Formação de Piloto de Planador – Voo 02

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Olá!

Eu sou Carlos Eduardo Damasceno e essa é a coluna sobre a Formação de Piloto de Planador aqui, no Canal Piloto.

Semana passada, contei sobre meu primeiro voo, quanto demorou pra ele acontecer, e todos os procedimentos e lições dele. Hoje vou falar um pouco sobre meu segundo voo, que ocorreu dois dias após o primeiro, no feriado de 09 de Julho.

Apesar de ser uma segunda-feira, pelo fato de ser feriado, estava prevista uma operação naquele 09/07 em Jundiaí. Então acordei às 07h da manhã e já olhei pra janela. O tempo estava aberto, porém ao checar a meteorologia no REDEMET, pude verificar que estava previsto rajadas fortes de vento para a hora do almoço. Como ainda estávamos bem longe desse horário, decidi me arrumar pra ir ao aeroporto, acreditando que haveria operação.

Tomei banho, café da manhã, e saí de casa pontualmente às 08h. Em 15 minutos estávamos lá, e logo me apresentei na secretaria. O instrutor chefe daquele dia estava lá e me disse que eu havia sido o primeiro a chegar, e que aguardaríamos os outros.

Já eram 08h40min, e ninguém havia chegado, já estava achando que não iríamos operar de novo. Foi quando o instrutor me chamou e disse que havia ligado para a sede de Rio Claro, e que já tinha gente lá; me ofereceu carona caso quisesse ir. Como tinha tirado o dia para voar, decidi aceitar e lá fomos rumo à Rio Claro. Fizemos uma pequena parada na casa de um dos pilotos de planador mais antigos do aeroclube e do Brasil, e logo prosseguimos para a cidade em questão.

A viagem foi bem tranquila, aprendi muito com os dois! Depois de 1h20min, às 10h00min chegamos ao aeroporto de Rio Claro. O senhor que estava no carro já me disse que quando visse a garrafa de cachaça da fábrica, estávamos na cabeceira 03 do aeroporto.

Entramos no aeroporto, participamos do briefing e fomos para o transporte dos planadores às 11h00min. Na sede do Aeroclube Politécnico em Rio Claro, estão hangarados dois planadores de instrução. Ambos modelo Puchacz (PT-PPC e PT-PPD). Os dois já haviam passado pelo checklist interno e externo naquele dia e estavam em perfeitas condições, com exceção do PPD, que tava com um problema no microfone do assento traseiro, mas nada que prejudicasse o voo e a operação.

O transporte em Rio Claro é feito a pé mesmo, empurrando a aeronave. O aeroporto tem uma pista e três taxiways de terra, não tem torre, e tudo é coordenado através da frequência livre (123,45 MHz). A aeronave rebocadora é do aeroclube de Rio Claro, pois eles possuem um planador em operação.

Chegando à cabeceira, cruzamos atentos ao tráfego e estacionamos os planadores em 45º com a pista além de montarmos as barracas, tudo isso no setor leste (E ou L) do aeroporto.

Fomos preparando os primeiros planadores para decolar, enquanto aguardavamos o rebocador abastecer. Próximo das 11h30min, o Aeroboero do aeroclube chegou ao ponto de espera da cabeceira 03, disse estar pronto para decolagem. Corremos pra pista com o Puchacz e engatamos o cabo de reboque. Ao sinal positivo do planador foi iniciada a corrida, levantando bastante poeira.

Meu voo seria o quinto da lista. Havíamos combinado que cada voo duraria no máximo 45 minutos, pois estávamos com duas aeronaves; contando o tempo que o rebocador demora para voltar e o tempo para preparar a aeronave entre um voo e outro, podemos calcular que cada “voo” dura aproximadamente 1h20min. Portanto estava prevendo uma decolagem para no máximo 13h15min.

Às 13h10min com PPD já em solo, fui me preparar. Sentei, passei os cintos, fiz o checklist interno e aguardei a entrada do instrutor (o que me deu carona). Logo que ele entrou, às 13h20min os outros alunos e instrutores nos alinharam na cabeceira, e ficamos no aguardo do rebocador que estava abastecendo de novo. Chequei os lastros (pesinhos para balancear o peso na aeronave), canopi (“porta”) fechado, freios aerodinâmicos travados, tráfego e biruta.

Após o alinhamento do Aeroboero, e de verificar que a corda estava esticada, dei o sinal de ‘ok’ para o corredor de asa, e ele foi repassado ao piloto rebocador, que logo acelerou. O Aeroboero iniciou a decolagem. Subimos tranquilo, livrando o eixo da pista rapidamente para poder retornar em caso de pane de cabo, ou freio aerodinâmico. Nosso reboque seria até os 600 metros.

Nessa altitude verificamos frente livre, esquerda livre e nos desligamos, entrando em procedimento padrão com curva à esquerda.

Durante o reboque pilotei um pouco, o dia estava muito calmo, sem turbulências e com boas condições atmosféricas, estavamos prevendo muitas térmicas para o voo. Dito e feito. Logo ao nos desligarmos já havistamos alguns urubus girando em uma térmica e lá fomos nós.

Só para lembrar, no voo a vela os pássaros não são tão EVIL assim (como diria nosso querido Sales), por nos indicarem onde existem térmicas, mas também não é muito legal ficar muito perto deles para não colidirmos, não é?

Continuando. Fomos em direção àquela térmica e conseguimos subir até 800 metros. Enquanto estávamos subindo, fizemos o treinamento da primeira série de novo, e mais um pouco. Corrigimos o barbantinho (pedal puxa ele e aileron acompanha) e entrada e saída de térmica (prestar atenção para a direção que estava quando entrou e rodar baseado em alguma referência no solo).

Depois de algum tempo mantendo os 800 metros (limitado pela Academia da Força Aérea, por causa de uma aeronave em treinamento) passei os comandos para o instrutor para que ele fizesse algumas manobras com G positivo e negativo. Ele picava (empurra o manche, abaixam os profundores e abaixa o nariz) e a aeronave ganhava velocidade e em certa altitude e velocidade; cabrava (puxa o manche, levantam os profundores e levanta o nariz) a aeronave até o pré-stall. Quando ele lentamente soltava o manche, levava a gravidade à um nível próximo de zero. Tudo que está no assento ou nos bolsos da aeronave, saem flutuando pelo cockpit, inclusive nosso copor tem essa tendência, porém ela é limitada pelos cintos de segurança. A sensação é de estar livre no espaço, muito boa!

Depois de fazer isso por duas vezes ele me passou os comandos de novo, e saímos do setor oeste (W ou O) do aeroporto, e fomos para o setor leste (E ou L), onde estava o planador do aeroclube de Rio Claro e um motoplanador particular.

Rodamos dentro da térmica com eles. (Atenção: ao entrar em uma térmica, verificar o tráfego nela e girar no mesmo sentido dele sempre atentos à separação). Ficamos lá por mais uns 10 minutos, mantendo os 800 metros. O instrutor me pediu para sair da térmica e ir em direção ao aeroporto, descer para 300 metros, para a curva de espera, ele reportou essa ação no rádio que havia levado (por causa da falha no microfone do PPD no assento traseiro).

Chegando em cima do aeroporto, fizemos uma longa curva para a esquerda e rodamos cerca de duas vezes em cima dele. O instrutor me pediu para reportar que estávamos a 1 minuto do ingresso na perna do vento. Rodamos mais uma vez em cima do aeroporto, cruzamos a pista e ingressamos na perna do vento descendo para 200 metros.

Na perna do vento, fomos em direção à um prédio (acredito ser o mais alto da cidade) e ingressamos na perna base. Sempre reportando nossas atitudes nessas fases à baixa altura e próximo do aeroporto, além de manter velocidade entre 100 e 110 Km/h.

Eu continuei pilotando, mesmo depois do ingresso na perna final. Nessa hora o instrutor me disse que eu estaria nos comandos da aeronave, que ele cuidaria dos freios aerodinâmicos e iria corrigir o que eu fizesse de errado, além do arredondamento (correção final para o toque no solo) da aeronave.

Fomos bem para o pouso, cheguei bem alto e precisamos abrir todo o freio porque não podemos arremeter. O pouso foi bem no começo da pista, e logo estávamos parando. Saímos da aeronave e a tiramos do meio da pista, levando para o setor E do aeroporto. O jipe estava esperando para nos ajudar a levar o PPD até a cabeceira.

O instrutor foi comentando o voo durante o transporte, disse que eu estava muito bem, que havia passado de série, que já havia treinado algumas coisas da segunda série naquele dia, e que havíamos completado 46 minutos de voo.

Continuamos na operação até às 16h30min, quando não havia ninguém para voar. Guardamos as aeronaves no hangar e fomos para o debriefing. Comentamos o dia, nenhum incidente ocorrido e todos voaram.

Despedimo-nos e voltamos para Jundiaí. Na volta vim com aquele simpático comandante, que havia me deixado voar no sábado e que estava com sua família em Rio Claro. Ele gentilmente me deixou em casa e seguiu sua viagem para São Paulo.

Cheguei em casa perto das 20h00, cansado mas muito feliz pelo meu segundo voo, e pelos elogios. Já estava com 1h15min de voo.

Espero que tenham gostado!
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Muito Obrigado;
Carlos Eduardo Damasceno

Alexandre Sales
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