Formação de PPA 03

posted in: Lucas Ferrão, Textos | 3

Boa tarde pessoal do Canal Piloto,

A coluna de hoje será a respeito do CMA. Irei compartilhar com vocês como é tirar o CMA em uma clínica e porque não fiz no HASP.

Durante o teórico estive conversando com meu professor de navegação a respeito do CMA. Falei que como ainda não estava de férias, não poderia ir até o HASP pois dois dias faltando na escola em época de prova seria suicídio. Até então eu não sabia, mas ele me falou que já existiam clínicas credenciadas que estavam tirando o CMA de 1ª e 2ª classe.

(Imagem de Iata A.)

 Como queria tirar o CMA logo, optei por pesquisar algumas clínicas. A sugerida era a Lavue, uma clínica próxima a Avenida Paulista e que por dez reais a mais do que no HASP, eu teria meu Certificado Médico Aeronáutico em mãos em apenas três horas. 

Diferente do Hospital de Aeronáutica de São Paulo, na Lavue eu teria que levar alguns exames a mais. Como tenho convênio médico, isso não seria problema. Em poucas semanas já estava com o exame de sangue, o eletrocardiograma, o eletroencefalograma, a audiometria tonal e vocal, as radiografias do tórax e dos seios da face e a panorâmica oral.

Só faltava fazer o ergométrico, porém tive um imprevisto. O aparelho que realiza o exame estava quebrado e a lista de espera estava até Agosto. Conversando com meus pais, já tínhamos decidido que eu só iria voar em Agosto, portanto como não tinha pressa, resolvi aguarda.

Como já estava de férias, poderia ter ido até o HASP, mas já tinha os exames em mãos e como não estava com pressa, resolvi aguardar e ir na Lavue mesmo. Os meses se passaram, voltei de viajem e liguei na clínica para ver se conseguia fazer o ergométrico. Felizmente já estava tudo normalizado e consegui agendar meu exame.

Dos exames que fiz, as novidades foram o eletrocardiograma e o eletroencefalograma. No eletrocardiograma são colocados eletrodos em seu peito e no eletroencefalograma em sua cabeça, assim o aparelho consegue medir a atividade elétrica em seu corpo.

Agora a novidade seria o ergométrico. Tudo que eu sabia é que seriam colocados eletrodos em meu peito e eu ficaria correndo na esteira até o médico conseguir o resultado desejado. Acho que quando o médico viu aquele moleque de 17 anos e magrelo entrando na sala, resolveu que era aquele mesmo que iria correr. Corri quase 11 minutos na esteira.

Quando parei e deitei na maca, parecia que eu estava em uma banheira, já que o suor encharcou a maca. Retiraram os eletrodos e fui para casa. Agora estava tudo certo para ir na clínica.

Liguei na Lavue e dia 2 de Agosto já estava lá. Cheguei no prédio, fiz o cadastro e subi. Chegando na recepção, me apresentei e a recepcionista, muito atenciosa por sinal, me pediu o RG, o CPF e em seguida os exames. Entreguei. Em seguida um susto. Ela me pediu uma carta de encaminhamento do aeroclube. Eu realmente tinha me esquecido disso. A sorte foi que eu estava levando junto o crachá do ACSP e o contrato de matrícula.

Ali ela me devolveu meus documentos, ficou com os exames e me entregou uma prancheta com um lápis, uma borracha e alguns questionários. Fui orientado a ir até a sala ao lado onde teria um local para sentar e preencher todas as fixas calmamente. Terminei a fixa do cadastro, entreguei na recepção e fui continuar os outros questionários.

Era um formulário simples. As perguntas eram sobre meu histórico médico e familiar. Enquanto respondia as perguntas alguns pilotos já começavam seus exames. Uma médica francesa e muito simpática vinha chamar cada paciente para fazer os exames. A princípio pensava que ela era a psicóloga pois era extremamente simpática com todos ali.

Terminei o formulário e era a vez de preencher a ficha para o psicotécnico. Ali basicamente teria que fazer três desenhos (todos com chão) e um breve comentário. Tive que desenha uma árvore frutífera, uma casa e uma pessoa que não fosse um boneco de palito.

Assim que terminei a médica veio me chamar para iniciar os exames. Ao mesmo tempo uma das recepcionistas me chamou. Já pensei: “Ferrou tudo”. Ela veio me alertar que estava faltando um exame e tinha dois exames iguais. Foi ai que me lembrei que quando cheguei em casa após o eletrocardiograma e o eletroencefalograma, abri os exames e tinham dois eletrocardiogramas.

Pedi que me enviasse o que faltava, porém esqueci de trocá-los para levar na Lavue. A recepcionista, vendo minha situação e minha cara, me avisou calmamente que poderia continuar os exames normalmente, porém só teria o CMA assim que trouxesse o exame que faltava.

Felizmente mamãe coruja estava lá. Vendo a situação ela se voluntariou a ir até em casa buscar o exame. A princípio não gostei da ideia, pois não queria que ela saísse da Av. Paulista e fosse até o Sacomã só para isso. Eu poderia levar o exame no dia seguinte, mas não daria tempo de ter o CMA para ir em Bragança fazer a matrícula. Então fiquei naquela de querer mas também não querer deixar ela ir. Acabou que ela foi e eu fui dar inicio meus exames.

O primeiro exame era com a médica francesa. Ela era a oftalmologista da clínica. A primeira coisa que ela me disse quando pegou a ficha foi o quanto novo eu era. Em seguida ela examinou meu óculos pois tenho 1,75 de miopia em cada olho, felizmente estabilizado. Ali ela pediu para eu ler algumas letras na parede, examinou meu olho e me deu um livrinho. Abri e era o exame de daltonismo.

Li normalmente os números e em seguida ela me deu um óculos parecido com aqueles de 3D. Segurei uma plaquinha de metal e nela tinham cerca de nove figuras. Cada figura era composta por quatro bolas nas posições Norte, Sul, Leste e Oeste. Cada vez que olhava para uma figura uma das bolas se destacava. Eu tinha que falar o número da figura e qual das quatro bolas estava destacada.

Encerramos os exames relacionados a visão, conversamos por alguns instantes sobre o por que eu queria ser piloto de avião e em seguida fui para outra sala.

O segundo exame seria o odontológico. Outro médico muito simpático me cumprimentou e pediu que eu sentasse. Ali ele viu se eu tinha algum desvio de septo e em seguida examinou meus dentes. Perguntou a quanto tempo usava aparelho (acredito que 4 a 5 anos) e se tinha alguma dor. Respondi e ele martelou dente por dente e pediu para se eu sentisse alguma dor para avisar. Ocorreu tudo normalmente, ele preencheu a minha ficha, carimbou e logo o psicólogo me chamou.

Voltei para a sala de oftalmologia. Acho que o requisito para trabalhar na clínica é a simpatia. Todos médicos ali te tratavam com muito bem. O psicólogo conversou comigo, perguntou por que eu quero ser piloto, se tenho parentes na área e depois fez perguntas sobre a minha vida, minha família, minhas amizades, etc. Agradeci e agora só faltava o psicotécnico. Enquanto aguardava aproveitei para ligar para minha mãe e ver se estava tudo certo. Ela já estava voltando para a clínica.

Aguardei alguns minutos e a médica que iria realizar meu psicotécnico me chamou. Quanto a simpatia acho que não preciso mais falar. Entrei em uma sala, sentei e ali a médica começou a ler o questionário comigo. Lia a pergunta, a resposta e perguntava algo se baseando naquilo. Fez algumas anotações no verso e partimos para os desenhos.

Viu a árvore e perguntou se ela estava feliz, se estava sozinha, se as frutas eram saudáveis, etc. Viu a pessoa e perguntou se ela se sentia bem, se tinha família, etc. Viu a casa e perguntou se me trazia boas lembranças, se costumava ir aquele local, etc. Terminamos a conversa e iria começar a parte que eu realmente temia no exame. Ali ela me deu uma folha com alguns símbolos e me explicou o que era para fazer.

Toda vez que aparecesse um símbolo igual ao destacado no topo da página eu teria que riscar. Caso errasse e notasse, circulava para ela saber que eu notei. Até ai nada diferente do esperado. Virei a folha e o exame apareceu. A única diferença que tinha era que no topo ou na base de cada coluna tinha uma seta indicando o sentido de como eu deveria ler a coluna.

Seria um zigue-zague. Comecei no topo da primeira coluna, depois na base da segunda e assim respectivamente. Terminei antes dos dois minutos. Pensei que iria acabar por ali, mas faltava um exame relacionado a audição. Ela me explicou que ela iria falar uma sequência número e eu teria q repetir na ordem. Começamos: 

– Médica: 2 7
– 2 7
– Médica: 3 9 5
– 3 9 5
– Médica: 4 0 1 2
– 4 0 1 2
– Médica: 6 8 3 2 4
– 6 8 3 2 4

Quando me dei conta estava falando sequências de dez unidades. Finalmente ela parou. Já estava pronto para me levantar quando ela falou: “Agora vou falar a sequência e você terá que me repetir de trás para frente”. Foi ai que pensei “F….”. Quando estava falando sequências de sete unidades já estava todo perdido. Paramos por ali mesmo. 

Ela fez algumas anotações, deu um sorriso e falou que estava tudo certo. Logo o sorriso apareceu novamente no meu rosto. Levei os resultados na recepção e avisei que logo o último exame estaria chegando. Aguardei alguns minutos na sala de espera e logo minha mãe chegou com o exame que faltava.

Foram 5 minutos para entregar o último exame e ser avisado que meu CMA estaria no site da ANAC em breve. Agradeci a todos ali e fui embora. Agradeci a minha mãe pelo favor e paramos para comer algo. Nessa mesma noite abri o site da ANAC e lá estava meu CMA pronto.

No final de semana fui até Bragança, fiz a matrícula, paguei a taxa de R$100,00 referente aos manuais e agora era só estudar para o ground school.

(Imagem: Iata A.)

Por que escolhi Bragança? Qual aeronave? Gostei de lá? Isso fica para a próxima coluna.

Bons voos a todos.

Ferrão

Renato Cobel
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