Livre Pouso 11

posted in: Helena Gagine, Textos | 3

“Não é digno de saborear o mel, aquele que se afasta da colmeia com medo das picadelas das abelhas.”

O.L.A. queridos aviadores e leitores! Ouvimos muito falar sobre a Segurança de Voo, tema recorrente, importantíssimo para a nossa atividade e já iniciado aqui na LP 07. Só que hoje, inspirada por Shakespeare, quero falar sobre uma sensação que acomete não só a sua espécie, mas a minha também… É a Insegurança.

Acredito que todos nós podemos falar um pouco deste sentimento tão… tão… Humano. Tive alguns momentos destes na aviação e lembro bem como foi a primeira situação desse tipo.

Logo nas primeiras horas de PP, ainda no treinamento para o voo reto/nivelado e curvas, não sentia muita confiança que eu pudesse ter todos os comandos da aeronave em voo. O simples fato de estar no visual com as mãos ou os pés do instrutor em algum comando, ainda que somente apoiados, me tranquilizava bastante. Bastava que o INVH recolhesse os pés dos pedais para que eu desconcentrasse completamente do voo.

Acontece que tive INVHs muito bons, um em especial, que sempre me resgatou nos momentos de maior insegurança. Com um jeito bem peculiar de instrução, o que ele tem de experiência, tem de Evil! É demasiadamente crítico, mas grande provocador e motivador pela busca do conhecimento. Já apanhei muito dele, mas aprendi coisas que não aprenderia com qualquer outro INVH.

Neste primeiro episódio em que a “tropa de elite” foi convocada, ele aplicou algumas técnicas pra provocar minha autoconfiança, me fazendo ter mais consciência e atitude no voo. Disse para que eu o levasse em um passeio para que conhecesse a minha casa e eu achei aquilo o máximo, afinal, era a primeira vez que conseguiria ver o local onde eu moro de cima.

Logo no acionamento, ele já disse para que eu não me preocupasse com a fonia e que “Se até papagaio fala, você falará também”. Eu sabia mais ou menos a rota que precisava pegar e, assim que me vi familiarizada com a região, mostrando-o os pontos mais conhecidos do bairro, iniciei a busca pela minha rua e avistei meu condomínio. Neste momento, ele me pediu para efetuar alguns 360 (curvas contínuas/voltas) sobre aquele ponto.

Lembro-me que ele dizia “Onde é sua casa?” e eu dizia “Ali, naquele bloco!” e fazia outro 360 para que ele visualizasse o ponto. No último, quando ele confirmou o bloco, me pediu para pegar uma determinada proa e disse “Então, me fala, qual é a sua dificuldade para que possamos trabalhar nela hoje”. E quando olho para ele explicando que não conseguia “Voar sozinha”, eis que viro e vejo um cidadão de braços cruzados e pernas recolhidas me perguntando “Voar sozinha que nem você está fazendo nesse tempo todo?”.

Eu me vi na situação durante alguns segundos, mas simplesmente não acreditava no que estava acontecendo quando percebi que ele não estava tocando em absolutamente nada! Mas como era de se esperar, soltei uma interjeição bem típica do tipo “Eita nóis, ai meu Deus!!” e acabei, pela surpresa e susto, desconfigurando todo o voo.

E foi então que ele me passou a confiança necessária para que eu pudesse perceber que sim, eu era capaz de voar a aeronave! Depois disso, nunca mais tive medo… Ou melhor, este medo.

Vença a sua insegurança! Para estes casos, se você tiver medo… vai com medo mesmo! Uma hora ele será superado e você poderá ver que os benefícios da sua atitude estão logo ali, esperando por você…

Esta tripulação retorna em 15 dias. Pro corte, boa!

Helena Gagine 

Renato Cobel
Redes