Orientações profissionais sobre o RBAC-61

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Coluna de Coaching de Formação Aeronáutica – Raul Marinho / Blog Canal Piloto
Tema da semana: Orientações profissionais sobre o RBAC-61 

Caros (futuros) aviadores do Canal Piloto, Oscar Lima Alpha! 

A coluna deste mês seria sobre formação aeronáutica nos EUA, e se encontrava quase pronta (só estava aguardando algumas informações adicionais do representante no Brasil da Hillsboro Aviation, por isso que o artigo atrasou), quando fomos surpreendidos pela publicação do novo regulamento sobre licenças, habilitações e certificados aeronáuticos (o RBAC-61), ocorrida na semana passada. Então, achei que seria mais importante falar sobre este assunto agora, e deixar a formação nos EUA para depois.

Eu já fiz uma primeira leitura no novo regulamento, e publiquei um resumo das principais novidades do RBAC-61 no meu blog; e o Sales publicou aqui no Canal Piloto um artigo, focado nas alterações específicas para a licença de PP. Sugiro que todo mundo leia estes artigos, e também é interessante baixar o regulamento original para consultar os detalhes específicos que lhes interessarem. Mas, além de saber as novidades, é importante entender que consequências elas deverão ter para a formação aeronáutica dos aviadores brasileiros. Por isso, a seguir eu vou fazer um apanhado geral das principais orientações decorrentes das novidades do RBAC-61 para a formação aeronáutica:

1)      Licença de PTM-Piloto de Tripulação Múltipla: por enquanto, isso não passa de uma mera possibilidade para o futuro

Muita gente está angustiada com a inclusão da nova licença de PTM no RBAC-61, principalmente quem está prestes a começar o curso de PC. Então, para quem se enquadra nesse grupo, meu conselho é: DESCONSIDERE A EXISTÊNCIA DESTA NOVA LICENÇA POR ENQUANTO. Eu explico em detalhes porque se deve pensar assim neste momento aqui, mas resumindo é o seguinte: vai demorar muito ainda para que esta licença saia do papel e torne-se uma possibilidade prática na aviação comercial, e até lá você já se formou PP-Piloto Privado, PC-Piloto Comercial, eventualmente INVA/H-Instrutor de Voo de Avião/Helicóptero, e já está trabalhando como piloto há tempos. Então, por ora, toque sua vida como se isso não tivesse acontecido. 

2)      Instrutor de voo deixará de ser uma boa opção para “fazer horas”, e passará a ser uma alternativa de carreira profissional

Dentro de dois anos, serão necessárias mais de 300h de voo totais para obter a habilitação de INVA/H. Isso significa que não vai mais ser interessante utilizar a atividade de INVA como estratégia para obter as horas necessárias para ingressar na aviação comercial – ou ser INVH para ser viável como piloto de helicóptero (ter mais de 500h na CIV-Caderneta Individual de Voo). Para a asa fixa, restará a aviação geral para este fim; e para a asa rotativa, sobrarão somente as “atividades marginais” (ex. rastreamento de cargas) ou os helicópteros sem seguro para os novatos voarem – além de pagar para voar, em ambos os casos.

Não se sabe ainda como o mercado vai se adaptar a este novo contexto, e é muito cedo ainda para fazer apostas, mas uma coisa é certa: a instrução aérea passará a ser, finalmente, uma carreira profissional de verdade. Dentro de 4 ou 5 anos, deverá haver bem menos INVA/Hs em atividade do que hoje, e que é de se esperar que a remuneração da atividade suba. Isso deverá fazer com que a instrução deixe de ser um “bico”, para se tornar uma carreira de verdade, para a vida toda. Leve isso em consideração no seu planejamento de carreira. 

3)      O caminho até a licença de PLA-Piloto de Linha Aérea ficou mais curto, e os copilotos da aviação executiva ganham nova vida: o que isso significa?

Com o novo regulamento, os copilotos da aviação comercial passam a contar as horas de voo integralmente (no antigo RBHA-61, elas eram contadas pela metade). Isso significa que o tempo para que um copiloto possa ser promovido a comando diminuirá sensivelmente, o que vai trazer mais dinamismo à aviação comercial. E se os copilas são promovidos mais rapidamente a comando, abrir-se-ão vagas de copila mais facilmente. Por outro lado, também haverá um acréscimo na quantidade de comandantes no mercado, e a lei da oferta X demanda nunca falha: quanto maior a oferta, menor o preço do que é ofertado. Ou seja: as perspectivas salariais para comandantes não são positivas por conta desta alteração.

Já os copilotos de aeronaves single pilot da aviação executiva (ex.: King Air C90), que estavam num limbo regulatório – eles só poderiam existir formalmente se o comandante fosse INVA ou PLA, e as horas deveriam ser lançadas como duplo comando de instrução – tiveram, finalmente, sua situação regularizada. Agora, os pilotos que desempenham esta atividade podem lançar suas horas normalmente como copilotos, muito embora elas contem pela metade para fins de obtenção de licença de PLA. Isso faz com que esta opção de trabalho – copila de aeronave single pilot – fique muito mais atraente do que antes, e possa ser uma boa alternativa para “fazer horas”. 

4)      Ficou mais vantajoso realizar a formação no exterior

As regras de convalidação de licenças obtidas no exterior ficaram muito mais claras e simples no novo RBAC-61, o que abre a possibilidade de que os respectivos processos, hoje dotados de extrema morosidade (chega demorar seis meses!) sejam substancialmente mais ligeiros. Além disso, a convalidação das horas de voo agora é realmente viável (antes, era uma possibilidade teórica que ninguém conseguia obter na prática). Quem voar em escola homologada e consularizar os registros de voo (mais ou menos como “autenticar” os documentos no consulado brasileiro) poderá contar com as horas voadas no exterior no registro brasileiro. Isso acaba com a celeuma do “tem gente que aceita as horas voadas lá fora, mas tem gente que não aceita”, e facilita a vida do piloto quando ele vai obter sua licença de PLA. Na prática, essas mudanças tornaram a formação no exterior bem mais vantajosa do que antes. 

5)      Ficou mais barato obter a habilitação multimotor

Os requisitos de experiência para obter a habilitação multimotor caíram de 15h para 12h. Isso significa que o respectivo custo caiu 20%, o que é uma ótima notícia para quem está em formação. Muita gente que pensava em parar a sua formação no PC-IFR/MNTE, agora já pode pensar em estendê-la até o MLTE. 

6)      O curso de Piloto Comercial de Helicóptero passará por uma mudança profunda que talvez inviabilize a formação no país

Se você está se formando na asa rotativa, não deixe de ler este post onde eu abordo o problema da necessidade de instrução IFRH-Voo por Instrumentos em Helicóptero para obter a licença de PCH-Piloto Comercial de Helicóptero (que só vai entrar em vigor daqui a um ano, é bom avisar logo antes que algumas pessoas enfartem ao ler isso). Esta alteração deve encarecer bastante a formação dos PCHs no Brasil, e agora fica muito mais interessante realizá-la no exterior. Por isso, fique atento ao que vai acontecer com as escolas de aviação da asa rotativa no Brasil quanto à aquisição de equipamentos homologados IFRH, e as alterações legais quanto à possibilidade de checar o IFRH na modalidade “sob capota” (o que não é permitido hoje em dia); pois dependendo do que (não) acontecer, pode ser que a melhor saída seja mesmo realizar sua formação fora do país.

Bem, pessoal, as mudanças trazidas pelo novo regulamento são muito recentes, e o mercado ainda precisa compreendê-las melhor. Mas as principais implicações para quem está em formação não deverão se distanciar muito do que vai acima. Então, reflita bem sobre o que você acabou de ler para tomar as decisões mais convenientes para a sua situação. E muito cuidado com os boatos que aparecem numa hora de incertezas como a atual (vide essa história do RBAC-141 que apavorou muita gente), e confirme tudo no site da ANAC antes de tomar alguma decisão baseada em informações inverídicas.

Finalmente, gostaria de fazer o meu merchandising aqui, afinal eu também sou “filho de Santos Dumont”. Acompanhem o meu blog, o Para Ser Piloto, porque eu vou publicar uma série de posts sobre o novo RBAC-61 que será de muito interesse para vocês se manterem atualizados (na verdade, eu já comecei a fazer isso). Esses posts virão com a tag [RBAC-61] no seu início, e quando vocês virem esse sinal, parem e verifiquem se não se trata de um assunto que lhes diz respeito. Neste momento de mudanças, a informação vale ouro!

Um grande abraço para todos vocês, e até o mês que vem!

Raul Marinho.

Alexandre Sales
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