Livre Pouso 19

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“People Makes Mistakes”

Oscar Lima Alfa, queridos leitores! A frase acima está afixada nas portas dos principais simuladores aeronáuticos no mundo e retrata bem o que somos: humanos.

Segundo números divulgados recentemente pelo IHST – International Helicopter Safety Team, pelo menos 73% dos acidentes tiveram, como um de seus fatores contribuintes, algum tipo de deficiência no julgamento do piloto. E isso nada tem a ver com experiência ou quantidade de horas voadas… Estamos falando sobre decisão, julgamento, ou, Fatores Humanos na aviação.

Trata-se de um conjunto de elementos relacionados com a interação entre o ser humano e o meio, em condições que influenciem nossa dinâmica na operação, como por exemplo, stress, fadiga, relacionamento interpessoal, condições de trabalho e, até mesmo, o próprio perfil pessoal do piloto ou comportamental sob pressão. Mas como mitigar este tipo de risco?

Assim como temos a cultura de padronização da operação aeronáutica por meio de regulamentos, manuais e publicações em geral, não poderíamos deixar de padronizar, também, o nosso comportamento. Condicionamento é a palavra da vez e deve ser utilizado como uma forma de mitigar o “risco humano”.

Enquanto criatura que vem de uma sólida carreira em RH, o que posso dizer sobre o assunto é que, psicologicamente falando, o Comportamento Condicionado, ou o Behaviorismo propriamente dito, foi proposto pelos estudiosos J. Watson e B. Skinner ainda no século passado. Ele descreve as sensações de um cachorro ao ter sua rotina de alimentação condicionada a um determinado contexto e com determinadas respostas. Entretanto, logo após ser retirado deste contexto, o cachorro continua com o mesmo comportamento anterior, padronizado e absorvido por ele como um reflexo natural do corpo, assim como quem pisca ou fecha bem os olhos diante da ameaça por um tapa, respondendo aos estímulos para o qual foi direcionado… Ou… Condicionado.

Ainda dentro do meu mundo de RH, também utilizamos tal comportamento condicionado para o treinamento de pessoas, pois, a partir do momento em que haja um estímulo, provocamos nelas uma ação desejada. O resultado disso é uma relação de aprendizagem como um reflexo condicionado, cuja reação seja automática e dependa, cada vez menos, do pensamento ou julgamento. A metodologia pode ser aplicada em diversas áreas, inclusive na aviação.

Operacionalmente falando, problemas, falta de concentração, esquecimento, enganos, confusões mentais ou nos órgãos dos sentidos são inerentes aos seres humanos. Tais fatores limitam nossa eficiência e capacidade, influenciam no comportamento e afetam diretamente a segurança das nossas operações, que já são críticas por natureza.

As pessoas não podem ser consideradas de maneira isolada de outros componentes na aeronave. Do mesmo jeito que temos seus Sistemas (elétrico, hidráulico, de transmissão), também temos o Sistema Humano, aquela pecinha que liga cíclico, coletivo e pedais – e não é o piloto automático! – que deve ser respeitado em suas limitações e condicionado, por meio de exaustivo treinamento e repetição, para que funcione corretamente e em harmonia com todos os outros sistemas disponíveis.

É Piloto… Se você chegou até aqui achando que ter a palavra Comandante junto ao seu nome é uma coisa bonita e glamourosa, experimente ser um! Exercite o seu poder de decisão antes disso. Não se é comandante só por colocar um helicóptero para voar, mas sim, pelo seu nível de tomada de decisões em todas as possíveis situações de um voo. É para isso que você existe… Condicione-se!

A mídia de hoje é um pouquinho longa, mas vale muito a pena para fins de estudo. Esses dois pilotos são mais do que Comandantes, são verdadeiros Professores! Cmte. Bosco, com toda a sua humildade, deixando seu legado para a aviação brasileira.

Livre Pouso, pro corte, boa !!

Helena Gagine
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