Os riscos do combate

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Qualquer piloto ou mesmo estudante de um curso para tal conhece os perigos de uma atmosfera quente e instável. Sabe o quanto é desconfortável voar em um ar assim e como isso aumenta os riscos, bem como diminui as margens para falhas. Toda a massa de ar em torno da região atingida por um incêndio fica quente, altamente instável e perigosa, algo não desejável mesmo na aeronave mais segura possível.

Durante anos, o combate a incêndios foi feito apenas por solo, através de numerosos batedores adentrando a área atingida, com suporte apenas por veículos e áreas seguras. Essa forma de combate, por si só, já guarda seus próprios perigos e riscos. Imagine então quando incluíram o voo – atividade com riscos agravados por pequenas falhas – dentro do combate a incêndio, na mesma intensidade do trabalho das equipes de solo. Uma preocupação a mais então surgiu.

Uma aeronave que voa em ar quente – e consequentemente menos denso – sofre problemas relacionados à sustentação e à capacidade de carga alar. Desse modo, as duas coisas atingem diretamente o voo de combate a incêndio, pois o avião ou helicóptero em serviço nessa tarefa precisa ter sustentação de sobra para realizar curvas a baixa altitude, além de grande capacidade de carga, nesse caso a água. Sobre uma região com intensa queimada, como dissemos antes, o ar se torna pouco denso, diminuindo essa capacidade da asa de gerar mais sustentação e levar mais carga de água. Por vezes, força o piloto a realizar manobras muito brandas e vagarosas.

Agora imagine-se em uma situação de emergência em sua aeronave, a baixa altura, com milhares de litros de água. O que você faria? Minha primeira iniciativa seria alijar imediatamente toda a água e pousar, mas como fazer isso em uma área de incêndio? Essa seria uma alternativa, se não a única, para um piloto em pane numa situação assim. Dessa forma, fica muito visível o risco envolvido num combate a incêndios por meio aéreo, seja pra qualquer tipo de aeronave.

Qualquer voo envolve estar exposto a riscos potenciais, como vimos na série de artigos passada. Mas utilizar o voo em uma situação que já possua um agravante de risco obriga a elevar o nível de perícia do piloto, de toda a tripulação ou mesmo da equipe de solo. Durante um voo de combate a incêndio, toda brigada precisa estar atenta às manobras da aeronave, coordenando todo o combate com a mesma. Perigos envolvidos à parte, o voo de combate a incêndios é, na realidade, uma mesclagem perfeita do voo em si com a perícia e a habilidade técnica de combater o fogo.

Eduardo Mateus Nobrega
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