todas as decisões nesse caminho já suficientemente árduo.

Há luz após à formação, mas também há muita turbulência no meio do caminho

Well, well, well, nem tudo é problema nessa novela. Como tudo na vida, há um lado bom. Do lado dos profissionais e aspirantes, não há muita dúvida de que estamos em uma crise. Mas crises também podem ser encaradas como pontos de inflexão, ou seja, momentos temporários onde tendências de baixa em algum tempo mais ou menos longo tornam-se em crescimento.

Em momentos de crise, onde a maioria fica de estômago embrulhado (e com muitas razões para isso) e se retrai, alguns corajosos (outros imprudentes) mantêm o investimento, e aproveitam os primeiros instantes da retomada do setor.

Quero eu acreditar que os persistentes serão os verdadeiros aviadores. E que os que simplesmente “vão com a maré”, os sem vocação e disciplina, os que querem apenas glamour (que acho já nem mais existir) e enriquecer, os que querem uma profissão “maneira”, estes irão ficar pelo caminho.

Concluindo, a aviação é uma carreira de risco, em quase todos os aspectos. Risco de vida para os indisciplinados, risco profissional e financeiro para os aventureiros. Riscos e mais riscos com certeza não faltarão. A dura face da realidade pode estar realizando a seleção natural que o setor precisa.

Se você tem dúvida, reflita sobre quais são os motivos que levam você a querer voar e se estes são a motivação suficiente para continuar durante os vários momentos de incerteza.

Se você tem certeza de que está disposto a encarar estas instabilidades por um razoável período de tempo, meus conselhos são:

-Mantenha suas expectativas baixas;

-Prepare-se para ralar um bocado;

-Esteja disposto a ficar fora do mercado por um tempo;

-Voar em regiões afastadas;

-Realizar atividades pouco reconhecidas;

-Remunerações modestas.

Resumindo tudo em uma frase:

-Prepare-se para o pior, espere pelo melhor e encare o que vier.

Pedro Santos
pedropk@gmail.com

Renato Cobel
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