Formação de Piloto Privado nos EUA 10

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  Saudações leitores do Canal Piloto,

  Eu sou Claudio Motta, e hoje mais uma vez vou falar sobre a questão de vistos para formação de Piloto nos EUA.

  Semana passada após ler um comentário sobre a coluna, comecei a conversar com o Roger Marcellus sobre que caminhos ele tomou em relação ao seu visto para treinamento. O Roger me enviou um relato bastante informativo, o qual eu gostaria de compartilhar com vocês.

  “Bom dia Claudio,

  Vou contar pra você o que eu sei sobre o tal visto M1.

  Em Abril decidi fazer meu PP aqui nos EUA. Estava no Brasil, e comecei a procurar escolas perto de Washington D.C. Percebi que todas elas aceitavam estudantes internacionais, porém nenhuma delas fornecia o visto M1.

  Entrei em contato com todas as escolas da região, incluindo uma da Marinha dos EUA, e todos me deram a mesma informação: Com o visto B1/B2 (negócios/turismo) você vai até o site do TSA e solicita a autorização para o treinamento, recolhe fingerprint e pronto.

  Fiquei meio “pé atrás” com essa informação, então vi no fórum do site Airliners.net pessoas perguntando a mesma coisa. Uma pessoa comentou que a grande maioria das escolas que fornecem o M1 estão na Flórida/Califórnia, e que o valor cobrado pela instrução é quase o dobro do que nas escolas no resto do país.

  Liguei pro advogado de imigração da minha mãe e o mesmo me informou que o visto B1/B2 é válido para fazer um treinamento que não exceda 18 horas semanais. (Algo que eu não sabia).

  Com essa informação na mão, fui até a GT Aviation que fica localizada no Potomac Airfield (VKX), conversei com o dono da escola, o Sr. Tim Poole, que me falou que buscou a informação com o DHS e obteve a mesma resposta, porém antes de efetuar a matrícula eu deveria solicitar o clearance do TSA (processo que você já conhece).

 

  Nesse clearance, é verificado seus antecedentes criminais e também é verificado seu status com o CBP (Customs and Border Protection). Ou seja, caso o visto B1/B2 não seja válido, o candidato é vetado nesse momento.

  Liberado pelo TSA, fiz a minha matrícula e fui informado que deveria fazer um outro processo de clearance. O aeroporto em que a escola está localizada fica a 1NM do espaço aéreo de Andrews e a +/- 15NM da Casa Branca, Pentagon, Capitol e etc… Novo pedido de clearance, desta vez com o FBI, serviço secreto, INS, DOT e DHS. Novamente me deram liberação para operar neste espaço aéreo extremamente restrito sem maiores problemas.

  Terminei o PP e agora estou na metade do Instrument. Meu tempo de permanência aqui esgotou. Entrei com um pedido de troca de status, fui numa escola de inglês, fiz a matricula e eles cuidaram do resto. No meu novo status F1, tenho aulas de inglês de manha e vôo à tarde/noite.

  Resumindo: O visto M1 é bom pra quem quer fazer o PP em 15 dias e coisas assim. Se a pessoa não tem pressa, pode vir como intercambio F1 (STB, CI, etc…) e fazer ao mesmo tempo horas de voo. Com $$$ em caixa ele faz PPL, CPL/IFR, MLTE em 1 ano.

  As escolas que oferecem o M1 cobram um valor absurdo pela hora de voo. Vi uma que cobra 250 dólares a hora do C172, eu pago 80 a hora aqui em VKX.(+ INVA).

  Nessas escolas muitas vezes também não se voa com instrutores que falam inglês. Você tem muitos instrutores latinos/brasileiros e você praticamente não faz fonia. Perde uma parte importante do treinamento.

  Sei que fui meio confuso, mas espero que eu tenha esclarecido algumas coisas. Lembrando que eu não sou especialista em vistos dos EUA, só estou relatando minhas experiências pessoais.”

  Conclusão:

  Primeiramente gostaria de agradecer ao Roger por compartilhar sua experiência, pois assim não só vocês, como eu, podemos aprender fatos novos sobre a aviação nos EUA. Em relação ao visto B1/B2, eu não fazia ideia de que era possível realizar qualquer tipo de curso com esse visto, e de acordo com o relato do Roger, é sim possível fazer o PP com o B1/B2, contanto que você voe em média, menos que 2.5h por dia.

  O processo de clearance devido a escola se encontrar nas proximidades de Washington D.C. é algo normal nos Estados Unidos (não tenho ideia se existe no Brasil, mas nunca ouvi falar), devido ao perigo eminente de atentados terroristas.

  Já em relação à variação de preço derivada do fornecimento ou não do visto M1, imagino que nas grandes cidades, onde a quantidade de imigrantes visando a formação é maior, a diferença seja maior. Porém, no caso do Matheus por exemplo, o preço não foi nada muito acima do preço médio. Se não me falha a memória, ele falou em algo entre de 100 e 120 dólares (+ INVA), algo mais ou menos na mesma media que a escola que eu frequento ($103,00).

  E para finalizar, a questão do inglês e da fonia, mais uma vez pode ser um grande problema em regiões com muitos imigrantes. Ouvi falar que algumas escolas na florida, realizam a instrução em português, o que dificulta bastante o aprendizado do inglês. No meu caso por exemplo, fui “obrigado” a aprender o inglês, pois dos três instrutores que estavam disponíveis na época, dois eram americanos(vulgo white), e um descendente de mexicano que não fala espanhol.

 Não vou falar que falo inglês perfeito, até por que já escutei piadinha da torre por “enrolar a língua”, nem que a galerinha que vem do Mexico fala inglês bem (quem já escutou alguém de língua espanhola tentando aprender inglês, sabe que eles simplesmente não sabem a diferença fonética entre “B” e “V” ou entre “S” e “Z”, com exceção do espanhol da Espanha) porém, eles tentam e conseguem se comunicar. Já é complicado pra aprender se o INVA faz a fonia sempre no seu idioma, imagina em um outro idioma.

  Bons Voos,
  Claudio Motta

  Glossário
  TSA (Transportation Security Administration) – Administração de Segurança do Transporte
  DHS (Department of Homeland Security) – Departamento de Segurança Nacional
  Clearance – Autorização
  CBP(Customs and Border Protection) – Proteção de Fronteira e Aduana
  Pentagon – Pentagono(Sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos)
  Capitol – Capitólio (Sede do Congresso dos Estados Unidos)
  DOT (Department of Transportation) – Departamento de Transporte

Renato Cobel
Redes