Formação de PPA 04

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Boa tarde leitores,

Hoje nossa coluna abordará os fatores que me levaram a voar no Aeroclube de Bragança Paulista e principalmente como foi meu primeiro voo de instrução.

Como já tinha reportado anteriormente, fiz meu teórico de Piloto Privado de Avião no Aeroclube de São Paulo, passei na banca da ANAC e já tenho o CMA em mãos. Tudo pronto para voar. Agora é só escolher um aeroclube e começar o treinamento prático de PPA.

A princípio eu tinha duas opções: Aeroclube de São Paulo e Aeroclube de Bragança Paulista.

• Aeroclube de São Paulo: aparenta ótima estrutura, instrutores e aeronaves de qualidade, manutenção em dia, preços na média e de metro levaria uma hora para chegar.

• Aeroclube de Bragança Paulista, ótima estrutura, instrutores excelentes, aeronaves excelentes com manutenção em dia, preços padrões e como a cada 15 dias costumo passar o final de semana na cidade, não teria problemas com distância, mesmo o alojamento sendo gratuito.

Como podem ver as características são muito semelhantes, então vou descrever por que escolhi Bragança Paulista.

Meu teórico foi entre Março e Junho. Em Abril, fui me informar de como deveria proceder para voar no aeroclube. Me passaram os valores das aeronaves e em seguida disseram que eu teria que fazer o Ground School (exigência da ANAC).

O Ground no ACSP nada mais é do que uma palestra com um instrutor abordando as características da aeronave. A lista estava com 3 meses de espera. A princípio não teria problema pois ainda tinha 3 meses de aula. Deixei meu nome para o Ground do Cherokee e do Diamond.

Acabou o teórico, fiz a banca, tirei o CMA e nenhum contato do ACSP. Fui até lá com um amigo me informar quanto tempo mais levaria e passaram que estaríamos nas próximas listas. Aguardamos mais algumas semanas e nada.

Quando fui buscar meu diploma do teórico aproveitei e passei na secretaria para ver o ground. Fui informado que tentaram 3 vezes contato comigo e com meu amigo e ninguém atendeu. Para fazer o ground teríamos que aguardar mais 3 meses.

Resolvi nem esquentar a cabeça. Nesse período tinha ido até Bragança Paulista e visitado o aeroclube. Gostei muito. O ambiente é totalmente diferente de São Paulo. Não existe diferença entre alunos experientes, alunos novos, instrutores, funcionários e proprietários de aeronaves.

Todos conversam normalmente. O aeroclube possui um hangar onde realizam a sua própria manutenção e outro hangar onde guardam as aeronaves. Dispõem de uma lanchonete com comida simples porém muito boa, alojamento gratuito e uma pracinha para todos acompanharem as operações no aeroporto e conversarem.

(Imagem: Erico Williams)

Decidido, dia 4 de Agosto fui com toda a documentação fazer minha matrícula no Aeroclube de Bragança. Preenchi a fica de matrícula e paguei a taxa de R$100,00 referente aos manuais. Fui informado que o Ground School seria uma provinha de 20 questões baseada no manual da aeronave e um check externo acompanhado de um instrutor. Quando quisesse era só aparecer no aeroclube e fazer a prova e em seguida poderia voar.

(Imagem: Arquivo Pessoal)

Voltei para São Paulo e meu pai disse que voltaríamos para Bragança dia 25 de Agosto e eu já poderia iniciar o prático. Como em Bragança a escala só abre com uma semana de antecedência, tive que aguardar até dia 18 para ligar e agendar o voo. Sete e meia da manhã (quando a escala abre) liguei para o aeroclube e agendei um voo para as 14:30.

Voo agendado, agora era só estudar.

A aeronave escolhida foi o Paulistinha. Uma aeronave muito conhecida na aviação por sua simplicidade de operar. É uma aeronave monomotor com estrutura tubular, trem de pouso convencional, asa alta, semi-cantilever e realmente muito simples.

(Imagem: Rafael Araujo)

Para o Ground, deveria ler a parte do manual relacionada a operação da aeronave. São 43 páginas com informações básica da aeronave, como dimensões, características do motor, autonomia, sistemas, etc. A outra parte do manual era voltada para as manobras do curso. Por curiosidade também já dei uma lida em tudo.

Chegado o dia, sai de São Paulo 9h da manhã e 11h já estava no aeroclube. Lá já encontrei dois amigos que estudaram comigo no ACSP, Lucas Candido e Carlos Alberto. Me apresentei na secretaria, informei que iria fazer o Ground e que as 14:30 tinha um voo marcado. Logo já chamaram uma instrutora para me apresentar a aeronave e fazer o Ground e depois era só aguardar para o voo.

Como iria fazer o voo no mesmo dia a instrutora disse que só iria fazer a apresentação da aeronave e em seguida me aplicaria a prova. O check externo eu faria na hora do voo mesmo.

Subimos para uma sala e lá a instrutora me apresentou alguns slides da aeronave. Nada além do que constava no manual. Como não tinha nenhuma dúvida ela me deu a prova e disse que poderia começar. Eram 20 questões, 4 alternativas cadas, todas baseadas no manual. Dentro de 5 minutos já tinha respondido todas. Felizmente acertei as 20! Agora era só aguardar até 13:30 para iniciar o briefing.

Aproveitei para almoçar e ver o movimento das aeronaves. Perto de 13:30 me chamaram na secretaria, me deram minha pasta e chamaram um instrutor. Me apresentaram e falaram que seria meu primeiro voo.

Seguimos para a sala de briefing e lá o instrutor me apresentou as missões que eu iria realizar durante o curso, falou das áreas de treinamento, do aeródromo e um pouco da operação da aeronave. Me explicou que iria fazer um check externo comigo, iriamos até o DAESP notificar o voo e em seguida se amarrar na aeronave.

Tudo certo, fomos para o pátio.

A aeronave seria o P56C PP-GXN. Diferente dos demais Paulistinha, o GXN possui intercomunicação e partida elétrica. Fiz a inspeção da aeronave com o INVA explicando algumas coisas e com tudo certo seguimos para o DAESP para notificar.

(Imagem: Rafael Torquato)

A notificação no DAESP é bem simples. Você preenche os campos pelo computador, envia, o pessoal da Rádio Bragança já imprime, o instrutor assina e vamos para o avião.

Ajustei os cintos, me amarrei e estava pronto.

– INVA: Freado, cabrado e livre
Freado, cabrado e livre
– INVA: Atenção contato
Contato

Quando o instrutor solicita contato, devemos ligar os magnetos e avançar a manete de potência meia polega. Como o GXN tinha partida elétrica, não era necessário o instrutor girar a hélice. Feito o briefing de acionamento, com a mão esquerda apertei o starter.

Motor acionado, reduzi a manete, pressão e óleo checados, levar manete a 1000RPM.

Tudo certo o instrutor retirou os calços e subiu no avião. Se amarrou, chamou a Rádio Bragança e iniciamos o taxi para a cabeceira 16.

No briefing também foi explicado como é o taxi do Paulistinha. Por ser uma aeronave convencional o nariz fica muito alto, impossibilitando a visão frontal do piloto. Por isso o taxi é feito em S, assim podemos ver pelas laterais o que está a nossa frente.

Com um pouco de dificuldade para controlar a bequilha durante o taxi, chegamos ao ponto de espera da 16. Cheque de cabeceira e briefing de decolagem. O instrutor pediu para eu afastar os pés dos pedais e manter as mãos nos joelhos durante a decolagem. Alinhamos e decolamos.

O voo seria uma apresentação da aeronave, das manobras e das áreas de treinamento. Em Bragança temos três aéreas de treinamento: SBR458, SBR459 e SBR460.

(Imagem: Arquivo Pessoal)

Subimos até 3900ft mantendo o eixo da pista, em seguida aproamos a SBR458 subindo para 5000ft. Estabilizamos próximos a Atibaia e ao fixo Cruzeiro. O instrutor então deixou eu assumiu a aeronave já no reto horizontal. A principio tinha que manter uma proa, 80mph e 5000ft. Próximos a Atibaia iniciamos uma curva na proa da SBR460. A SBR460 é uma região mais rural. Possui duas pistas (Fazenda Vale Eldorado e Primavera) que usamos para algumas manobras. Durante o voo sobre a SBR460 o instrutor me mostrou algumas manobras como curvas de grande, voo no pré estol e coordenação de 1º e 2º tipo.

Livramos a SBR460 e seguimos para a SBR459. Uma região muito bonita pois sobrevoamos a famosa represa de Bragança. Lá embaixo podia ver condomínios, pessoas na represa e alguns jet skis. A visão realmente é muito linda lá de cima.

(Imagem: Rafael Torquato)

Quando estávamos quase voltando o instrutor perguntou se eu queria conhecer o estol. Desde que descobri o estol, sempre quis sentir essa manobra. Então ele fez seis tipos diferentes de estóis. Três com motor e três sem.

Já avistamos Extrema e nosso tempo estava acabando. O instrutor perguntou onde estava Bragança, apontei e ele pediu para levar a gente de volta para casa.

Próximos a Bragança iniciamos uma descida para 3900ft para ingressar no circuito. O instrutor assumiu, ingressou na Perna do Vento, no último terço da pista abriu o ar quente, no través da cabeceira iniciou o voo planado, girou base, final, pousamos e livramos. Assumi no taxi e levei até o pátio do aeroclube.

(Imagem: Fabiano Costa)

Freado, cabrado e motor a 1000 RPM, corte nos magnetos.

Descemos da aeronave, fiz o cheque de abandono, peguei os documentos e fomos para o debriefing. A conversa foi bem tranquila. O instrutor perguntou o que achei do voo e como me senti. Me deu algumas dicas e me explicou como seria o próximo voo, a PS03 – Mudança de Atitude.

Voar é algo que não consigo descrever. É uma oportunidade para poucos poder estar no comando de uma aeronave. Mesmo não fazendo nada demais no voo, já é algo muito diferente poder segurar um avião no ar.

Vou deixar um vídeo que fiz durante o voo. Não ficou bom, mas com o tempo melhorou.

Mais um pequeno passo foi dado. Agora é estudar e se dedicar bastante em tudo.

Próximo voo: Mudança de Atitude.

Bons voos a todos!

Ferrão

Renato Cobel
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