Saudações leitores do Canal Piloto,
Meu nome é Roger Marcellus e essa é a coluna Formação de Piloto Comercial nos Estados Unidos.
Hoje o dia foi no mínimo diferente, no meio do verão acordei com chuva, baixa visibilidade e o teto quase no chão. Como meu instrutor de sempre não poderia voar essa semana, iria voar com um velho conhecido (meu primeiro CFI), voei o começo do piloto privado com ele, até decidir voar somente com o Scott.
Uma das coisas que sei sobre esse CFI é que ele gosta de cancelar o voo no menor sinal de adversidade. Por esse motivo já estava esperando um voo cancelado.
Meu voo estava marcado para as 10 da manha, sai de casa as 09:30 e até aquele momento não tinha nenhuma notícia do CFI sobre nosso voo.
Olhando as nuvens e a chuva no caminho casa/aeroporto, já estava sem esperança. Chegando em VKX recebi a boa notícia, ele decidiu não cancelar o voo, e já iniciou o briefing comigo antes mesmo de eu colocar minha mochila no chão.
Nesse domingo nublado iríamos realizar a lição 22 do Syllabus da Jeppesen. O syllabus é um livro onde estão descritas as lições de voo que devem ser realizadas e os mínimos para cada manobra. A lição de hoje seria uma preparação para o Stage Check, iríamos fazer um voo curto até Stafford Regional (KRMN), via Brooke VOR (BRV).
Chegando lá faríamos primeiramente uma aproximação LOC RWY 33, ignorando o glide slope do ILS. Após isso iríamos realizar a aproximação VOR 33 e logo em seguida faríamos uma aproximação ILS 33.
Para finalizar retornaríamos ao Potomac Airfield e faríamos a aproximação RNAV 06. Seriam 4 aproximações por instrumento em um período de menos de 2 horas, para aumentar o nível de dificuldade o voo seria em condições IFR reais.
KRMN 181415Z AUTO 36003KT 5SM RA SCT004 BKN010 OVC015 18/18 A3028 RMK AO2 P0001 T01810181
Entramos em contato com o controle de aproximação por telefone para solicitar nossa autorização para o voo IFR. Já estávamos prontos para alinhar na pista quando recebemos a liberação e nessa liberação tivemos uma restrição, nossa decolagem deveríamos aguardar cinco minutos para decolagem, para separação de tráfego, um verdadeiro desespero cinco minutos acionados, no ponto de espera, na chuva.
Quando os cinco minutos (que mais pareceram cinco horas) passaram, alinhamos e decolamos. Em menos de um minuto estávamos nas nuvens, literalmente, seguindo as orientações do Potomac Approach. Nos aproximávamos de BRV e fomos liberados para a primeira aproximação.
Vi como a situação estava complicada pois quando cruzamos 700ft ainda não tínhamos visual com o aeroporto, esse ponto é 100ft acima do mínimo. Já havíamos pedido para acenderem as luzes do aeroporto (utilizando o PTT). Vimos as luzes da pista, estava alinhado e na altura correta.
Recebi a instrução para o go-around e já me preparei para a aproximação VOR. Estava preocupado pois ser a LOC estava complicada e a VOR seria pior. Por algum motivo eu ainda não me sinto confortável com aproximações VOR, principalmente aquelas em que o VOR não está localizado no aeroporto.
Felizmente eu estava errado a aproximação foi muito tranquila, nós conseguimos ver a pista um pouco antes dos mínimos. quando chegamos no MAP (missed approach point) seguimos o procedimento publicado e nos preparamos para a nova aproximação. Dessa vez eu pensei o contrário, que seria fácil pois uma aproximação por ILS é sempre mais fácil que qualquer outra, certo?
Errado, ventos insistiam em soprar meu C172 para fora do LOC, consegui manter o glide slope (no braço), no final da aproximação eu estava com loc e glide centrados, novamente vimos a pista somente na última hora. Seguimos com o procedimento de aproximação perdida e retornamos para nossa home base.
Foi um voo bem legal, principalmente quando fomos transferidos para o controle de aproximação responsável pelo setor que o aeroporto internacional de Washington (KIAD) está localizado. Foi fantástico voar no meio dos grandes, meu instrutor não gostou muito pois cada vez que o controle falava.
“Jetblue 123, traffic is 12 hours, 1500, Cessna 172” (Jetblue 123, tráfego 12 horas, 1500ft, Cessna 172), eu repetia esse cara sou eu…
Levando em consideração que nosso procedimento foi mais de 15 minutos, eu repeti isso umas 20 vezes. Sei lá, só pra descontrair. Chegamos em VKX sem maiores problemas, com uma chuva leve. Fiz um pouso sem maiores problemas, pois conseguimos ver a pista cerca de 1 milha e meia antes da TDZ.
Isso encerra nossa conversa semanal, dúvidas sobre a formação de piloto no exterior por favor não pense duas vezes e pergunte.
Até semana que vem!
Roger Marcellus
roger.marcellus@icloud.com
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