Formação de Piloto Comercial nos EUA 10

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Formação de Piloto Comercial nos EUA 10
Texto: Roger Marcellus – Vitrine: Eduardo Godoi

Saudações leitores do Canal Piloto.

Meu nome é Roger Marcellus e essa é a coluna Formação de PC nos EUA.

Para comemorar a 10 edição da coluna, essa semana o texto será um pouco diferente. Hoje irei responder as perguntas mais feitas para mim por e-mail ou Facebook, vamos lá?

Pergunta: Meu inglês é mais ou menos, consigo me virar e fazer o PC sem problemas?

Resposta: Não. A maior barreira na formação de pilotos nos Estados Unidos é o idioma. Durante a formação de piloto, seu instrutor irá te dar muitas informações pois aqui os cursos teóricos são raros. Falar inglês torna-se extremamente indispensável para a viabilização de sua formação por aqui. Vou mais longe, em seu checkride você terá uma “conversa” de mais ou menos duas horas com o checador do FAA.

Nessa conversa ele irá perguntar sobre seus planos de carreira e também irá fazer perguntas sobre a performace da aeronave, irá perguntar coisas sobre sua navegação e até mesmo pedir para você explicar como se faz uma navegação (passo-a-passo). Após isso, durante o checkride, ele irá perguntar coisas durante o voo e inclusive procedimentos de emergência e comunicação com ATC. Por esse motivo a resposta é não.

Pergunta: Tenho ICAO 4, isso já é suficiente para fazer aulas de voo?

Resposta: Quase. O nível 4 não significa fluência e sim inglês operacional. Isso significa que você tem um domínio no inglês técnico, ou seja, o suficiente para interagir com o ATC em situações normais. Para testar seu nível real de inglês, recomendo os testes TOEFL ou IELTS. Esses testes irão testar sua habilidade geral com o idioma e não em um conteúdo específico.

Você pode até mesmo perguntar “mas eu vou para os EUA para voar”, mas uma hora você vai ter que comer, se locomover pela cidade, comprar alguma coisa, não vai? Por esse motivo que os futuros pilotos devem pensar no todo e não somente no voo.

Pergunta: Posso trabalhar enquanto faço minhas horas de voo?

Resposta: Depende. Você poderá trabalhar aqui se tiver o visto de residência, permissão de trabalho, green card ou se for cidadão americano. A permissão de trabalho pode ser conseguida com o visto F1, porém somente 4 escolas de aviação fornecem esse tipo de visto e sua permissão de trabalho estará condicionada a trabalho no campus da escola.

Portanto a grande maioria dos alunos estudantes de aviação não tem autorização para trabalhar. Se você for pego trabalhando sem autorização, você será expulso do país e lembre-se que o FAA pode acabar cancelando sua licença pois você terá cometido um crime.

Pergunta: FAA ou ANAC?

Resposta: As duas tem seus problemas e seus pontos fortes. Dizemos por aqui que o lema da FAA é “We’re not happy, til you’re not happy.” (Não estamos felizes, até que você não esteja feliz).

O ponto forte da FAA é justamente sua praticidade e agilidade, porém a ANAC (prevejo mimimi em 3, 2, 1) é mais simples, com menos regulamentos para uma mesma coisa. Pois aqui nos EUA você pode ter várias regulamentações falando sobre o mesmo assunto (Part 61 e Part 141).

Pergunta: Existe Paulistinha para instrução nos EUA?

Resposta: Não. Aqui a maioria das aeroanves treinadoras é do modelo C172. Com variações em algumas poucas localidades que oferecem o C152 ou o Piper PA-28. Aeronaves de trem convencional (taildragger) são consideradas um “penduricalho” no logbook do piloto.

Eu tive a sorte de ter um amigo/instrutor que possui uma aeronave nessas características, porém a maioria dos pilotos não tem esse endosso e o fato de você ter ele não lhe traz vantagem alguma na hora da contratação por parte das empresas.

Pergunta: O clima atrapalha na hora de voar?

Resposta: Depende. Uma das características dos EUA é justamente a variedade de climas. Onde estou, por exemplo, o maior problema é o vento que muitas vezes passa a velocidade máxima para a operação segura da aeronave. Já onde o Claudio Motta está, um problema pode ser a temperatura no verão.

Lembre-se que quanto mais ao sul, mais quente no verão e quanto mais ao norte, mais frio no inverno. Escolha com cuidado pois o calor aqui é mais de 40ºC na sombra, e o frio pode chegar a -15ºC embaixo do sol.

Pergunta: Onde você voa?

Resposta: Potomac Airfield. O aeroporto é localizado na região de Friendly no condado de Price George em Maryland. Fica a menos de 30 minutos dirigindo do aeroporto nacional de Washington (KDCA).

A escola que voo não fornece visto, por esse motivo estarei trocando de escola no próximo semestre, sendo que estou nos EUA matriculado em uma escola em tempo integral, ou seja, voar somente no meu tempo livre.

Pergunta: O que eu aprendo no PP?

Resposta: Decolagem, Subidas, Descidas, Curvas niveladas, curvas ascendentes, curvas descendentes, stall com motor, stall sem motor, slow flight, slip, voo retangular, pousos, curvas sobre um ponto, S sobre estrada, navegação visual, navegação estimada, radionavegação, pouso e decolagem de pista curta, pouso e decolagem em pista não pavimentada (soft-field) e finalmente pouso em diferentes configurações de flap.

Pergunta: Como escolher a escola de aviação?

Resposta: Você deve prestar atenção no que a escola oferece, verificar o preço praticado em outras escolas, verificar o clima e principalmente os custos paralelos (aluguel, alimentação e deslocamento). Muitas vezes a escola é barata porém está em uma cidade com um custo de vida bem elevado.

Pergunta: Como faço quando retornar ao Brasil?

Resposta: Quando você retorna ao Brasil, você deve convalidar sua licença FAA para ANAC. Isso significa abrir um processo na ANAC e aguardar a boa vontade dos mesmos, já vi ser feito em uma semana e já vi ser feito em seis meses, isso vai muito da sorte (infelizmente). Enquanto sua licença não for convalidada você não poderá voar aeronaves com matrícula brasileira e as empresas não vão nem mesmo te considerar para uma posição no grupo de voo, pois não existe uma previsão do tempo do processo.

Pergunta:Vale a pena voar nos EUA?

Resposta: Sim. Voar nos EUA é fantástico, você pode voar mais pagando menos e existe também a possibilidade de se fazer outros curso e colocar ainda mais “penduricalhos” no seu currículo. Voar aqui também te ensina a se virar em espaços aéreos complexos e claro as restrições mais bizarras que você vai ver em sua carreira.

Amigos, essas foram as dúvidas que mais chegaram por e-mail, facebook, código Morse, sinal luminoso, sinal de fumaça, batidas de tambor e etc…

Espero ter respondido suas dúvidas e caso não tenha, pode me mandar e-mail e perguntar.

Até semana que vem,

Roger Marcellus
roger.marcellus@icloud.com
@rmarcellus

Renato Cobel
Redes