Formação de Piloto Privado nos EUA 23

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Formação de Piloto Privado nos EUA 23
Texto: Claudio Motta – Vitrine: Eduardo Godoi

Saudações leitores do Canal Piloto,

Eu sou Claudio Motta e essa é a Coluna de Formação de PP nos EUA.

Hoje vou relatar o grande dia, que eu havia esperado por mais de 4 meses: O dia do meu voo solo.

Ao finalizar o ultimo voo, o Mike pediu que eu marcasse um voo pela manhã, já que o vento normalmente é mais calmo, porém devido à escola, eu só poderia voar no sabado.

Chequei no computador la da McCreery e percebi que o Mike não estava disponível no sábado, então ele me falou que se não tivesse nenhum compromisso no sábado, voaríamos às 9h30.

Na sexta feira à noite, após receber uma ligação confirmando o voo, separei o logbook, headset, kneeboard e manual do Cessna 172, pois meu pai queria dar uma passada na fábrica antes de ir para o aeroporto, e eu pretendia usar o tempo para dar uma revisada nos checklists de emergencia.

No sábado, acordei às 7:50, tomei um banho rapido, uma xícara de café para terminar de acordar e fomos para a fábrica.

No percuso de 30 minutos até, fui conversando com meu pai sobre os voos que eu ja havia realizado, manicacadas e formação futura. Ao nos aproximarmos mais da fabrica, o assunto mudou para a construção pois vimos dois caminhões de cimento no sentido contrario da Highway e ele falou que vinham de lá.

Chegamos lá em torno de 8:40, e após uma rápida conversa do meu pai com o pessoal lá da construção, já estavamos à caminho do aeroporto.

Durante esse percurso, dei uma olhada nos checklists de emergência, e em seguida fiz um voo mental, seguindo os checklists normais.

Ao chegar no aeroporto, meu pai sugeriu que eu fosse procurar o Mike na sala de instrução, porém eu achei melhor esperar um pouco e resolvi checar qual aeronave ele havia reservado, já que eu não havia feito reserva alguma.

Como era o primeiro voo do dia, ainda mais em um sábado, o lobby estava deserto, e o computador utilizado para reservas estava ligado porém não estava logado no site de reservas. Pedi para o rapaz que estava na recepção fazer o log in, e nesse instante o Mike chegou.

Eu havia pedido a ele o N97019 na semana anterior, porém, na sexta à noite, ele havia me dito que havia uma aeronave disponivel para as 9h30, mas não sabia qual seria. Enquanto ele checava qual aeronave voariamos, fui checar o ATIS e senti uma sensação estranha em escrever pela primeira vez “00000kt” (rsrs).

Em seguida o Mike perguntou se havia problemas em voar no N65040, pois o 019 estava reservado. Como o que eu queria era voar, aceitei sem pensar duas vezes.

Conversamos por dois ou três minutos com os pilotos de um Phenom 100 que estava a menos de 10 metros da porta. O copila tinha feito toda a formação lá e o comandante, parte da formação. Ambos bem novos, o copiloto devia estar na casa dos 20, aposto que nem 21 tinha (rsrs).

Em seguida, a tripulação do Phenom começou seus preparativos para o seu voo, e nós fomos preparar o nosso. Ao sair para o pátio, o Mike tentou ajeitar um “carrinho de golf” que estava estacionado ao lado da porta. Escutavamos um barulho agudo como se tivesse ligado, porém a chave na posição desligada.

O Mike falou : “I hope it doesn’t die when we’re out there” (Espero que não descarregue quando a gente estiver lá fora). Em seguida, complementou, se referindo ao meu pai: “We are going to take a ride on it so we can get a closer look, closer to the runway” (Nós vamos usar ele para ter uma visão melhor, mais perto da pista).

Deixamos o carrinho lá e fomos para a aeronave, que estava estacionada de frente para a taxiway, algo que me deixa bem feliz. Como peso pouco mais de 58kg (um graveto), tenho bastante dificuldade em virar a aeronave, ou sento no estabilizador, ou empurro a aeronave, não consigo fazer os dois ao mesmo tempo, pois o nariz acaba baixando. ( rsrs )

Enquanto eu fazia o check externo, meu pai ficou conversando com o Mike e aproveitou para tirar uma única porém extremamente vergonhosa foto minha, checando o nivel de oléo do motor.

Com Preflight Checklist completo, realizei o Passenger Briefing com o meu pai, mostrando aonde estava o extintor, como abrir portas, janelas e etc.

O acionamento deu um pouquinho de trabalho por ser o primeiro voo do dia, mas na segunda tentativa pegou. Em seguida, sintonizei a frequencia do ATIS no COM2 para rechecar se estavam transmitindo a informação Oscar, desativei o COM2 e chamei o solo para taxi.

Como de costume, fomos autorizados taxi via D, A, até o ponto de espera da 13, com cruzamento da 18 autorizado, e assim fiz.

Após realizar o Engine Run-up, chamei a torre e fomos autorizados a decolar da 13 com circuito pela direita. Alinhei, enchi a mão na manete, e com pouco mais de 55kt estavamos fora de solo. Mesmo com o peso extra do meu pai no assento traseiro, a baixa temperatura ajudou, e a aeronave subia sem esforço.

Fiz o circuito bem relaxado, o primeiro em muito tempo em dia frio sem fortes ventos. Na perna do vento chamei a torre e fui autorizado For the Option para a pista 13. O controlador provavelmente deveria estar com a frequência do solo congestionada e falou isso tão enrolado quanto eu quando tentei agilizar a fonia um tempo atras, tanto que o Mike imitou minha lingua enrolada da outra vez (rsrs).

Chequei o seletor de combustivel em Both, Mixtura Rica, Carburetor Heat On, 1700RPM e Flaps 10°. Esperei a indicada chegar à 80kt e deixei o nariz cair suavemente para manter essa velocidade. Como o vento estava calmo, o pouso foi com flaps em 30°. Após o toque, recolhi os flaps, fechei o Carburetor Heat, e arremetí e repetí o procedimento

No segundo pouso eu arredondei um pouco tarde, e o pouso foi um pouco mais duro, mais uma vez  recolhi os flaps, fechei o Carburetor Heat e arremetí.

O Mike pediu para que eu fizesse uma parada total no proximo pouso e solicitasse taxi para a McCreery.

Percebi pela biruta que o vento já havia começado a soprar levemente. Livramos a pista pela A3, e taxiamos via D até a McCreery.

Durante o taxi, ele me perguntou se eu estava preparado e se estava nervoso, respondi que sim para as duas, e em seguida ele chamou a torre já que haviamos sido instruidos a manter a frequencia.

– McAllen Tower, 040 (Torre McAllen, 040).

– 040, go ahead”(040, prossiga)

– I’ve got a student going for his first solo, he’ll be taxiing back in a couple of minutes, 040 (Eu tenho um aluno realizando o primeiro solo, ele vai taxiar novamente em alguns minutos).

– Roger that, call McAllen Ground for taxiing back (Ciente, chame o Solo McAllen para novo taxi)

– Please be gentle (Por favor ‘pegue leve’ rs)

– I’ll do my best (Farei o possivel rs)

Em seguida ele pediu que eu parasse a aeronave, desceu, ajudou meu pai a descer e me disse: “Now the plane is yours, just do what you’ve been doing, and you’ll be fine. Relax and enjoy”.

Com isso ele se afastou da aeronave e indicou com gestos para que eu travasse a porta e a janela do lado direito.

Incrivelmente quanto mais alguem lhe fala que não precisa ficar nervoso, mais você fica nervoso, ou pelo menos eu fico. Enquanto o Mike e meu pai desembarcavam, minha perna direita estava tremendo incontrolavelmente, e eu não podia diminui a pressão do pé no freio se não a aeronave iria começar a se movimentar, e o pé do Mike tava bem perto do trem de pouso então não aliviei a pressão até que eles tivessem se afastado.

Aguardei um RV-7, se não me engano, cotejar as instruções para taxi e solicitei meu taxi. Fui autorizado como o primeiro e fiz o mesmo trajeto até a cabeceira da 13, atras do RV-7.

Fui seguido pelo meu pai e pelo Mike no carrinho de golf até a D, onde eu cruzei a 18 e continuei o taxi e eles prosseguiram no patio até um ponto mais proximo da pista.

Ao chegar no ponto de espera, a aeronave na minha prosseguiu para a Run-up Area, e como eu já havia realizado o meu, chamei a Torr..Solo.

Provavelmente eu não apertei o botão switch do COM1 até o ‘fundo’ ou apertei duas vezes sem querer. O fato é que ainda ainda estava na frequencia do solo.

“040, McAllen Tower on 118.5”– “040, Torre McAllen em 118.5”

“Roger That, 040” – “Ciente, 040”

Falei em voz alta ‘Manicaca’ três vezes, troquei a frequencia e chamei novamente. Dessa vez fui autorizado a decolar da pista 13, com circuito pela direita. Antes que pudesse chamar a torre na perna do vento, a mesma me chamou e me autorizou “For The Option” na 13.

O nervosismo já tinha ido embora, porém eu estava bem concentrado, pra evitar outro ‘vacilo’.

O pouso foi tranquilo, um pouco à direita da centerline, porém nada que o instrutor fosse reclamar caso estivesse presente. Na arremetida passei um pouco mais baixo onde meu pai e o instrutor estavam vi eles acenando, acenei de volta, porém duvido que eles tenham visto (rsrs).

Após arremeter eu já estava um pouco mais tranquilo, e dei uma gargalhada sem motivo, daí em diante foi sorriso de orelha a orelha pelo resto do voo (e pelo resto do dia também rsrs).

Eu tinha planejado comprar um suporte para o celular, para pregar em para-brisas de carros, e usá-lo durante o voo para filmar, porém esqueci de comprar então puxei o celular do bolso e tirei umas fotos para guardar o momento.

Ao chegar na perna base, comecei a pensar comigo mesmo se esse era o segundo ou o terceiro pouso. Eu sabia que era o segundo porém algo me dizia que era o terceiro, acho que meu subconsiente contou a primeira decolagem como uma arremetida ou algo do tipo (rsrs).

Caprichei no segundo pouso, acho que foi o melhor que eu já fiz: certinho na centerline e muito suave, mal senti o toque.

Arremeti e na perna base chamei a torre solicitando parada total. Fui autorizado pouso mantendo separação visual com a aeronave que estava decolando.

No na perna do vento, arrisquei fazer um vídeo, e enquanto estava nivelado pude segurar o celular. Depois que chamei a torre, deixei o celular em cima do kneeboard para tentar gravar alguma coisa.

Mas acho que gastei meus “bons pousos” com os dois primeiros, pois o terceiro não foi tão confortavel. Arredondei um pouco alto de mais, dei uma quicadinha, depois que já tava no chão lembrei do Mike falando: “Add a little power if you overflare, so the plane won’t fall” (Dê um pouquinho de motor se você arredondar de mais pra evitar que a aeronave despenque).

Fui autorizado taxi novamente pela A3 e D, e prossegui feliz da vida. Ao chegar no cruzamento da D com a 18 aguardei dois tratores que passavam  no sentido oposto ao que eu iria e em seguida o carrinho em que meu pai e o instrutor estavam. Após a passagem dos mesmos, prossegui com o taxi até o hangar. Chegando lá o Mike deu uma de marshaller e me indicou onde parar.

– 1700RPM, 1-thousand, 2-thousand, 3-thousand, 4-thousand, 1200RPM, Avionics off, Mixture Cut.

Completei o cheque de abandono, tirei umas fotos na aeronave, e fomos para o terminal.

Chegando lá lembrei que tinha esquecido de colocar uma camisa velha, e se cortassem aquela minha mãe ia me matar, então prometi levar uma no proximo voo pra não quebrar a tradição.

Recebi os parabéns do George que é o Senior Chief Instructor, mais uma vez os parabens do Mike e simplesmente não conseguia acreditar que tinha acabado de solar.

Com o logbook assinado, sorriso no rosto, e mais uma etapa concluida, fui para casa comemorar.

Espero que tenham gostado,

Claudio Motta
claudiomottac@yahoo.com

Renato Cobel
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