Livre Pouso 06

posted in: Helena Gagine, Textos | 6

“Nosso corpo é a nossa única realidade perceptível. Não se opõe à nossa inteligência,
sentimento ou alma, mas os inclui e dá-lhes abrigo… Tomar consciência do próprio
corpo é ter acesso ao ser inteiro.”

O.L.A. queridas criaturas! Hoje vamos falar sobre a percepção. As palavras acima são de um professor que é referência na área da Educação Física.

Estávamos justamente falando sobre a percepção no último texto, quando, abruptamente, fomos interrompidos pela fonia, você se lembra? Claro que sim! Quem pode esquecer as primeiras vezes na fonia?!

Quem nunca teve gagueira momentânea ou olhou para o Instrutor com aquela cara de ponto de interrogação do tipo “o que eu tenho mesmo que fazer agora?” logo após cotejar a informação completa que o Controle havia acabado de passar?

E é assim, de maneira abrupta, que quando estamos prestes a “sentir o voo”, somos interrompidos pela tremenda carga de trabalho, que vai ficando cada vez mais intensa, dificultando ainda mais a nossa vida. É, piloto… Quem disse para você que seria fácil, mentiu!  E aí você deve estar se perguntando “o que o corpo tem a ver com isso tudo?”.

E eu te respondo… Vamos fazer um exercício? Antes de qualquer coisa, enquanto lê este texto, mantenha o seu olhar fixo a ele e, sem se movimentar, tente se lembrar de algo que está bem atrás de você…

Estranho?! Não lembra o que é?! Agora repita o exercício com os olhos fechados… Mais fácil, não é? Quando estudamos algum tipo de arte corporal, chamamos isso de “Contexto Imediato”.

OK! Vamos parar com esse papo de menininha e vamos ter atitude de Comandante! Contexto Imediato é o que conhecemos na Aviação como Consciência Situacional (CS) e é algo para o qual somos treinados em todos os nossos voos, ainda que instintivamente. “Mais agilidade, comando!”, “Você precisa se antecipar!”, “Tem que voar à frente da aeronave!” ou “Agiliza, agiliza!” é o que mais ouvimos dos nossos INVHs nesta fase.

Pensamos que eles são Evil demais ou que nós é que somos molengas demais, mas o fato é que uma CS deficiente é responsável por mais de 80% dos acidentes, conforme pesquisa encomendada por uma grande companhia aérea. A CS é a Segurança do seu Voo e salvará a sua vida, criatura piloto!

O exercício serve para ilustrar que a CS está diretamente ligada à nossa capacidade de Percepção e aos elementos relevantes que estão ao nosso redor. Ela nos fornece as informações para compor o nosso voo, como o tráfego aéreo nos corredores ou o METAR nosso de cada dia que nos informa sobre o humor da D. Meteoro.

Está também ligada à nossa capacidade de Compreensão, por isso, temos que estudar tanto os manuais da nossa aeronave, absorvendo seu conteúdo e conhecê-la em todas as suas panes, já que nossa resposta precisa estar cada vez mais automática em qualquer situação. Isso nos leva ao terceiro elemento da cadeia: A Projeção.

Projeção é o resultado da conexão realizada entre a Percepção e a Compreensão de uma determinada situação e que nos leva a uma decisão imediata e futura padronização para a nossa segurança, por exemplo, “tocou a buzina, abaixa o coletivo” é a frase que um professor querido fez ficar até hoje se repetindo na minha cabeça.

A CS terá uma grande aliada a ser desenvolvida pelo piloto chamada de Consciência Corporal (CC) e não precisa ser adquirida no Ballet, ok? Por favor! Já combinamos isso no último texto… Mas, podemos fazer analogia com a dança sim. Afinal, todos nós sabemos que meninos classificados como “pés de valsa” fazem o maior sucesso com as meninas… Até as russas são facilmente conquistadas pelo bailar do brasileiro!

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Então, a máquina é a sua dama, tire-a para dançar e conduza-a. Saiba as suas reações, saiba observá-la… Saiba que, ao ver de lado o nosso instrumento de mais alta tecnologia: a lã vermelha, ela está pedindo para aproar o vento… “dê pedal!” Cíclico à frente vai te dar velocidade, vocês vão perder sustentação… “calça o coletivo!” O inverso é verdadeiro e o movimento é contrário.

O CC também tem a ver com coordenação motora, então, dose essa força máscula dentro de você e seja sutil! Saiba utilizar os comandos secundários e a máquina agradecerá a delicadeza. E se você não sabe o que é comando secundário, sem problemas! Volte uma casa e fique a rodada sem jogar… Estudando Teoria de Voo!

Cíclico é secundário de altitude, então se você quer subir ou descer, não precisa ficar só no Coletivo, isso exige mais da máquina, consequentemente, ela exigirá mais de você te “pedindo” Pedal… Não se esqueça de que a minha espécie é boa com exigências!

Pouca amplitude nos comandos, quando o Instrutor disser “só um pelinho”, é realmente um leve toque e você precisa saber (ter consciência) sobre o seu movimento para conseguir dosar a intensidade aplicada. Lembre-se de que gentileza gera gentileza!

Sinta, em seu próprio corpo, as atitudes da aeronave, aquele friozinho na barriga, a sensação de “G” nas pernas ou a pressão que você sente no assento são os mais clássicos. Ouça seu acionamento… Olhe para o horizonte! Assim como os seres da minha espécie, ela demonstrará suas intenções, perceba-as nas sutilezas dos detalhes… É mais do que ter pé e mão, piloto…

Perceba que estou aqui de 15 em 15 dias, hein! Pro corte, boa!

Helena Gagine 

Renato Cobel
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