Formação de Piloto Comercial nos EUA 19

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Saudações leitores do Canal Piloto,

Meu nome é Roger Marcellus e essa é a coluna Formação de Piloto Comercial nos Estados Unidos

Todos nós temos uma aproximação que não gostamos, meu caso VOR-A, aqui nos Estados Unidos a campeã de, vamos dizer, preferência negativa é sem dúvidas a aproximação Localizer Back Course.

Durante minha formação eu fiz todos os tipos de aproximações utilizados nos Estados Unidos, desde as simples aproximações ILS com Vetors-to-final até mesmo a odiada LOC BC. Hoje iremos falar sobre esse tipo de aproximação, como ela é utilizada e porque ela é tão odiada pelos pilotos.

Primeiramente, o que é a aproximação LOC BC? A resposta é simples é um tipo de aproximação que utiliza o sinal do localizador da cabeceira oposta para guiar o piloto até a pista. Simples não é mesmo? Não.

Como o sinal é da cabeceira oposta o sinal acaba “invertido”, ou seja quando o CDI diz que a aeronave está a esquerda da centerline, a mesma estará a direita da centerline. Confuso? A maioria dos pilotos se sentem confusos durante esse tipo de aproximação.

Com um pouco de treino você aprende a puxar a barra do CDI para o centro. Fiz uma breve pesquisa com alguns amigos pilotos brasileiros e fui informado que esse tipo de aproximação não é autorizado no Brasil (assim como o procedimento de espera em um LOC reverso).

Portanto quem voa no Brasil nunca terá que fazer esse procedimento, certo? Errado, lembre-se um dia você pode fazer um voo internacional, em um dia que o teto e visibilidade estão no mínimo, você chega no IAF e escuta a liberação do controle para a única aproximação por instrumento: 

“XXX123, cleared for LOC BC RWY 33, contact tower 123.23”

E ai? O que você vai fazer? Sentar e chorar (quero dizer só chorar porque voê já vai estar sentado), vai para a alternativa? Não, você vai fazer a odiada LOC BC.

Teoricamente, podemos executar uma BC em qualquer lugar que possua uma antena para ILS ou LOC, que transmita no BC. Aqui nos EUA quase todos os aeroportos que possuem ILS ou LOC, possuem também a capacidade para BC, porém com a popularização do GPS, os BC estão cada vez mais raras.

Isso não significa que essas aproximações irão sumir completamente, por legislação os aeroportos devem manter procedimentos de aproximação por instrumentos que não sejam baseados em GPS. Durante minha instrução eu fui apresentado a sensibilidade reversa dos localizadores no aeroporto de Stafford (KRMN).

Confesso que minha cabeça ficou rodando por alguns dias. Quando chegou a hora de executar uma aproximação publicada, o simulador foi a solução, utilizando um aeroporto 2088NM distante de minha base. O motivo, buscamos no Google e utilizamos o primeiro resultado.

Conversando com outros pilotos, percebi o medo que eles tem de executar essa aproximação. Dizem que é complicado “puxar” a barra do CDI. Sinceramente para mim é uma aproximação como outra qualquer, menos VOR-A (odeio VOR-A).

O fato da sensibilidade do equipamento estar invertida faz muitos pilotos terem um medo inexplicável do procedimento. Voar essa aproximação exigem um nível de concentração maior do piloto, porém não é nada impossível.

Como tudo na aviação, você deve estudar muito, sua mente deve estar sempre cinco minutos na frente da aeronave.

Nunca se esqueçam essa aproximação é complicada, não disse impossível, mas sim complicada. A decisão final é sempre de piloto em comando, se você não se sentir confortável com a aproximação, siga para a alternativa que tenha um procedimento mais amigável.

A segurança do voo é sempre sua responsabilidade, se não sabe como executar ou se você pensar não ter capacidade para executar o procedimento, não tente a sorte, principalmente em IMC.

Muitas vezes esses procedimentos são entre montanhas ou outros obstáculos e as chances de você sair vitorioso em um impacto contra uma montanha é mínima.

Até semana que vem, qualquer dúvida pode perguntar. 

Bons voos!

Roger Marcellus
roger.marcellus@icloud.com
Twitter:@rmarcellus

Renato Cobel
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