Mito ou verdade? A história de Vesna Vulović – Parte 2: A teoria

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Olá senhores, hoje vamos apresentar o outro lado da história sobre o acidente de Vesna Vulović. Como citamos na história passada, o laudo oficial afirma que uma bomba teria sido detonada no porão dianteiro de carga, assim matando 27 pessoas e lançando Vulović a mais de 10 km de altura.

Ainda seguindo a teoria oficial, Vesna foi capaz de sobreviver a uma queda livre, devido a uma série de circunstâncias. No momento da explosão, ela estava na parte de trás da aeronave, que foi cortada em partes, uns dos trolleys a prensou na parede impedindo-a de ser sugada para fora do avião durante a queda. A empenagem do DC-9 permaneceu intacta durante a queda, gerando dois efeitos: a de arrasto, assim reduzindo muito sua velocidade final, e a fuselagem ter protegido seu corpo da força do impacto. Além disso, quando a empenagem colidiu na encostas da montanha coberta de neve, fez com que a peça derrapasse, de modo que a desaceleração não seria brutal.

A explicação acima tem sido a mais comum dada pelos físicos, especialistas em aviação e pessoas que estudaram o acidente ao fato inacreditável que uma pessoa pode sobreviver a 10 km de queda livre. A conclusão foi: “extremamente improvável, mas não impossível”. O famoso programa “Mythbusters” dedicou um de seus episódios para o acidente, chamando-o de “Freefall Flight Attendant “. Seu veredicto foi semelhante: havia uma probabilidade infinitesimal de uma pessoa sobreviver, dependendo das condições de impacto da fuselagem onde Vesna ficou presa.

Mas o cenário descrito acima, e oficialmente aceito como verdade contradiz a versão dada por Bruno Henke, uma pessoa que viveu na área onde o avião caiu e que foi a primeira pessoa a chegar ao local do acidente. De acordo com Henke (que mais tarde teria chamado sua própria filha de Vesna, como uma homenagem a comissária), Vulović não estava na cauda, ​​mas na seção do meio do avião, logo acima das asas. Os conhecimentos médicos de Bruno (ele tinha sido um médico na Wehrmacht durante a Segunda Guerra Mundial) foram fundamentais para salvar a vida de Vesna, pois ele sabia o que fazer. Henke disse à ela que a encontrou seguindo seus gritos. Ela tinha a parte inferior de seu corpo ainda dentro do avião e sua parte superior pendurado para baixo e para fora da fuselagem. O corpo de um de seus colegas estava em cima dela. Vesna sempre acreditou na versão de Henke. Ele não tinha nenhuma razão para mentir para ela e permaneceram bons amigos até sua morte. Além disso, Vesna afirmou que segue protocolo de cabine da JAT, ela tinha que estar logo atrás do último passageiro. Como o DC-9 estava meio vazio, ela deveria ter se posicionado na seção do meio do avião.

Desafiando a versão oficial do acidente

Desde o momento em que os detalhes que cercam o acidente foram divulgados havia dúvidas razoáveis ​​sobre a sua veracidade, como afirmado pelo Státní bezpečnost (serviço secreto) e apoiada pelas autoridades iugoslavas. Por um lado, a história era muito atraente para resistir a acreditar nele e por outro lado, o segredo bem conhecido sobre qualquer coisa acontecendo por trás da Cortina de Ferro não ajudou para eventuais investigações paralelas para esclarecer o que aconteceu. Isso ajuda a entender por que a versão oficial acabou sendo aceita quase que inquestionável pelos meios de comunicação e opinião pública. Não haviam muitas provas que fizessem pensar o contrário.

E quais foram as principais contradições? Várias, e a crucial: as caixas-pretas nunca foram encontradas, ninguém assumiu a responsabilidade pelo atentado, mesmo depois de a sobrevivência de Vesna se tornar uma sensação internacional e teria dado enorme eco a qualquer causa terrorista, a Státní bezpečnost (StB) assumiu a investigação e a divulgação de informações, em vez das autoridades civis, o governo iugoslavo nunca questionou o resultado da investigação, apesar de suas falhas, nunca começou uma em paralelo, não foram feitas prisões ou acusações…

A história de Vesna havia se tornado uma espécie de conto estranho da era da Guerra Fria, um tema recorrente em programas de TV ou artigos de revistas sobre “acontecimentos incríveis”. Até janeiro de 2009, quando uma investigação realizada por um grupo de jornalistas germano-checa (Peter Hornung-Andersen, Tim van Beveren e Pavel Theiner) foi publicado na revista Tagesschau e transmitido em um programa especial na rádio alemã ARD.

O resultado de sua investigação era muito diferente da versão oficial. Ele afirmou que seria “extremamente provável” que os fatos expostos anteriormente eram apenas um disfarce para não admitir que o voo 367 foi abatido por engano, por aviões MIG da Força Aérea da Checoslováquia. A nova investigação foi baseada em evidência descoberta de documentos recentemente desclassificados marcados como “Top Secret”, tanto a Autoridade Civil Checa e do Arquivo Nacional Checa, que não estavam disponíveis antes. Fez o grupo de jornalistas levar 2 anos para publicar os resultados.

Segundo eles,  o voo 367 começou a ter problemas técnicos que conduziram a uma descida íngreme, seja para um pouso de emergência ou talvez tentando estabilizar o avião. Depois de se afastar da rota e altitude atribuídas, a aeronave foi interceptada e abatida por caças inimigos, talvez mais de um.

Mas por que uma reação tão agressiva e mortal pelos caças da Força Aérea Tcheca? Os jornalistas deram duas razões possíveis:

  • O DC-9 desviou para a área militar de alta segurança. Houve uma base nuclear soviética de mísseis muito perto de onde o avião foi abatido.
  • Sabe-se agora que a líder da URSS, Leonid Brezhnev, foi secretamente visitar seu homólogo Erich Honecker e, depois de uma conferência em Praga, o avião estava no ar e nos arredores, no mesmo momento.

De acordo com a investigação, entre os fatos que a StB escondeu, foram as declarações de várias testemunhas oculares, garantindo que o DC-9 apareceu abaixo das nuvens em chamas, mas ainda estava inteiro e, finalmente, explodiu a uma altitude de aproximadamente 800 metros. Essas mesmas testemunhas viram outro avião voando a baixa altitude nas proximidades momentos antes de desaparecer. Isso estaria de acordo com um relatório produzido por um investigador do governo iugoslavo chamado Zlatko Veres, que afirmou que a área coberta pelos destroços de avião ficou em linha com a desintegração de 600-900 metros em vez de 10.000 (a área tinha sido muito maior).

Além disso, os jornalistas dizem que a Inteligência Jugoslava sabia o real motivo do acidente, mas eles ajudaram no encobrimento sob forte pressão de Moscou (a StB foi supervisionado diretamente por Moscou e a relação Belgrado-Moscou foi muito tensa, desde que Tito decidiu dividir seu território com os soviéticos no final dos anos 40). Neste contexto o recorde de Vesna foi criado como uma distração para evitar muitas perguntas. E foi de fato um movimento bem sucedido: a reação geral foi mais focada na tentativa de explicar a sua sobrevivência impossível ao invés de investigar em profundidade os detalhes do acidente.

A Autoridade de Aviação Civil Tcheca rejeitou os resultados da nova investigação, e não fez comentários sobre as novas evidências descobertas. A alta patente no exército tcheco também rejeitou os resultados e negou qualquer acobertamento, afirmando que pelo menos 150 a 200 pessoas devem ter conhecimento sobre isso e não faz sentido que eles não estejam dizendo a verdade 40 anos depois. Um fato de apoiar a versão oficial é que o primeiro-ministro iugoslavo na época (um alvo valioso) estava programado para tomar o voo 367, mas finalmente tomou uma anterior, algo possivelmente desconhecido pelos terroristas.

As consequências para Vesna

O desafio para que acreditassem na versão oficial fez manchetes em todo o mundo questionar Vesna pelo acontecido. Em geral, ela só se manteve neutra, lembrando que desde o acidente, ela não lembra de nada, não há muito que o possa acrescentar. Ainda assim, ela acha que a nova explicação é um “absurdo nebuloso”. O Guinness, por outro lado, reagiu muito rapidamente e ela foi removida dos registros. Um representante afirmou que “parece que no momento, o Guinness foi enganado por esta fraude, assim como o resto da mídia”. Vesna acrescentou que ela não se importaria se o registro aconteceu ou nunca aconteceu, isso não mudaria nada em sua vida atual.

No entanto, Vesna participava de comemorações anuais no local do acidente, até que foram interrompidas em 2002. Ela conheceu Henke e os médicos que cuidaram dela no 25º aniversário da catástrofe. Um hotel localizado próximo ao local onde o avião caiu, passou a portar seu nome, em sua homenagem. Hoje em dia, ela continua a dar os seus pontos de vista políticos e é uma defensora do presidente Boris Tadic. Toda vez que ela é entrevistada, ela insiste que sua principal preocupação é o futuro político de seu país, afirmando que, mesmo ela tendo sobrevivido ao impossível, se os dias negros do ultranacionalismo e a guerra retornar, seu coração seria capaz de lidar com isso. Vesna se considera uma sobrevivente, mas não mais do que o resto do povo sérvio: “Nós sérvios somos verdadeiros sobreviventes. Nós sobrevivemos ao comunismo, ao Tito, a guerra, a pobreza, os bombardeios da Otan, sanções e Milošević. Nós só queremos uma vida normal. Eu só quero uma vida normal “.

Andrews Claudino