Livre Pouso 03

posted in: Helena Gagine, Textos | 6

“Voar é um forma de ficar mais perto da natureza.
Acompanhar seu progresso faz com que você compreenda suas

limitações e tenha respeito pelo universo formado
entre o homem, a máquina e o meio.

A cada dia o voo te traz sensações e prazeres que,
felizmente, a rotina nunca conseguirá interferir”
.

Oscar Lima Alfa Tripulação! Dizem que a primeira vez a gente nunca esquece, certo? Então, hoje vamos falar sobre as primeiras vezes de um piloto aluno. O comentário acima é de um instrutor com quem eu partilhei algumas dessas primeiras vezes.

Ele estava no meu primeiro Voo Noturno e aquela deveria ser a minha 10ª hora. O visual é inesquecível e me lembro de que, em meio a todo o meu deslumbre com o que estava diante dos meus olhos, escutava a voz dele bem de longe dizendo: “Olha a P.A.!  A velo! A altitude!”… E nada, eu não reagia, só ouvia mesmo o meu coração batendo acelerado.

Também era ele na primeira tentativa de Navegação (Itu-Sorocaba), que foi abortada na metade devido às condições meteorológicas, quando eu aprendi, na prática, a respeitar os mais velhos, mas isso é assunto para mais horas de Livre Pouso. A princípio, só adianto que a Dona Meteorologia é maior e bem mais idosa do que você, logo, merece todo o seu respeito.

E o que dizer, então, sobre o nosso primeiro voo de instrução? Aquele que encabeçará a primeira linha da nossa CIV? Resolvi perguntar às Criaturas (Alunos, PPHs, PCHs, INVHs, PLAs) sobre qual era a primeira coisa que vinha em suas mentes inusitadas a respeito do assunto.

E as respostas foram “O que eu fui inventar de fazer!”, “Desliguei de tudo e me encontrei comigo mesmo”, “Entrei em harmonia com o mundo e me conectei com Deus”, “Realização e expectativa para um novo horizonte que se abria”… Eles são românticos, né?!

Entretanto, o mais curioso foi o relato de um deles sobre um sonho constante de que estava pilotando e quando o realizou em sua primeira hora, disse que a sensação foi exatamente como a do sonho. Incrível, não é?! Não disse que eles tinham mentes inusitadas?!

Já no meu caso foi mais ou menos assim: Ground School do R22 concluído, banca do PPH realizada, primeiro pacote de horas fechado, escala confirmada, dia lindo de sol e céu azul… Agora é só voar, certo? Negativo, Cmte.!! Se a minha espécie pode esperar 9 meses para ver o resultado de algo, na aviação não seria diferente…

Pasmem, mas a minha primeira hora de voo foi acontecer só depois da quinta tentativa. Tudo isso por causa dela, a malvada D. Meteoro – sim, ela me persegue! – Acho que agora já dá para entender um pouco como aprendi a respeitá-la.

Era um novembro com vento considerável, eu não aproveitaria nada do voo nessas condições, já que este é o momento para iniciar um trabalho de internalizar o funcionamento dos comandos e reações da aeronave, tudo coordenado com os seus sentidos.

Desde o solo, passando pelo taxi, decolagem, reto nivelado, voltando para aproximação e pouso, você vai adquirindo intimidade com o helicóptero. Primeiro os pedais, em seguida o coletivo e, por último, o cíclico, até que você se vê com todos os comandos nas mãos e realiza a sua primeira manobra: curvas de pequena inclinação que chamamos de “S sobre estrada”.

É o início da sua conexão com a máquina e aquele espaço onde estamos inseridos… Definitivamente, não daria para entrar nesse clima todo de romance com a D. Meteoro querendo chamar a atenção!

O meu primeiro instrutor era excelente, já tinha bastante experiência e era nítido que gostava de ensinar. Em meio aos cancelamentos e toda a frustração, ele me apresentou uma coisa chamada NACELE, que é o tempo que dedicamos à familiarização com a cabine da aeronave, seus comandos, instrumentos, além dos procedimentos de acionamento e corte.

É o método mais eficaz, econômico e seguro de se aprender sobre a máquina e desbravar o seu manual. Fora o fato de ter sido um poderoso método “acalma coração de piloto”, já que não dava para voar, pelo menos algum contato com o helicóptero eu podia ter.

E foi assim que saiu o primeiro voo de instrução! No começo, eu tinha mais hora NACELE do que em voo, mas valeu muito a pena! E essa é a minha dica de hoje… Todos nós sabemos o quanto a hora de voo é cara, por isso, consuma-a voando e deixe para aprender o resto no solo. O bolso e os instrutores agradecem!

Livre Pouso, no Canal Piloto, pro corte. Boa!

Helena Gagine 

Renato Cobel
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