O perigo das bombas atômicas na Guerra Fria

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Durante a Guerra Fria, a maior preocupação tanto do lado soviético quanto do lado americano era um possível “ataque surpresa” do lado oposto. Assim, as aeronaves militares foram forçadas a carregar armas nucleares a bordo, para uma resposta rápida de combate. Mas você já pensou o possível perigo que essas aeronaves, armadas com bombas atômicas, poderiam trazer caso houvesse algum acidente ou até ataque surpresa?

Na hora de projetar e construir essas bombas, esta foi a maior preocupação que veio à cabeça dos cientistas. Essas bombas não deveriam explodir acidentalmente, já que isso seria uma catástrofe sem precedentes. E de fato os cientistas acertaram em cheio: muitos acidentes aconteceram com as aeronaves equipadas com essas bombas, mas nenhuma bomba veio a detonar acidentalmente.

Em janeiro de 1966, na costa mediterrânea da Espanha, perto de Palomares, aconteceu o que todos temiam: um B-52G, que transportava quatro bombas termonucleares B28, de 1,5 megatons cada, acabou se acidentando durante um reabastecimento, juntamente com um KC-135 contendo 110 mil litros de combustível.

Durante o abastecimento, o B-52 se aproximou demais e foi atingido pela bomba de abastecimento, fazendo com que a aeronave se chocasse também contra a barriga do KC-135. Este explodiu logo em seguida, matando todos os quatro tripulantes. O B-52 também explodiu, mas quatro dos seus sete ocupantes conseguiram escapar de pára-quedas antes da explosão.

Das quatro bombas nucleares que estavam a bordo, três caíram em um vilarejo pesqueiro de Palomares, e uma caiu no mar. Alguns explosivos convencionais que estavam em duas das bombas caíram e explodiram em terra, espalhando fragmentos de plutônio. Mas para o espanto dos quatro sobreviventes, não houve uma explosão nuclear a partir do B-52.

Logo em seguida, a USAAF montou uma operação para resgatar todas as bombas, incluindo as nucleares, e limpar a área. No total, três bombas foram recuperadas em menos de 24 horas após o acidente. Duas estavam completamente destruídas e outra estava intacta. A quarta bomba não foi encontrada, logo concluiu-se que esta havia caído no mar.

Por conta disso, toda a área civil foi evacuada, devido ao perigo com os resíduos de plutônio, já que este é o elemento químico mais perigoso de que se tem conhecimento. Com a explosão, 15% do plutônio, num total de 3 kg de metal pirofórico radioativo, foi espalhado rapidamente na atmosfera de Palomares.

Com muita dificuldade, após 80 dias, a última bomba perdida foi encontrada a 869 metros de profundidade e 5 nm da costa. Mas a busca só obteve sucesso por conta da ajuda de um pescador local, que testemunhou o acidente. Hoje a bomba se encontra no Museu Atômico Nacional em Albuquerque, Novo México

Após este incidente, vários países, principalmente os europeus, proibiram os voos de aeronaves portando armas nucleares sobre seus territórios. Até hoje, Palomares ainda é a localidade mais radioativa da Espanha, onde traços de plutônio podem ser encontrados em muitos dos moradores da vila.

Para não haver perdas com a falta de turismo no local, o Ministro de Informação e do Turismo da Espanha, juntamente com o Embaixador dos EUA na época, tomaram um banho de mar em Palomares, para afastar as acusações de que o local era perigoso à saúde. No entanto, muitos ainda afirmam que tal banho foi uma farsa, e que a demonstração não ocorreu em Palomares, mas sim em uma praia a cerca de 15 km de distância dali.

Andrews Claudino